Maior demanda por executivos financeiros

Edição 61

A indústria de gestão de recursos de terceiros está aumentando a
demanda por profissionais, mas exige deles ótima formação e
especialização

O processo de privatização, a multiplicação dos fundos mútuos, a
proliferação de novos produtos na área de previdência privada e de
consultoria de investimentos conjugaram-se nos últimos anos para
impulsionar a carreira do gestor de recursos, que num arroubo anglicista
alguns insistem em chamar de asset manager. A demanda por esse tipo
de profissional do setor financeiro está bastante aquecida, sendo um
sintoma disso a rápida recolocação dos executivos do Banco FonteCindam,
que foi liquidado pelo Banco Central.
“É um mercado fantástico, muito disputado”, diz o sócio da KPMG
responsável pela área de Executive Search, Isaías Feigenson. “Está
havendo uma demanda bem maior de executivos para esta área porque a
indústria está crescendo, está passando por grandes mudanças e tudo
acontece numa grande velocidade”, salienta Ferdinando Ducca, recrutado
juntamente com outros três executivos do mercado para compor a
diretoria profissionalizada da Fundação CESP. O trabalho do grupo na
fundação, recém iniciado (eles tomaram posse no dia 15 de março), está
sendo acompanhado com atenção pelo ineditismo. “É uma carreira em
ascensão”, ressalva Winston Pegler, presidente da Ray & Berndtson, uma
das maiores empresas internacionais de seleção e recrutamento de
executivos.
Segundo ele, a tendência da indústria é buscar especialistas e isso
implicará num número cada vez menor de candidatos aptos a preencher
os requisitos. No momento, porém, a demanda ainda tem muito de
substituição de profissionais de antiga formação por novos talentos. “Está
havendo uma depuração do mercado, de substituição de profissionais que
se intitulavam asset managers mas que na verdade apenas cuidavam de
carteiras, muitas vezes de umas poucas ações, de maneira, digamos,
oportunista”, afirma Pegler.
O presidente da Ray & Berndtson acredita que esse processo
de “depuração” perdure, paralelamente a uma maior procura por
profissionais de administração de ativos, de fato. Na sua avaliação, a
demanda por este tipo específico de executivo deve aumentar em torno
de 15% nos próximos doze meses. “Muitos que fizeram dinheiro foi na
base da sorte, da oportunidade, de aspectos não ortodoxos em gestão de
recursos”, sublinha.
A experiência recente de Adelaide Du Plessis, sócia vice-presidente da DPS
Consult, que centrou seu foco no mercado financeiro e, dentro dele, na
busca de profissionais para operações e fundos de private equity, confirma
a avaliação de Pegler. Ela também aposta em uma demanda crescente
por especialistas. Em 1995, a DPS trabalhou duas contratações, no ano
seguinte apenas uma, e em 1997 duas novamente. No ano passado, até
estourar a crise russa, a consultoria trabalhou oito contratações e neste
ano, até junho, estava trabalhando 22 posições para fundos/operações de
private equity.
“Temos três áreas principais de ‘garimpagem’: as consultorias,
especialistas em fusões e aquisições e executivos que já tenham
conduzido processos de reestruturação de empresas”, detalha Adelaide. A
DPS restringe ainda mais a busca para as empresas buscando executivos
que tenham experiência no mesmo setor. “Se é diretor financeiro de fast
food, a busca é dentro das empresas de fast food”, diz ela, que enumera
tecelagem, tecnologia, saúde, franquias, editorial, cosméticos, hotelaria e
finanças como os setores para onde está correndo o dinheiro de private
equity. “Internet é um nicho que também vai crescer”, aposta.

Talentos – Feigenson, da KPMG, também observa que os novos
participantes do mercado que estão aportando no Brasil vêm em busca
dos melhores talentos. Ainda assim, em alguns nichos acabam sobrando
executivos, porque a empresa muda ou centra o foco do negócio, ou
porque os profissionais têm dificuldade em se adaptar às novas
conjunturas. “Ocorre muito de, no topo das organizações, se trocar três ou
dois executivos por um”, observa Feigenson, que recentemente esteve
atrás de um executivo principal para um banco de investimentos. Foi uma
seleção super-rigorosa. De 20 a 30 candidatos, só dois chegaram ao fim
do funil, ambos bem posicionados.
“Antes de qualquer outra coisa, é fundamental o aspecto da ética na
escolha de um executivo de alto escalão”, enfatiza Feigenson. “Se houver
a mínima dúvida sobre como o profissional agiu no passado, está
queimado. Em seguida, interessa a capacidade analítica, ser qualificado
para apreender cenários de curto, médio e longo prazo, do Brasil e
mundial, e facilidade de lidar com números, para tirar suas próprias
conclusões. Depois, facilidade de contato com círculos governamentais,
para identificar focos estratégicos do governo”, completa.
O rigor é cada vez maior também na base de recrutamento, no chamado
entry level. “Além do recrutamento de estagiários nas faculdades de
primeiríssima linha, o estágio e o treinamento em empresas como a
KPMG, ou multinacionais bem estruturadas ou bancos nacionais com área
de administração de recursos de terceiros, são indicações importantes
para o selecionador”, ensina.

Mudança na fundação CESP
Muito provavelmente a Fundação CESP não foi a primeira a contratar
profissionais do mercado. Mas dificilmente haverá alguma fundação desse
porte cujos diretores, todos eles, só tenham sido apresentados uns aos
outros no dia mesmo da posse.
“O que está acontecendo na Fundação CESP reflete o que ocorre no
mercado: a tendência de maior profissionalização no gerenciamento de
ativos, em geral, não apenas no caso das fundações. Por isso, está todo
mundo de olho na gente”, conta, sorridente, o ex-Citi José Ferdinando
Ducca, novo diretor presidente do terceiro maior fundo de pensão do País.
“Está havendo uma demanda bem maior de executivos para esta área
porque a indústria está crescendo, está passando por grandes mudanças
e tudo acontece numa velocidade muito grande”, salienta Ducca, que
trocou sua carreira de 28 anos no Citi (ele entrou logo após deixar a
Faculdade de Administração da USP), onde estava envolvido com o
processo de privatização e financiamento de companhias energéticas, pela
Fundação CESP.
A privatização foi um marco primordial no novo desenho dos fundos de
pensão. Privatizadas, as patrocinadoras passaram a rever os programas
de benefícios, buscando maior eficiência e custos menores. “A privatização
desencadeou uma profissionalização maior”, lembra Ducca. “O
gerenciamento que vinha das próprias provedoras teve de se adaptar à
tecnologia de gerenciamento dos fundos mútuos.”
Paralelamente, as companhias privadas começaram a dar maior atenção
aos fundos de pensão e programas de benefícios que complementassem
a previdência oficial. “Elas passaram a ver as entidades de previdência
como ferramenta. Hoje, uma empresa que não tenha fundo de pensão
não é competitiva”, considera o presidente da Fundação CESP.
Agora mesmo, está surgindo a segunda onda de revisão das entidades
cujas patrocinadoras foram privatizadas. Em vários casos, e o da CESP é
um deles, a privatização desmembrou algumas empresas e/ou criou
outras. A Fundação que Ducca dirige é, hoje, uma multipatrocinada da
qual participam sete companhias: a própria CESP, a Elektro, CPFL,
Eletropaulo Metropolitana, EBE, EMAE e EPTE. O modelo nela adotado pode
servir de paradigma para outras fundações de estatais que sofreram
privatização, fusões e cisões. “Penso que a Sistel, com trinta empresas,
também deverá passar por uma profissionalização e constituir fundos
multipatrocinados”, avalia Ducca.
Mas o leque das variações não acaba aí. A indústria de fundos mútuos de
investimento e de fundos e planos de aposentadoria e pecúlio também
precisa estar lançando sempre novos produtos, adaptando-se às
diferentes classes de consumidores. “Temos de pensar nosso programa
de investimentos em cima do perfil previdenciário das massas.
Obviamente, há diferenças substanciais entre massas jovens e uma
massa mais madura. E tem a parte da crescente competição, com todo
mundo ofertando produtos os mais diversos”, sustenta Ducca.
Esse mosaico de consumidores e produtos, sem falar na segmentação por
atividades (gestão de investimentos, análise de riscos, supervisão de
carteiras, custódia, precificação, etc.), abre um campo novo e crescente
para executivos financeiros. “Vai-se precisar de muita inteligência para
fazer a gestão dos fundos de pensão”, resume Ducca.