“Realidade vai forçar governo a rever meta de superávit”, diz BNP...

16-07-2015  –  18:37:55

 

A equipe econômica do BNP Paribas, chefiada por Marcelo Carvalho, revisou para baixo sua previsão para o PIB do Brasil; para 2015, a queda foi de 2% para 2,5%, e para 2016, o crescimento de 0,5% foi revisado para retração de 0,5%. A taxa de desemprego, que atingiu a mínima histórica de 5% no ano passado, deve subir para 9% até o fim do ano, na visão da equipe do banco francês. Para 2016, ela prevê que o percentual alcance 10%. Pelo lado positivo, o BNP Paribas entende que a inflação irá cair de maneira mais rápida, dos 9% em 2015 para 5,5% em 2016. No último relatório Focus do BC, a previsão para o PIB de 2015 está negativa em 1,5%, e positiva em 0,5% para 2016. Para a meta fiscal, o BNP Paribas projeta superávit de 0,5% em 2015, e de 1% em 2016. “Mais cedo ou mais tarde a realidade vai forçar o governo a revisar para baixo suas metas para ambos os anos”, destaca o banco, em relatório.

A revisão teve três pontos principais que foram considerados pelo BNP Paribas. Um deles é a Lava Jato, que não está mais restrita ao setor de óleo e gás, mas passou a envolver o de construção também. Isso pode trazer impacto negativo para o PIL, lembra o banco. O ruído político, e discussões sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff também são citados como provável indutor para uma queda dos investimentos no ano corrente. Além disso, na visão da equipe do banco, as medidas para corrigir as distorções criadas pela liquidez abundante dos últimos anos têm se mostrado mais duras que o imaginado. O BC, lembram os especialistas, tem promovido um aperto monetário agressivo para trazer a inflação para 4,5% ano que vem; do lado fiscal, a política também está mais apertada, em um “esforço herculeo” para que o rating grau de investimento seja mantido; e por fim, a equipe do BNP Paribas cita ainda a retração do crédito dos bancos públicos. As condições globais, que “não ajudam”, são também apontados como uma das causas. O tapering do Fed, a queda das commodities, e o risco vindo da China são uma combinação de alto risco para um exportador de matérias-primas, com déficit em conta corrente como o Brasil, e que necessita de entrada de investimento, destaca o BNP Paribas.

“A atual recessão do Brasil vai se provar a pior na história recente, ao menos desde 1996, quando os dados trimestrais começaram a ser coletados”, destaca a equipe do BNP Paribas. Enquanto a atual recessão aparenta ser menos aguda do que a de 2008, a recuperação da economia real, entende o banco, deve “demorar muito mais tempo, prolongando a recessão”. Diferentemente do início da recuperação pós 2008, as perspectivas globais são agora mais desafiadoras, e não há nenhum espaço para novas medidas anticiclicas no âmbito doméstico.

Para o primeiro trimestre de 2016, num período de comparação relativa de dois anos, o BNP Paribas prevê uma queda de aproximadamente 4%, ante a média dos oito trimestres anteriores. Se confirmado, deve ser o pior desempenho desde o terceiro trimestre de 1999, quando a queda foi de “apenas” 0,2%. A recessão mais pesada do que o imaginado, na visão do banco, deve levar o BC de uma postura “custe o que custar” para uma “vamos ser razoáveis”. O BNP Paribas não alterou sua estimativa para o aperto monetário, que deve ter mais uma alta de 0,5 pp em julho, e um último de 0,25 pp em setembro. No entanto, ele revisou de 2 pp para 3pp a projeção para o corte da Selic em 2016, que deve começar apenas no segundo semestre, e não no primeiro trimestre, como a curva de juros precifica atualmente.