Edição 24
Um dos painéis do 18º Congresso da Abrapp que provocou maior
entusiasmo na platéia foi o que discutiu o Custo Brasil
Um dos painéis do 18º Congresso da Abrapp que provocou maior
entusiasmo na platéia foi o que discutiu o Custo Brasil. As soluções
apresentadas para sua redução foram as mais divergentes e ajudaram a
criar alguma polêmica no Congresso.
O auge das discussões aconteceu quando os debatedores Aloísio
Mercadante, economista ligado ao Partido dos Trabalhadores, e Sérgio
Werlang, diretor executivo do Banco da Bahia Investimentos, se
digladiaram em torno de como imaginam uma reforma tributária no País e
sobre o papel do Estado na economia.
Mercadante considera positivo o Imposto sobre Valor Agregado (IVA),
proposto pelo Ministério da Fazenda, que eliminaria outros. Mas acha
importante a criação de impostos sobre a riqueza e sobre a herança, para
assegurar o princípio da progressividade.
“Quem ganha mais tem que pagar mais”, disse ele. “Seria uma forma de
tentar reduzir a desigualdade social”. Baseando-se em dados
apresentados pela revista Economist, o economista petista mostrou que o
Brasil é recordista mundial na diferença de renda entre os 10% mais ricos
e os 40% mais pobres da população.
Logo em seguida ao discurso de Mercadante, Sérgio Werlang falou e pôs
fogo ao debate. Disse que Mercadante tem posições “estatizantes e contra
as privatizações”. Segundo ele, o governo gasta muito e deveria reduzir
impostos ao invés de criar mais. Também é a favor do fim do ensino
superior gratuito e pela flexibilização das leis trabalhistas para reduzir o
custo da produção.
O economista do PT não deixou por menos. “É demagogia querer reduzir
a arrecadação. É diferente da carga tributária, já que a sonegação é
enorme”.
Ao mesmo tempo, atacou a idéia de se reduzir os gastos com
educação. “O governo gasta apenas 3,5% do PIB com educação. “Tem
que gastar mais e não menos”. Também é contra uma revisão nas leis
trabalhistas, que poderia prejudicar benefícios conquistados pelos
trabalhadores.
Nesse ponto, Luis Fernando Furlan, presidente da Sadia, que também
participava do painel, concordou com Werlang de que é preciso flexibilizar
as leis trabalhistas. Apresentou dados para mostrar que o custo da mão-
de-obra no País onera demais as empresas. Comparativamente, segundo
ele, o trabalhador do Chile, por exemplo, representa 25% do custo de um
trabalhador do Brasil.
Furlan, que definiu o Custo Brasil como “a soma das ineficiências que
fazem com que a produção brasileira seja pouco competitiva”, disse que a
solução do problema passa, “antes de mais nada”, por uma mudança na
mentalidade. “Nós, brasileiros temos que parar de achar que as coisas são
assim mesmo e não vão mudar”. Haveria, segundo ele, uma tolerância
generalizada à burocracia estatal.
Hoje gastos com a burocracia representam grande parte do custo do
produto nacional que vai à exportação. 96% das operações de comércio
exterior significam gastos com contratos de câmbio, Cofins, Siscomex e
outras taxas e impostos que incidem sobre o produto exportado.
A participação da sociedade também foi considerada fundamental por
Edson Vaz Musa, ex-presidente da Rhodia, que participava do painel. Ele a
vê como importante não só para reduzir o Custo Brasil como para
melhorar a economia. “É importante uma maior participação da sociedade
que exige e faz valer seus direitos.”
Musa defendeu quatro pontos que têm que permear as discussões em
torno dos caminhos para economia brasileira: a conscientização sobre a
cidadania, uma melhor redistribuição de renda, o aumento da poupança
interna – que seria vital para o desenvolvimento econômico – e a garantia
de acesso à educação.