Oportunidades em novos cenários

Edição 380

“Diante do cenário de aperto monetário de 2024, mantivemos posições muito pequenas em bolsa brasileira ao longo do ano”, diz Sylvio Castro, head de global solutions e FoFs do Itaú

A  BB Asset fechou os primeiros seis meses do ano com crescimento de 8% e 6% no volume de recursos provenientes de fundos de pensão e RPPS, respectivamente, segundo o ranking Top Asset. Para o gerente executivo de renda fixa e câmbio da asset, Isaac Marcovistz, a expansão está muito vinculada à elevação de taxas de juros e ao apetite por papéis indexados à inflação, com juro real elevado. “Com as taxas acima da inflação e acima das metas atuariais dos planos de benefícios, as EFPC e os RPPS têm um colchão de segurança importante e bem alinhado às suas metas”, diz Marcovistz.

O momento mais forte de interlocução com os RPPS foi o vencimento das NTN-Bs em maio de 2025 e ao seu alinhamento entre ativos e passivos. “Mas alguns clientes do segmento também estavam interessados em estruturas atreladas ao CDI porque com a depreciação do dólar frente a outras moedas, a valorização do real e a suavização da pressão dos preços de alimentos sobre a inflação, a estratégia em CDI consegue gerar alpha para as fundações e para os RPPS em momentos mais estressados do mercado”, diz.

Além disso, essas estratégias podem também capturar a perspectiva de mudança de cenário já que fica mais ágil e fácil fazer mudanças de rota com alocações atreladas ao CDI. Se o fundo de pensão ou o RPPS quiser ampliar sua carteira de renda variável, de multimercados ou de exterior, por exemplo, é mais rápido fazer isso a partir do CDI.

No caso dos RPPS, há um trabalho importante de alinhamento de ativos e passivos assim como decisões que permitem capturar oportunidades de retorno acima das metas. “Temos visto muito isso e também estratégias que deixam o nível de caixa um pouco mais livre para aproveitar oportunidades, principalmente no caso dos RPPS”, afirma Marcovistz.

Atualmente, o Banco Central caminha para ancorar o nível de expectativas de inflação e por esse motivo a taxa Selic não deve recuar já em 2025, segundo projeta a asset. Por conta dessa ancoragem e também pela questão da bandeira tarifária em energia, assim como fatores climáticos e os eventuais sobrepreços dos grãos, não há espaço para projetar a queda do juro este ano. “Em 2026, com o alinhamento de preços mais visível, será possível ter uma redução já a partir de janeiro com cortes de 0,25% e Selic terminal de 12,5% ao final do ano, em patamar ainda relativamente alto”, estima.

Nesse nível de juro, o movimento na direção dos mercados de risco não deveria ser muito maior do que é hoje, pondera o gestor, mas faz sentido que haja movimentos de ajustes para antecipar e capturar resultados positivos de forma tática nos portfólios.

“No segmento de RPPS temos conseguido crescer e sustentar essa posição. A asset, assim como o banco, tem uma área dedicada ao governo e aos RPPS, inclusive com um programa de visitas, treinamento e qualificação profissionais”, explica.

A expectativa em relação à nova regulação para os investimentos dos RPPS é de que ela traga um arcabouço regulatório muito próximo da regulação das entidades fechadas de previdência complementar e amplie o leque de investimentos, diz Marcovistz.

No caso das EFPC, a principal demanda hoje é por estruturas que alinhem ativos e passivos e mais carteiras de NTN-B. “Mas há também uma equipe bastante ativa de um a dois anos para cá, trabalhando junto ao time de relacionamento no atacado para crescer no segmento”, diz.

Cautela e soluções globais – Criada para integrar asset allocation, construção de portfólios e mandatos para clientes, a área de soluções de investimento da Itaú Asset Management faz a gestão dos mandatos exclusivos dos institucionais e a gestão de portfólio e de fundos exclusivos para os clientes de private banking, reunindo vários segmentos sob o mesmo guarda-chuva, inclusive o internacional, explica Sylvio Castro, head de global solutions e FoFs. “Todos os fundos exclusivos estão conosco, sendo que 60% do total sob gestão é de institucionais, incluindo terceiros e clientes internos”, diz.

Além de RPPS e fundos de pensão, a asset também faz a gestão de recursos das empresas patrocinadoras de EFPC, já como clientes de corporate. “Recentemente, na virada do ano, passamos a ter também sob a nossa responsabilidade as estratégias para as pessoas físicas, no comitê de investimentos globais, isso na alta renda mas também para prover ideias de investimento que permeiam toda a plataforma”, conta Castro.

Desse modo, toda a tecnologia aportada na gestão dos mandatos institucionais passou a ser aplicada aos investimentos das carteiras administradas para os clientes pessoa física.

O time da área foi muito bem sucedido, avalia Castro, ao compreender que a equipe do Banco Central tinha de fato um compromisso para ancorar a expectativa de inflação. “Mantivemos posições muito pequenas em bolsa brasileira ao longo de 2024 diante do cenário de aperto monetário, e passamos o primeiro semestre deste ano com uma carteira mais conservadora, com poucas NTN-B e pouca bolsa no início do ano, mas a carteira veio para posições mais neutras em bolsa ao longo do ano, diz.

“A visão na renda fixa era conservadora mas os mandatos de ALM precisavam focar mais em janelas de médio prazo. Nos mandatos de retorno absoluto, voltamos a aplicar em juros pré-fixados e com posições que se beneficiassem da inflação em queda”, explica. Hoje as preferências táticas na renda fixa refletem o período mais atrativo para essa classe, em que termina o aperto monetário mas ainda não teve início o ciclo de afrouxamento, favorecendo os ativos prefixados. “Se o BC fizer convergir a inflação para dentro da banda, o retorno esperado tende a ser neutro, então mantemos uma postura mais neutra em CDI, IMA-B e mais arrojada em prefixados”, afirma.

Em relação ao mercado de crédito, a postura foi mais conservadora na exposição líquida à classe e continua assim hoje, mas com posições menores. Em renda variável, a estratégia foi combinar posições ativas e passivas que tendem a trazer retorno excedente nesse cenário.

Sempre que os mandatos da área permitem, a asset vai buscar diversificação internacional, até porque o Ibovespa e o S&P são índices quase espelhados e combinar exposições aos dois traz um aumento grande dessa temática nas carteiras. “Temos proposto isso porque a despeito da bolsa brasileira estar barata, em determinados setores é importante ter essa alocação”, diz.

A área mantém equipes em Nova York e Miami exclusivamente para construir portfólios e fazer seleção de gestores internacionais. O grande usuário de asset allocation global sempre foi o segmento de private banking, seguido pelo de alta renda, seguradoras e trazendo cada vez mais para os fundos de pensão, explica Castro.

Pela penetração do private ao longo de duas décadas, a casa tem hoje “algumas dezenas de bilhões alocados no mercado global, principalmente em private e pessoa física alta renda”, diz.

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