Assets estreiam em ETFs

Edição 380

“A intenção é lançar ao menos um novo ETF por mês no mercado, e um pouco mais à frente uma pequena área de distribuição para terceiros dedicada exclusivamente aos fundos de índices”, explica Bruno Stein, da Galapagos

Atraídas por um mercado em franca expansão, companhias de investimento lançaram ao público nas últimas semanas seus primeiros ETFs (Exchange Traded Funds) – os fundos negociados em Bolsa que se propõem a replicar um índice de mercado -, com o foco voltado em um primeiro momento à renda fixa.

Com o apelo de um custo mais baixo na comparação com os fundos de investimento tradicionais, as iniciativas buscam capturar a demanda de investidores altamente concentrada nos últimos meses nos prêmios polpudos dos títulos públicos e privados, na esteira dos juros altos do BC (Banco Central).

Companhia de investimentos com cerca de R$ 32 bilhões em ativos sob gestão, a Galapagos Capital lançou no início de outubro o GLFT11, ETF lastreado em LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), trazendo o executivo Bruno Stein para liderar a nova área, enquanto a Genial Investimentos iniciou no segmento com o GICP11, novo ETF cujo foco é voltado ao crédito privado.

Segundo Bruno Stein, executivo sênior com passagens por BlackRock, Itaú Asset, AllianceBernstein, Global X e Safra, mudanças regulatórias promovidas recentemente abrem uma avenida de crescimento para os ETFs nos próximos anos no mercado brasileiro, em especial àqueles que exploram as oportunidades na renda fixa.

“Faz só cinco anos que os ETFs de renda fixa foram liberados no Brasil. E o Brasil é um país de renda fixa, primordialmente”, afirmou o executivo.

Dados da B3 mostram que o patrimônio total da indústria de ETFs no país passou de aproximadamente R$ 38 bilhões, em 2020, para 65 bilhões, até agosto de 2025, representando um crescimento de 71% em cinco anos.

Já os ETFs dedicados à renda fixa local saltaram de um patrimônio de R$ 8,3 bilhões em agosto de 2024 para R$ 14,8 bilhões em agosto de 2025, representando um crescimento de 78,3% num intervalo de apenas 12 meses.

Stein acrescentou que a implementação da Resolução CVM 179, que altera a forma de remuneração dos assessores de investimento, também pode dar sua contribuição para a expansão dos ETFs entre os investidores brasileiros. A nova legislação incentiva o modelo em que os assessores são remunerados diretamente pelos clientes a partir de uma taxa de gestão sobre o patrimônio (“fee based”), e não com base em taxas de rebate dos fundos, tornando os assessores mais dedicados à eficiência de alocação do portfólio, assinalou Stein.

“A ideia é entrar nos negócios que são a evolução natural do mercado financeiro”, afirmou o executivo da Galapagos, em referência ao nome da gestora, inspirado na teoria da evolução de Charles Darwin.

De acordo com o executivo, o objetivo em um primeiro momento é posicionar a companhia como uma provedora de ETFs para alocadores com quem a companhia já tem relacionamento, como gestoras de patrimônio e multi-family offices. “Vamos lançar produtos que resolvam problemas reais dos clientes”, afirmou Stein. O lançamento do GLFT11, por exemplo, veio a partir de uma demanda interna de clientes para resolver uma necessidade de gestão de liquidez, aproveitando-se do fato de o produto não ter a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para resgates em prazos inferiores a 30 dias, com uma alíquota única de 25% de IR (Imposto de Renda) sobre os rendimentos. A taxa de administração é de 0,19% ao ano.

“Montamos um produto diferente do que existe no mercado. Ele tem um rebalanceamento semestral, para diminuir o custo de transação, e faz um mix entre LFTs um pouco mais curtas e um pouco mais longas, para poder capturar prêmio e, ao mesmo tempo, não ter volatilidade acima do que é adequado para um produto de caixa de curtíssimo prazo.”

Stein disse ainda que a intenção é lançar ao menos um novo ETF por mês no mercado, com o plano de ter, um pouco mais à frente, dentro da própria Galapagos, uma pequena área de distribuição para terceiros dedicada exclusivamente aos fundos de índices.

ETFs de criptoativos, ativos internacionais e temáticos são alguns dos possíveis novos lançamentos que estão sendo discutidos pela gestora. Novas opções de índices de renda variável, alternativas ao Ibovespa, também estão nos planos.

“Nossa expectativa é que o mercado de ETFs ainda vai multiplicar por dez vezes nos próximos três anos. Temos a ambição de conseguir um tamanho relevante nesse mercado”, afirmou o executivo.

A meta da Galapagos é alcançar entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões em ETFs até meados de 2028. Além de Stein, a nova área de ETFs da Galapagos conta também com Vítor Batista, ex-Safra e Global X.

Prazos mais longos – Na Genial Investimentos, plataforma que soma cerca de R$ 250 bilhões em ativos sob custódia, a opção foi por estrear no mercado de ETFs de renda fixa por meio da estratégia de crédito privado, após um estudo de cerca de seis meses conduzido em parceria com a consultoria Teva Índices. A partir desse trabalho, nasceu o Genial Teva Debêntures DI Quality High Beta Fundo de Índice, dedicado a ativos do tipo “high grade” (grau de investimento).

O novo produto já chega ao mercado com um patrimônio inicial de cerca de R$ 34 milhões. Segundo estudo retroativo realizado com base na carteira do índice, se o fundo existisse o seu retorno teria sido de 48,51% em três anos, até setembro, ante 42,77% do CDI.

O ETF da Genial é composto por 99% de debêntures e 1% de LFTs. Os setores de maior representatividade no portfólio são: Óleo e Gás (13,74%), Geração de Energia (12,32%) e Saneamento (10,78%). A taxa de administração é de 0,50% ao ano.

Rafael Zlot, da Genial: mercado começou com o foco em S&P e Ibovespa, mas próxima etapa consiste na criação de novos índices

CIO de renda fixa da Genial, Rafael Zlot afirmou que o lançamento do novo produto vem para complementar a prateleira de produtos da corretora disponíveis aos clientes. “A ideia é ter um produto com um pouco mais de risco e uma gama maior de ativos”, disse Zlot.

Segundo ele, o ETF foi concebido tendo em sua composição papéis de “durations mais longas” do que historicamente costumam estar na carteira dos fundos da casa. O prazo gira em torno de três anos e meio, embutindo maior volatilidade e expectativa de retorno.

Além disso, enquanto a maioria dos fundos mais convencionais de crédito privado da Genial tem uma carteira que oscila entre 30 e 40 papéis, o ETF deve ter de 70 a 80 ativos.

“As pessoas estão se familiarizando com esse produto que é o ETF, que já é muito comum no exterior. Aqui, começou principalmente com fundos de S&P 500, de Ibovespa, mas agora acho que a gente parte para uma nova etapa, de criar índices”, afirmou Zlot.

Segundo ele, após episódios pontuais de volatilidade relacionados a papéis das Americanas e da Light, o mercado de crédito privado tem apresentado uma relativa estabilidade, mas ainda com a manutenção em um patamar alto dos juros e acima dos títulos públicos, atraindo a atenção de investidores.

O CIO de renda fixa da Genial afirmou que a expectativa de curto prazo é de continuidade do cenário recente, com pequeno espaço para mais algum leve fechamento das taxas.

“O produto tem um valor baixo de cota [R$ 10 no lançamento], o que chama a pessoa física. Mas acho que serve para qualquer participante do mercado”, disse Zlot. “Todo mundo quer ter crédito privado.”