08-09-2015 – 14:52:05
O frágil quadro das contas fiscais do governo brasileiro tem pressionado para baixo o preço dos ativos no mercado financeiro doméstico. Além disso, é um fator com potencial para gerar novas perdas adiante. A Verde Asset, em seu relatório de gestão do fundo de ações Unique Long Bias FIC FIA de agosto, escreve que, com a falta de compromisso do governo com a meta fiscal, a perda do grau de investimento está “se tornando quase inevitável”. Na visão da asset, o risco de insolvência do governo “voltou a ter relevância”, o que não ocorria há uma década, lembram os especialistas.
Diante da queda do PIB em 2015, a meta de 1,1% se tornou inalcançável, avaliam os gestores da Verde. No entanto, eles entendem que, para 2016, haveria tempo suficiente para que as medidas necessárias fossem adotadas, e a meta de 2%, que foi reduzida para 0,7%, fosse cumprida. O quadro ficou ainda pior, destacam os especialistas, quando o governo, um mês após anunciar as mudanças das metas, enviou uma proposta de orçamento para o ano que vem com um déficit primário de R$ 30 bilhões. “A incapacidade de aprovar as medidas necessárias para atingir esta marca, que já é muito aquém da que seria necessária para estabilizar a dívida pública, tornou o cenário fiscal brasileiro muito mais delicado”, diz o relatório da gestora.
Com o aumento do temor da perda do grau de investimento, somado ao risco de insolvência do governo, os títulos de dívida do governo, a bolsa e o real tiveram quedas expressivas de valor em agosto. O incremento expressivo recentemente observado na curva de juros, notam os especialistas, eleva também o retorno exigido para se investir em uma ação, o que gera perdas para o papel, mesmo que não tenha ocorrido nenhuma mudança de expectativa nos resultados da companhia. A esperança dos gestores é que, conforme aumenta o risco, aumenta também o comprometimento e esforço do governo, Congresso e socidade com medidas que afastem o país da crise. “Fazendo uma analogia, à medida que nos aproximamos da beira do precipício, aumenta a chance de darmos meia volta”.
O fundo Unique Long Bias da Verde Asset cai 7,73% em 2015, ante a queda de 6,76% do Ibovespa, e uma rentabilidade positiva de 11,55% de IPCA mais 6% no período. Em 12 meses, o fundo cai 2,88%, o benchmark da bolsa recua 6,77%, e o IPCA mais 6% corresponde a 31,10%.
Fundo Verde – Já no relatório do fundo Verde FIC FIM, ainda sobre a questão fiscal, a gestora destaca que, embora a meta de 2015 tenha sido reduzida no fim de julho, em agosto o governo já se viu sem recursos para pagar a antecipação do 13 salário da Previdência. Isso “expõe de maneira cristalina a total falta de previsibilidade da política fiscal”. Os especialistas lembram também que a proposta do orçamento para 2016 enviada pelo Executivo apresenta vários aumentos de gastos, a despeito do discurso de austeridade, e uma série de receitas duvidosas, ou improváveis. “Se o Congresso não piorar ainda mais a questão, o mais provável é que a meta ainda venha a ser revisada novamente para baixo, contaminando inclusive a perspectiva para 2017”. A avaliação da Verde é que, no curto prazo, o governo vai apenas “tapar buracos” com receitas extraordinárias e venda de ativos, à espera do próximo governo que adote uma agenda reformista, que “nos afaste da linha tênue que hoje nos separa do abismo”.
Além do ambiente doméstico, no caso do fundo Verde, o cenário internacional também tem peso relevante. Os gestores do fundo lembram que a desvalorização da moeda chinesa gerou um grande choque para os mercados em agosto, e ainda trará muitos outros impactos. Embora já esperasse por uma desvalorização do renminbi, tendo comprado opções de dólar contra a moeda chinesa, os especialistas admitem que o timing do governo chinês os surpreendeu. Na avaliação dos gestores do Verde, os mercados de ações do G3 – Estados Unidos, Europa e Japão – ficaram mais baratos. “A situação de margens, expectativas de lucro e geração de caixa das empresas é boa, e continua numa trajetória que justifica as posições compradas”. Em um mundo de crescimento mais escasso, ainda existem oportunidades que não estão bem precificadas, principalmente nos setores financeiro, de tecnologia e saúde, diz o relatório do fundo. Em 2015, o fundo Verde tem valorização de 20,67%, contra 8,35% do CDI no período.