Mercado aguarda a volta dos processos de terceirização

Edição 41

A terceirização de carteiras de investimento é uma tendência que tem
crescido entre as fundações e deve continuar, embora tenha sido
prejudicada nesse primeiro semestre por fantasmas como a instabilidade
das bolsas e a perda da imunidade tributária

A terceirização de carteiras de investimento é uma tendência que tem
crescido entre as fundações e deve continuar, embora tenha sido
prejudicada nesse primeiro semestre por fantasmas como a instabilidade
das bolsas e a perda da imunidade tributária. Com a queda das bolsas no
mundo todo e a ameaça de ter que pagar impostos sobre os resultados
dos investimentos em fundos de renda fixa, a partir de julho, as
fundações passaram a investir pesadamente em títulos de renda fixa de
longo prazo, em detrimento de outras aplicações.
Com isso, boa parte dos recursos das fundações que seriam entregues à
administração do mercado ficou temporariamente imobilizada. “As
fundações alongaram o perfil de suas aplicações, comprando papéis de
longo prazo. Os vencimentos devem começar a acontecer de forma mais
expressiva no final do ano”, diz Flávio Pires, do BankBoston.
A expectativa é de que o fluxo de negócios de terceirização de carteiras
retome, gradualmente, ao ritmo em que vinha se desenvolvendo antes da
crise da Ásia. Entre o final de 96 e de 97, só os processos de terceirização
da Petros e da Sistel injetaram no mercado cerca de R$ 700 milhões em
dinheiro fresco.
A Sistel escolheu, em julho de 97, cinco gestores para uma carteira de R$
200 milhões em renda variável, R$ 40 milhões para cada. Os vencedores
foram o IBT, BBA Capital, Garantia, Pactual e Patrimônio. Já a Petros, em
novembro de 96 fechou com o Opportunity um acordo de gestão
compartilhada de uma carteira de ações de R$ 500 milhões, que no início
deste ano já tinha chegado à casa dos R$ 750 milhões. Comenta-se que
a parceria entre Petros e Opportunity teria sido desfeita, mas ambos
negam o rompimento.
Neste ano, as terceirizações envolveram volumes menores. Entre os
negócios de maior porte do primeiro semestre estão o da Previminas, de
R$ 50 milhões, e o da Forluz, de R$ 40 milhões. A Previminas escolheu
quatro administradores para renda variável, para perseguir um benchmark
de Ibovespa mais 2%. São eles: IBT, BFB, FonteCindam e BMG. E a
Forluz, em junho, dividiu igualmente R$ 40 milhões entre o Citibank, Real,
Sudameris e Unibanco. A maior parte desses recursos está em renda fixa
(ver matéria na página 9).
Para o segundo semestre, as atenções estão voltadas para a Petros, que
no ano passado anunciou sua intenção de terceirizar mais R$ 200
milhões, além dos recursos que mantém com o Opportunity. Mas, por
enquanto, a fundação faz suspense, e prefere não comentar o assunto,
mas sabe-se que o administrador (ou administradores) deve ser escolhido
a partir de concorrência.
Daqui para a frente, a instabilidade das bolsas, que atrapalhou o
andamento dos negócios no primeiro semestre, pode se converter num
argumento favorável à terceirização de recursos. No início do ano, com a
recuperação das bolsas entre fevereiro e março, muitas entidades
aproveitaram para vender suas ações e investir em renda fixa. A operação
tinha sentido também porque os juros que os títulos de renda fixa
estavam pagando eram muito elevados. Houve até quem vendeu as
ações com prejuízo, porque as taxas compensariam as perdas.
Mas hoje, desfazer-se das posições em renda variável geraria prejuízos,
porque os preços das ações estão deprimidos, e nada leva a crer que isso
mudará no curto prazo. Além disso, as taxas de juros caíram, e não
cobririam o prejuízo da venda dessas posições.
Uma das alternativas das fundações para rentabilizar as carteiras de renda
variável, ou perder menos com elas, poderia ser a terceirização. “Com a
crise, muitas entidades viram que não é fácil administrar recursos dentro
de casa. Isso contribuiu para que os administradores de fundos de pensão
pensassem em terceirizar, ou continuassem reduzindo a renda variável”,
analisa José Guilherme Simonetti, superintendente de institucionais do
Itaú.
Para Luíz Carlos Caser, diretor de gestão de recursos do BMG, o conceito
de risco está cada vez mais presente nas decisões de investimento das
fundações, e por isso mesmo a terceirização ganha impulso. “A renda
variável envolve risco, e os bancos são administradores de risco”.
Segundo ele, com certeza muitas fundações devem apresentar
desempenho total da carteira superiores aos bancos, devido à compra de
títulos pré-fixados no final do ano passado e início de 98.