Cai participação dos institucionais nas bolsas

Edição 52

O movimento dos institucionais está abaixo das pessoas físicas

Ao contrário do que ocorreu em 97 e no período de janeiro a agosto do
ano passado, o mapa da participação dos investidores institucionais na
bolsa sofreu uma inversão após a deflagração da crise da Rússia. O
volume dos seus negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foi
inferior ao movimentado por pessoas físicas nos cinco meses posteriores à
crise – de setembro de 98 a janeiro de 99. “A participação percentual das
pessoas físicas aumentou porque o volume negociado pelos outros
investidores caiu”, analisa o diretor de operações da Corretora Planner,
Cláudio Henrique Sangar,.
Os institucionais (fundos de pensão, seguradoras e fundos mútuos)
vinham mantendo um volume de movimentação próximo aos 20% entre
janeiro e julho do ano passado, enquanto as pessoas físicas negociaram
em média 11% no mesmo período. Mas, após o início da desvalorização
acentuada da bolsa a partir de agosto de 98, os institucionais passaram a
movimentar menos nos pregões.
Um mês depois do começo da crise russa, os institucionais movimentaram
apenas 12,4% do volume da Bovespa enquanto as pessoas físicas
negociaram 14,5%. Foi o primeiro mês em que a balança pendeu para o
lado do investidor individual. A situação voltou a se repetir nos meses
seguintes, com exceção de dezembro passado, quando a movimentação
das pessoas físicas caiu para 12,2% (veja quadro abaixo).
A baixa liquidez do mercado acionário, verificada no ano passado e início
de 99, é um dos fenômenos que contribui para gerar a transformação do
perfil do investidor da bolsa. “Como possuem grande quantidade de ações
nas carteiras, os institucionais sentem dificuldade em operar em um
mercado pouco líquido”, diz o diretor de operações da Planner. Em
contrapartida, as pessoas físicas têm a possibilidade de continuar
movimentando normalmente, mesmo que a liquidez esteja reduzida.
Tanto os institucionais quanto os bancos e investidores estrangeiros
diminuiram os volumes negociados na Bovespa, no ano passado. O
volume médio diário da bolsa em 98 registrou recuo de 20,6% em
comparação aos valores de 97, embora o número médio diário de
negócios tenha sido praticamente o mesmo. Isso mostra que os valores
médios envolvidos nas negociações foram menores que os de 97. Ou
seja, os grandes investidores não foram tão atuantes em 98 como no ano
anterior.

Percepção da crise – A crise russa de agosto foi o fato que delimitou dois
períodos bastante distintos na bolsa no ano passado. Os institucionais
tiveram atuações distintas nestes dois momentos. Em geral, antes da
crise os investidores institucionais estavam apresentando um nível maior
de movimentação nos pregões em função da tendência de vender parte
da carteira de renda variável. “Grande parte das fundações venderam as
ações mais líquidas antes da crise da Rússia”, diz Alexandre Freitas,
diretor da administradora de recursos Síntese.
Os institucionais estavam percebendo, desde a crise da Ásia de outubro
de 97, que a situação da bolsa deveria piorar ainda mais. Por isso, estes
investidores aproveitaram para se desfazer, até o mês de maio, de
posições assumidas anteriormente.
Mas, com a desvalorização dos preços das ações iniciado em junho de 98
e acentuado a partir de agosto, os institucionais não tiveram mais
condições de continuar realizando lucros significativos. “A partir de
setembro, os institucionais passaram a realizar negociações de pequeno
porte, em geral, buscando a troca de ativos e pequenos giros da carteira”,
comenta Sangar, da Corretora Planner.
As pessoas físicas, por outro lado, não tiveram a percepção de que a
situação estava se agravando e continuaram movimentando normalmente
no primeiro semestre de 98. Quando veio a crise russa, os investidores de
varejo estavam comprados em ações e, depois da crise, começaram a
vender mais do que comprar.
Outros motivos – As altas taxas de juros verificadas durante o decorrer do
ano passado constituíram outro incentivo para que os institucionais
ficassem mais distantes dos pregões. “A maioria dos fundos de pensão
não direcionaram os novos recursos para a renda variável, pois a
rentabilidade da renda fixa estava bem mais atraente”, diz o diretor
responsável da Schroder Brasil, Walter Mendes.
Os juros altos do primeiro semestre foram capazes, inclusive, de motivar a
migração dos recursos aplicados em ações para a renda fixa. Esse
movimento foi verificado até a deflagração da crise russa, quando o
desempenho da bolsa ainda era positivo. Nos meses seguintes, os
institucionais reduziram a movimentação na bolsa por causa da alta
volatilidade e da própria desvalorização dos preços.
Outro fator que vem desviando a participação mais ativa dos institucionais
nas bolsas de valores é a troca de direção em vários fundos de pensão.
Após o término do processo eleitoral no país, começou a ocorrer a troca de
comando em diversas fundações ligadas a empresas estatais. Sem falar
da troca de direção na Previ, que já havia sido anterior às eleições. “As
novas diretorias das fundações evitam grandes mudanças logo que
assumem e, por isso, costumam deixar as posições em bolsa inalteradas
no início do mandato”, diz Freitas, da Síntese.

Investidores na Bovespa (participação em %)
Mês Institucionais* Pessoa Física
Setembro/98 12,4 14,5
Outubro/98 13,7 15,1
Novembro/98 15,1 17,9
Dezembro/98 12,6 12,2
Janeiro/99 14,4 16,7
Média semestral 14,1 14,7
*Fundos de pensão, seguradoras e fundos mútuos – Fonte: Bovespa