23-02-2016 – 14:23:26
O contingenciamento de R$ 23,4 bilhões do orçamento do governo federal de 2016 anunciado semana passada “deixou a desejar”, na avaliação de Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas. O montante não é suficiente para gerar uma trajetória de estabilidade, e tampouco de queda, da dívida como proporção do PIB. “O número ficou muito aquém”, disse Carvalho, que lembrou que o valor ficou bem abaixo dos R$ 69,9 bilhões cortados em 2015, quando o governo já teve dificuldades para fechar as contas. “Basicamente o governo está dizendo que vai gastar mais hoje, e promete fazer um esforço amanhã. O gasto maior hoje é certo, o esforço fiscal amanhã parece duvidoso”, comentou o economista durante teleconferência com a imprensa nesta terça-feira, 23 de fevereiro.
Carvalho destacou ainda que a arrecadação futura está permeada de incertezas, uma vez que depende de medidas que ainda estão em fase de elaboração, e que não encontrarão um ambiente amigável para serem aprovadas no Congresso. “Nem tudo é ruim, algumas medidas vão na direção correta, como impor limites aos gastos, e finalmente falar de forma séria sobre a previdência, isso é muito positivo. Entretanto, conseguir aprovar no Congresso é o grande desafio”.
Os números fiscais continuam muito ruins, disse o economista, e a previsão do banco não é de melhora nos próximos meses – a dívida como proporção do PIB, que deve ter encerrado 2015 em 66,2% pelas contas do BNP Paribas, deve subir para 75,1% em 2016, e para 81,3% em 2017. “Nesse ambiente não é de se estranhar que as agências de classificação de risco continuem rebaixando a nota do Brasil”, ponderou Carvalho. “A situação fiscal hoje é gravíssima, a dívida não para de crescer. Houve uma piora rápida em um espaço muito curto de tempo”. Como base de comparação, o especialista apontou que em outros países emergentes a média dívida/PIB fica entre os 40% e 50%. “A dinâmica é preocupante. O governo tem sido incapaz de conter o aumento contínuo dos gastos, enquanto a arrecadação parou de crescer”.
As eleições municipais do segundo semestre, de acordo com o economista-chefe do BNP Paribas, tem relevância para o ambiente macroeconômico doméstico à medida que encurtam o tempo para que o Executivo aprove as medidas que se fazem necessárias. O governo precisa aprovar as medidas até maio ou junho no máximo, já que após esse período o mundo político vai voltar as atenções para o pleito dos municípios, estima Carvalho.
Política monetária – Sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central, o economista afirmou que a comunicação “errática” da autoridade monetária nos últimos meses dificulta bastante uma previsão. Ele disse ter a impressão de que o BC “está procurando espaço para voltar a cortar os juros nos próximos meses”. No entanto, Carvalho não acredita ser sustentável um corte da Selic no curto prazo, que forçaria a autoridade a elevar os juros novamente em 2017 para retomar a credibilidade perdida recentemente.
No cenário base do BNP Paribas, a Selic deve ficar estável até o fim do ano, mas Carvalho ressaltou que “raramente” o BC fica parado por muito tempo. Historicamente, a autoridade fica sem subir ou cortar os juros por volta de seis meses. “Sabemos que existe um risco alto de nossa projeção não se materializar. Entretanto, é grande o grau de incerteza pelas mudanças bruscas na sinalização do BC”.