Edição 382

A perspectiva de um ciclo de redução da taxa Selic que será marcado pelo gradualismo ao longo de 2026, com a projeção de uma taxa terminal de 12% a 13% e juro real ainda muito elevado, mantém sob controle o apetite ao risco dos fundos de pensão nas suas políticas de investimento do próximo ano.
“Em 2025 aumentamos a participação do Ibovespa em nossa carteira, o que foi uma decisão acertada. A bolsa foi o que mais contribuiu para os resultados este ano, além do CDI. Em 2026, se a taxa de juro entrar de fato em rota de queda, isso poderá ajudar a economia e a bolsa terá espaço para mais valorização”, afirma Maurício Wanderley, diretor de investimentos e finanças da Valia.
O ano eleitoral não é um ponto de preocupação, acredita o diretor. “Ano eleitoral é só mais um ano. Somos gestores de longo prazo e é importante ter uma carteira bem construída, bem equilibrada para esse horizonte de longo prazo, independente do resultado das eleições”, analisa.
É nessa linha que a política de investimentos da Valia trará em 2026 uma mudança expressiva na sua carteira de renda variável, para transformar os mandatos e estratégias de gestão ativa. “É um processo que vai mudar a cara da nossa renda variável ativa, uma estratégia que inclui diversos aspectos. Vamos ampliar o universo de gestores que oferecem gestão ativa e as estratégias para esses mandatos também vão mudar. Uma das modificações é permitir que entrem na carteira ações de empresas brasileiras listadas no exterior”, explica Wanderley. Com esse movimento, os gestores terão seus mandatos ampliados e poderão olhar esses papéis lá fora.
Muda também o tamanho da gestora e o volume de ativos sob gestão. “Queremos aumentar o número de gestores e decidimos isso a partir de nossa avaliação. Percebemos que diversas casas do mercado, que oferecem gestão ativa, estão no primeiro quartil mas não entram no nosso universo, então estamos alterando os mandatos e estratégias para obter maior eficiência nessa carteira”, diz Wanderley.
Os perfis de investimento mais longos e os ciclos de vida oferecidos na fundação já têm opções em que a renda variável chega atualmente a 60% dos recursos. Hoje, cerca de 70% desses investimentos estão em gestão passiva e 30% em gestão ativa, percentuais que podem mudar daqui para a frente. “Para os perfis e ciclos, o longo prazo já está endereçado.Também há uma parcela de 10% alocados em bolsas globais em qualquer perfil que tenha renda variável porque consideramos importante assumir o risco de forma que faça sentido para os participantes”, afirma.
Nos perfis de investimentos com prazos mais curtos,os títulos públicos e o crédito continuam a ser relevantes. “Continuamos a olhar oportunidades em crédito mas essa é uma avaliação que fazemos caso a caso porque não temos obrigatoriedade de alocar em crédito”, lembra.
A fundação também introduziu outra modificação em sua política para o próximo ano, com a oferta do segmento de empréstimos aos participantes no plano Prevaler, instituído. “ A ideia é dar maior flexibilidade, é uma decisão que vai ao encontro do planejamento financeiro dos participantes. Além disso, como investimento os empréstimos têm tido uma rentabilidade muito boa, então é um ganha-ganha”, afirma Wanderley.

Redução de risco – Na Forluz, os estudos e premissas que ajudaram a estabelecer a política de investimentos para o próximo ano levaram em conta um cenário com Selic terminal de 13% e a expectativa de alta volatilidade por conta do ambiente eleitoral, o que impõe um cuidadoso monitoramento dos mercados, mas sem grandes modificações das posições investidas em relação a 2025, explica Emilio Cafaro, diretor de investimentos e controle. “Os estudos aqui indicaram a necessidade de reduzir mais um pouco a renda variável, a alocação em imóveis e em crédito privado, ao mesmo tempo em que haverá um aumento na parcela de renda fixa voltada aos títulos públicos federais. Vamos também rodar com um caixa mais alto”, diz.
O objetivo é seguir a diretriz que orientou a política de 2025, em busca de uma carteira com menos risco. A posição reflete também as opções feitas pelos participantes. No plano de benefícios que oferece perfis de investimento, as pessoas já estão posicionadas em opções mais conservadoras. “Nunca tivemos um nível tão baixo de adesão aos perfis agressivos e moderados”, observa Cafaro. A maior parte dos participantes do plano CV está entre as opções de perfis conservador, ultra conservador e vitalício, enquanto apenas 3% optam pelo perfil agressivo e 3% pelo moderado.
“No próximo ano, vamos continuar a navegar assim para aproveitar as taxas ainda elevadas, mas ao mesmo tempo observando as oportunidades em crédito privado caso haja uma abertura dos spreads nessa classe”, afirma Cafaro. Ele lembra que além do juro alto, 2026 trará também incertezas ligadas à questão fiscal, que precisará ser endereçada seja qual for o novo governo.
Com R$ 22,1 bilhões de patrimônio total, a fundação mantém 83% dos ativos do seu maior plano, de Contribuição Variável (CV), alocados em renda fixa, sendo que apenas 1% dessa classe está em crédito privado. “Já houve uma posição bem maior em crédito, mas aproveitamos a abertura dos spreads em 2024 para desfazer essa posição porque a relação risco/retorno deixou de ser tão eficiente”, diz.
No exterior, a entidade está rebalanceando sua estratégia também com o objetivo de reduzir exposição, que está em 3% dos ativos. Há cerca de 4% em multimercados e uma posição menor em renda variável. A política tem espaço para eventuais movimentos de maior alocação em crédito privado, desde que os spreads voltem a ficar atrativos. “Podemos fazer um rearranjo se as condições forem interessantes, mas em 2026 é o juro que segue pagando a conta”, diz.
A renda fixa hoje está composta em grande parte por NTN-Bs marcadas na curva no plano CV e principalmente no plano BD. A entidade fez uma compra expressiva de títulos públicos em 2024, com taxas muito acima das metas atuariais. “Este ano devemos bater as metas em todos os planos, com uma gordura razoável”, afirma Cafaro.
Na parcela de recursos do plano CV que estão fora dos títulos marcados na curva, os investimentos estão bem diversificados, acredita o diretor. “O percentual de crédito é pequeno mas diversificamos a alocação por emissores. Na classe de fundos de investimento imobiliário (FII) temos três fundos bem diversificados e, na classe de multimercados há diversos fundos e acompanhamos de perto a alocação de cada estratégia”, detalha.
“A macroalocação é feita por meio da nossa estrutura de fundos, daí a importância de um processo de seleção que foi bem estruturado e é bem acompanhado, com diligência”, afirma Cafaro. Já há veículos aprovados e estratégias preparadas, com nove fundos de renda variável e nove multimercados. Hoje há um total de 30 fundos alocados, a maioria deles no formato fundos de fundos (FoF), mas ainda há espaço para alocar mais. Essa estrutura também busca diversificar com a seleção das melhores casas gestoras e custos competitivos.
Na renda variável, a entidade seguirá olhando possíveis oportunidades em 2026, porém para fazer posicionamentos menores. “Em 2025, aproveitamos o desempenho da bolsa e o alpha obtido em relação ao Ibovespa para realizar lucro e reduzir um pouco o tamanho da posição”, diz.
Ele explica que o plano de Benefício Definido (BD) já reduziu o que tinha em fundos de ações, aproveitando as taxas dos títulos públicos para imunizar o seu passivo e hoje tem uma posição apenas marginal nessa classe. Além disso, há pequenas posições em crédito privado, fundos multimercados e um percentual de 8% na carteira própria de imóveis. “Vamos buscar desinvestir em imóveis, mas esperamos por uma melhor janela de mercado para fazer isso”, diz. A entidade não tem pressa porque não tem problemas de liquidez, lembra o diretor, e já vendeu os imóveis de menor porte.

ESG em todas as classes – A perspectiva de maior volatilidade nos mercados por conta do ambiente eleitoral manteve a política de investimentos aprovada pela Prevcom-SP para 2026 na posição mais conservadora, que aliás já marcou o ano de 2025 na maioria dos planos. Isso significa continuar com uma dose elevada de renda fixa, que atualmente responde por 85% dos recursos totais da entidade, e pequenas parcelas de recursos em outras classes, como os fundos imobiliários, investimentos no exterior e renda variável. “Não propusemos aumentos relevantes ou exclusões nessas classes de risco mais elevado, hoje com 3% em renda variável, 3% em exterior e 2% em fundos imobiliários”, diz Francis Nascimento, diretora de Investimentos.
Não houve mudanças estruturais na política e não haverá incremento nas classes de risco uma vez que o cenário eleitoral exige um campo maior de cautela. Os resultados da concentração na renda fixa ficam visíveis na rentabilidade obtida este ano até agora, com retorno de 130% acima da meta atuarial. “O desempenho da bolsa também ajudou e as outras classes em geral não prejudicaram este ano, como no caso dos fundos imobiliários, que haviam tido resultados desfavoráveis em 2024”, explica.
Com um patrimônio total de R$ 4,6 bilhões e um fluxo mensal que continua positivo, a entidade deve direcionar para a renda fixa todos os novos recursos que entrarem nos planos em 2026. Essa expansão, que é de 13% ao ano somente por conta da arrecadação, garante portanto um crescimento orgânico para a renda fixa.
Nessa classe, uma parcela de 15% dos ativos está alocada em crédito privado, com liquidez alta (D+1 no máximo) e ativos high grade, de baixo risco. “O crédito privado continuará a crescer de modo orgânico, portanto, junto com a renda fixa total. Além disso, mantivemos a diretriz de preservação dos fundos de crédito que seguem critérios ESG (responsabilidade ambiental, social e de governança)”, afirma Nascimento.
Entre os oito fundos, dois seguem os princípios ESG – um deles é da BNP Paribas Asset Management e outro da Sul América Investimentos – e representam 40% do total investido pela entidade em crédito. “Construímos essa carteira para poder comparar os resultados dos fundos ESG e percebemos que na prática a nossa alocação conseguiu escapar do impacto dos últimos eventos de crédito justamente porque esses fundos seguem critérios mais rigorosos de governança e de responsabilidade ambiental”, diz Nascimento.
O investimento baseado em princípios de sustentabilidade, aliás, é um alvo relevante para a Prevcom, que já aplica o modelo a todas as classes de ativos, inclusive na renda variável no exterior, e começa agora e estudar sua adoção também no mercado de ações local. “Além disso temos o ESG presente num fundo de investimentos imobiliários (FII) e no fundo de investimento em participações (FIP) que segue o modelo de impacto ESG”, diz.