Edição 61
Empresas trocam os planos próprios por planos multipatrocinados ligados
a instituições financeiras
A conjuntura econômica instável, o aumento da concorrência e o
surgimento do PGBL dificultaram a vida dos planos multipatrocinados
neste primeiro semestre de 99. Não fossem os inúmeros casos de
empresas que estão decidindo retirar o patrocínio dos fundos de pensão
próprios e migrar para fundos múltiplos, a situação estaria mais
complicada. Das seis novas patrocinadoras que entraram no fundo do CCF
neste ano, quatro são provenientes de entidades fechadas já existentes.
O Multipensions, fundo multipatrocinado do Bradesco, recebeu a adesão
de duas empresas que participavam de outros fundos de pensão.
O fundo do Bradesco já entrou com pedido na Secretaria de Previdência
Complementar (SPC) para obter autorização de absorver os participantes
e recursos do plano da TAM Regional, que estavam no fundo de pensão
Aerus. Três empresas do Grupo TAM já possuíam, desde o ano passado,
planos de previdência com o Multipensions. Agora, a principal empresa do
grupo, com cerca de 3.000 funcionários, também está migrando para o
multipatrocinado do Bradesco. “Cerca de 60% das propostas que estamos
negociando atualmente são de empresas que pensam em sair dos fundos
próprios”, explica Jair de Almeida Lacerda, gerente do Multipensions.
O multipatrocinado do Bradesco recebeu também a adesão da MRS
Logística, que representou a entrada de mais 3.500 participantes. Esta
empresa foi constituída no processo de privatização da Malha Ferroviária
Sudeste e seus funcionários participavam do plano de benefícios da Refer.
Assim como este caso, há 20 outras empresas, a maioria de pequeno
porte, que já possuem planos com entidades próprias e que estão
estudando a adesão ao Multipensions, conta Lacerda.
As reestruturações societárias provocadas pelas privatizações e pelos
processos de fusão, cisão e aquisição estão gerando uma série de
mudanças nas patrocinadoras dos fundos de pensão. “A entrada de novos
controladores, em geral, provoca a concentração do foco na atividade
principal das empresas e, por isso, é acentuada a tendência de retirada de
patrocínio dos fundos de pensão próprios”, explica Rogério Aguirre, diretor
do CCF Multipatrocinado. O problema da solidariedade dos passivos
também influencia a decisão do novo controlador que quase sempre está
disposto a diminuir os riscos do novo negócio.
O Mercer MasterTrust (MMT), fundo multipatrocinado da William M. Mercer,
também está registrando a tendência de migração das patrocinadoras das
entidades fechadas próprias. Das sete patrocinadoras do fundo, quatro já
participavam de planos de outros fundos de pensão. A mais recente
adesão ao MMT, a PPG Autotintas mantinha um plano de benefícios com a
AKZOprev.
As outras duas empresas que aderiram ao MMT neste primeiro semestre
de 99 ainda não possuíam planos de previdência. Ambas pertencem ao
Grupo Ajinomoto (ver edição n° 59).
Abaixo das expectativas – “A sensação é que 1999 só começou realmente
a partir de abril”, ilustra Pedro Guerra, diretor executivo do Multiprev,
fundo multipatrocinado do SSB Citi. Enquanto o ano “não começava” de
fato, o fundo do Citi aproveitou para finalizar um processo de
reestruturação em seu sistema de administração de ativos. Agora, as
patrocinadoras já podem escolher outros gestores além do SSB Citi para
administrar os recursos do plano de benefícios. Se optarem pela empresa
de asset do Citi, podem escolher entre três perfis de carteira com
diferentes composições entre a renda fixa e variável.
O Multiprev conseguiu a adesão de duas novas patrocinadoras no primeiro
semestre do ano e possui negociações avançadas com outras três
empresas que estão estudando a possibilidade de sair de fundos de
pensão. A meta para o segundo semestre é ampliar o patrimônio de R$
60 milhões para mais de R$ 100 milhões.
A conjuntura econômica também está atrapalhando os planos da BB
Previdência, fundo multipatrocinado do Banco do Brasil, que apresenta
uma meta audaciosa de quintuplicar seu patrimônio até o final do ano.
Por enquanto, as reservas do fundo já saltaram de R$ 30 milhões para
cerca de R$ 50 milhões no primeiro semestre de 99. Houve a entrada de
seis novas patrocinadoras, com destaque para a Embraer, que
representou a entrada de mais de 6 mil novos participantes para o
multipatrocinado.
O novo diretor superintendente da BB Previdência, Ivan Diniz Oliveira,
promete a adoção de uma estratégia comercial bastante agressiva junto
aos clientes do próprio Banco do Brasil. O público alvo é formado pelas
mais de 50 mil empresas de médio porte que utilizam os serviços do
banco. “Pretendemos entrar em contato direto com cerca de 10% das
empresas de tamanho médio que têm contato com a rede do Banco do
Brasil”, afirma Oliveira.
Os resultados deste trabalho devem retornar em termos de novas
adesões no ano 2000. Mas até o final deste ano já se espera a entrada
de pelo menos mais 10 patrocinadoras na BB Previdência. O fundo já
entrou com pedido de criação de dois novos planos e está na fase final de
negociação com outras duas empresas. O objetivo é fechar o ano com um
patrimônio de aproximadamente R$ 150 milhões.
Mudança de estratégia – O CCF Multipatrocinado continua líder
incontestável de mercado. O patrimônio de R$ 850 milhões e o conjunto
de 157 patrocinadoras coloca o fundo no grupo dos vinte maiores do país,
bem a frente de qualquer outro multipatrocinado. Mas o aumento da
concorrência nos últimos dois anos tem provocado uma mudança de
estratégia do CCF no ramo de previdência. A instituição tem procurado
diversificar os produtos oferecidos ao mercado e, além disso, vem
desenvolvendo cada vez mais a função de consultoria de previdência para
as empresas.
“Procuramos mostrar aos clientes, que estão interessados em constituir
um plano de benefícios, todas as opções existentes atualmente no
mercado”, conta Luiz Carlos Sorge, diretor comercial de previdência do
CCF. Ele explica que, no primeiro momento, as empresas não são
induzidas para um produto específico. Só depois de analisadas as
necessidades do cliente, recomenda-se a opção por um determinado
veículo previdenciário que pode ser, tanto um multipatrocinado, como um
plano aberto tradicional ou PGBL ou até mesmo um fundo fechado.
Um dos produtos que começa a concorrer com o próprio fundo
multipatrocinado é o PGBL. Apesar de possuírem diferenças marcantes, as
empresas que estão estudando a criação de um plano de previdência,
começam a prestar mais atenção para o novo produto. “O mercado
brasileiro está caminhando para uma convivência mútua entre os fundos
fechados e os PGBLs, assim como ocorre nos Estados Unidos”, explica
Rogério Aguirre.
Se a empresa quer um plano com caráter mais financeiro e que permite
maior liberdade em termos burocráticos, o PGBL é uma opção
recomendada, explica o diretor do CCF Multipatrocinado. “Se a intenção é
criar um plano de caráter mais previdenciário, de longo prazo, então a
melhor ferramenta é o multipatrocinado”, diz. Fatores como o custo, o
risco e o tipo de plano também influem decisivamente na opção da
empresa.