Edição 380

A migração dos investidores institucionais que saíram da bolsa para alocar em outras classes de ativos, notadamente em renda fixa, foi concentrada em alguns gestores de renda variável de maior porte e com uma estrutura robusta, avalia Alexandre Rezende, sócio-fundador da Oceana Investimentos. “Tivemos um aumento da exposição dos clientes aos nossos fundos de ações, embora alguns tenham diminuído o tamanho de suas posições nessa classe de ativos. Estamos sendo beneficiados pelo movimento de rotação dos investidores”, diz Rezende.
Com R$ 9 bilhões sob gestão, a casa não está longe de seu tamanho histórico, que chega no máximo a R$ 10 bilhões de patrimônio. “Estamos com todos os fundos abertos para captação e temos 53 fundos de pensão entre os nossos investidores, somando R$ 2,5 bilhões em AuM dessas entidades. São investidores importantes para nós, uma base que tem permanecido estável”, explica.
Nas políticas de investimento que as fundações estão elaborando para o ano de 2026, a perspectiva é de manutenção ou aumento da exposição à renda variável, diz Daniel Tavares, sócio e diretor comercial da asset, mas é preciso considerar que a exposição atual está historicamente muito baixa. “De todo modo, como essas entidades já compraram o que queriam em NTN-Bs, estão migrando agora, dentro da renda fixa, para posições em títulos públicos atrelados ao CDI. É uma mudança que cria uma facilidade tática caso elas decidam sair da renda fixa para a bolsa”, afirma.
A conjuntura desse mercado revela uma situação pouco comum no que diz respeito a empresas de alta qualidade, dominantes em seus respectivos setores de atuação, que tendiam a sustentar preços e a não ficar baratas demais na bolsa. “Nos últimos três anos, os ativos dessas companhias também tiveram uma desvalorização e ficaram com preços muito atrativos. Temos sido capazes de encontrar empresas com retornos elevados e preços baratos em setores como o elétrico, de saneamento, shopping centers, bancos, infraestrutura e até mesmo de consumo”, analisa Alexandre Rezende.
A situação reflete um cenário muito pessimista, ainda mais se for considerado o fato de que o lado operacional dessas empresas é muito bom, atualmente. “A maioria das companhias que estão em nosso portfólio entregou um resultado operacional acima do que era esperado em 2024, elas mantêm uma entrega operacional elevada este ano, com baixa alavancagem e preços muito atrativos”, diz o gestor.
O fator que transforma esses papéis em excelentes oportunidades é que essas empresas gerem negócios que vão continuar a ser prósperos por muito tempo. “No caso dos shopping malls, por exemplo, avaliamos o cenário de estresse das empresas para saber até que ponto aguentam desaforo e grande parte delas sustenta os bons resultados por três, quatro ou cinco anos”, afirma. No caso do setor elétrico, a asset vê oportunidades bastante atrativas e, no que se refere aos shoppings, ficam claras algumas assimetrias nos preços. Há shoppings que estão fazendo obras de expansão, por exemplo, a um custo de R$ 22 mil a R$ 24 mil o metro quadrado de área nova, mas são negociados abaixo de R$ 20 mil o metro quadrado, ou seja, abaixo do preço da construção civil.
É o tipo de oportunidade que tem despertado o interesse do investidor estrangeiro, cujas consultas à asset aumentaram este ano. “Temos tido muitos pedidos de calls de institucionais – fundos de pensão, fundos soberanos e endowments lá fora, uma demanda que aumentou desde o início do ano”, afirma Rezende. Esse interesse revela também uma rotação para reduzir a concentração de recursos investidos nas bolsas dos EUA.
Ruídos e cautela nos estruturados – Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), Fundos de Investimento Imobiliário (FII) e Fundos de Investimento em Participações (FIP) compõem o bloco dos investimentos menos líquidos e que exigem uma “reinvenção” constante por parte dos gestores para garantir proteção de capital e retornos atrativos, explica Tiago Lima, head de distribuição da BTG Pactual Asset Management.
“A taxa de juros tem um efeito detrator sobre essas classes de ativos se o investidor olhar apenas para o custo de oportunidade. Mas quando se olha por outro prisma, o mercado tem espaço para ofertas interessantes”, observa.
Os FIDC, veículos de crédito estruturado, tiveram captação de R$ 750 milhões de abril para cá na casa, informa Lima. A asset faz controladoria dos ativos e originação para dar conforto ao investidor. Já nos FII, as ofertas de galpões logísticos já pré alocados, com indexação ao IPCA, têm sido destaque com inquilinos como a Amazon e outras empresas globais.
Das três classes de alternativos, os fundos de investimento em participações (FIP) são os mais desafiadores no cenário de juros altos. “O custo marginal de tirar recursos dos títulos públicos para alocar em risco é elevado, até porque as taxas das NTN-B ainda vão fechar. Mesmo tendo bons produtos, é um desafio ”, diz . A asset tem tido captação elevada nos últimos quatro a cinco anos para esses fundos, mas com número menor de ofertas em 2025. “Há muitas oportunidades de comprar cotas descontadas, mas assim mesmo há menor facilidade de captação para os FIPs do que nas outras duas classes de alternativos. De todo modo, as três classes que compõem esse bloco estão com captação positiva este ano”, conta Lima.
Os investimentos alternativos refletem hoje o fato de que o mercado brasileiro está muito próximo de seu momento de inflexão no juro e já começou a busca por produtos atrelados ao CDI ou ativos isentos, isso enquanto perdurar a leitura da próxima queda da Selic. “Quando o ciclo de redução da taxa começar, a tendência é maior para que haja um movimento de deslocamento de capital”, avalia.
A tendência é de que continue a haver oportunidades para o crédito estruturado, mas ele lembra que o momento exige cautela, até porque já começaram a surgir “ruídos” nesse mercado.
“A indústria de crédito no Brasil está mais madura, mas estamos conservadores, não só na classe dos estruturados mas em todo o mercado de crédito, priorizando a proteção de capital e uma seleção mais cautelosa”, admite Lima.
Multimercados e o mercado global – O mundo passa por uma desaceleração suave da economia, o que é um cenário positivo para os ativos de risco, avalia Bernardo Feijó, sócio e especialista de portfólio da Kapitalo Investimentos, gestora com foco em hedge funds. A asset mantém uma alocação marcada pelo forte componente global – hoje a exposição a Brasil é de 35% da carteira por conta das oportunidades no mercado de juros, mas historicamente essa posição fica em 30%, com os demais 70% ocupados por alocação internacional.
No Brasil também se esperava esse tipo de desaceleração, diz Feijó, mas houve estímulos fiscais elevados e a atividade só agora começa a desacelerar. “Por outro lado, o comportamento é benigno aqui e lá fora no que diz respeito à inflação, o que nos beneficia por termos posições aplicadas em juros globais”, explica. O fato é que os bancos centrais de diversos países já começaram a reduzir juros, favorecendo os ganhos das posições que apostam nas taxas menores.
“No Brasil também é assim, mas aqui estamos alocados em juro real – NTN-B – estamos procurando nos apropriar dos ganhos elevados dessas taxas”, detalha. O cenário global é benigno, de juros baixos, e no Brasil as posições em juro real são um pouco mais defensivas. “Ganhamos dinheiro tanto com as posições globais quanto com o juro no Brasil, mas o principal retorno veio do mercado internacional de juros”, diz o gestor. As posições atuais seguem baixistas nas taxas de juros diante da perspectiva de desaceleração suave nos EUA e em outras economias.
Além disso, os fundos ganharam com as posições de valor relativo feitas no mercado de commodities, que foram muito bem sucedidas este ano nas apostas em metais – graças às posições compradas em ouro. Houve ganhos relevantes também nas bolsas lá fora, enquanto as posições em bolsa brasileira ficaram mais defensivas. “Nossa carteira em bolsa local estava mais defensiva este ano e não performou tão bem, mas segue assim”, diz Feijó.
A asset registrou crescimento de 17% no segmento de investidores institucionais – fundos de pensão – em seu passivo no período de junho de 2024 a junho de 2025, informa João Carlos Pinho, sócio-diretor. Considerando os números de junho do ano passado até outubro deste ano, o crescimento foi de 25%. “Esse passivo aumentou porque os fundos de pensão estão se antecipando aos investidores em geral para se posicionar mais em fundos multimercados”, acredita Pinho. Nesse movimento, há novos investidores e também novas alocações.
Por Classes (arquivo em pdf)