Florestas nas prateleiras | Fundos de reflorestamento atraem cada...

Edição 219

 

Se de um lado os investidores têm mostrado uma preocupação cada vez maior com os impactos sociais e ambientais que suas aplicações exercem, de outro a tendência de busca por investimentos de alguma forma relacionados a questões socioambientais pode ser sentida também no que se refere à oferta de produtos pelas assets. Bastante conhecido por suas práticas de respeito ao meio ambiente e voltadas a sustentabilidade, o então Banco Real, adquirido pelo Santander, é visto como um dos pioneiros nesse campo no sistema financeiro brasileiro.
Entre os produtos com essas característas está na prateleita do Santander Asset Management o Fundo Ethical, que investe em ações de empresas líderes em sustentabilidade em cada setor. Pedro Angeli Villani, superintendente da asset do Santander, explica que existe toda uma metodologia de avaliação das companhias com ações listadas no segmento Bovespa para se chegar à carteira que compõe o fundo. “Vários temas são alvo de estudo, sendo que cada um deles tem uma ponderação para que se chegue ao score final das empresas. Há uma dezena de indicadores analisados, como a relação da empresa com o meio ambiente e governança corporativa. O importante é que, para selecionar as ações, nós comparamos sempre empresas do mesmo setor. Uma companhia de siderurgia, por exemplo, não vai ser comparada com uma de varejo”, detalha.
Villani acrescenta que existe uma pessoa exclusivamente dedicada, em tempo integral, a essa avaliação da sustentabilidade das empresas. O Real FI Ações Ethical II, aberto em novembro de 2001, conta com patrimônio da ordem de R$ 356 milhões. No acumulado de 2010 até o dia 30 de agosto, o fundo registrou rentabilidade negativa de 3,2%, diante de um Ibovespa de -5% para o mesmo período. Desde o início do fundo até o dia 31 de julho de 2010, o Ethical II acumula retorno positivo de 553%, contra uma Ibovespa de 450% no mesmo intervalo.
Uma iniciativa que está sendo colocada em prática pelo Santander este ano é a expansão da utilização de critérios de sustentabilidade para a área de crédito privado. “Estamos desenvolvendo uma forma de espelhar essa análise de sustentabilidade empresarial nos produtos de renda fixa corporativa. Acreditamos que essas questões influenciam o risco de crédito das companhias. Por isso, esse é um tipo de análise que faz sentido também para os papéis privados”, aponta o superintendente.
Ainda na renda fixa, o Santander Asset Management já conta com um produto chamado Floresta Real. Nesse caso, uma parcela da taxa de administração do fundo é vertida para projetos de conservação de matas nativas apoiados pelo banco.

Itaú – Outra instituição que tem em sua prateleira fundos de caráter sustentável é o Itaú Unibanco. De acordo com informações do banco, no portfólio de produtos está, por exemplo, o Fundo Itaú Renda Fixa Ecomudança. Lançado em 2008, o fundo é voltado para investidores interessados e preocupados em contribuir para a redução do aquecimento global e tem como objetivo repassar 30% de sua taxa de administração para financiar projetos focados em redução dos efeitos das mudanças climáticas, por meio da compensação de emissões de carbono. Este ano, o programa vai repassar R$ 320 mil, entre apoio técnico e financeiro, para viabilizar iniciativas de três projetos selecionados. Outro produto do Itaú Unibanco que se encaixa na categoria é o Fundo Itaú de Excelência Social (Fies). Neste caso, além das análises de risco e do retorno das ações, os gestores levam em conta práticas sociais de proteção ao meio ambiente e de governança corporativa. O Fies destina 50% da taxa de administração para projetos de entidades sociais indicadas pelo conselho consultivo do fundo – formado por lideranças do terceiro setor, especialistas do mercado e dirigentes de instituições renomadas e do Itaú.
Já o Fundo Itaú Índice de Carbono, por sua vez, é, de acordo com a instituição financeira, o primeiro fundo de investimentos brasileiro vinculado a um índice de créditos de carbono. O produto busca a obtenção de rentabilidade superior à dos investimentos tradicionais de renda fixa ao mesmo tempo em que se apresenta como alternativa de investimento ambientalmente responsável por contribuir com o desenvolvimento do mercado de créditos de carbono. Destinado a investidores com portfólio global de investimentos no Itaú Unibanco de no mínimo R$ 300 mil, o Fundo Itaú Índice de Carbono é um produto de estratégia protegida com prazo de duração de dois anos e taxa de administração de 2% ao ano, sem cobrança de taxa de performance.

Reflorestamento – Uma classe de ativos que está ligada na essência a questões de sustentabilidade e tem atraído bastante interesse das entidades fechadas de previdência complementar são os fundos que investem em reflorestamento. Entre eles estão, por exemplo, o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Florestal, gerido pela Vitória Asset Management e que tem entre os cotistas os fundos de pensão Petros e Funcef; o FIP Vale Florestar, com gestão da Global Equity e que também tem as duas entidades como cotistas; e o FIP Florestas do Brasil, gerido pela Claritas.
Henrique Aretz, diretor de investimentos da Brazil Timber Investment Manager, explica que o ramo do reflorestamento é bastante atrativo sob o ponto de vista financeiro. Isto porque a floresta no Brasil apresenta uma taxa de crescimento biológico que nenhum outro país tem, porque há um grande potencial de valorização das terras por aqui e porque existe um mercado consumidor de madeira plantada que tem passado inclusive por um déficit de oferta. “O mercado está crescendo muito. Para se ter uma ideia, entre 60% e 70% da nova capacidade instalada de celulose anunciada no mundo está concentrada no Brasil. Fora a demanda por madeira plantada para gerar biomassa e os biocompensados de madeira”, aponta. Por outro lado, esse investimento é, por natureza, relacionado a boas práticas ambientais, uma vez que ajuda a preservar matas nativas.
“A floresta plantada atua como substituta da floresta nativa e, por isso, tira a pressão por desmatamento”, reforça.
Com atividades iniciadas em 2006, a Brazil Timber Investment Manager tem hoje US$ 250 milhões sob gestão aplicados em veículos destinados ao reflorestamento. Segundo Aretz, a maior parte dos clientes da gestora é formada por investidores estrangeiros, entre eles fundos de pensão e assets, oriundos principalmente dos Estados Unidos, Europa e Austrália.
Dependendo da estratégia do investidor, o veículo pode ser utilizado para compra ou arrendamento de terras ou ainda para obtenção do direito ao corte da floresta plantada. “Isso varia de acordo com a necessidade do investidor”, afirma o diretor. “Por isso mesmo é que cada um tem uma conta separada”, completa, ao indicar que a maioria opta pela aquisição de terras. Aretz não descarta, no entanto, o lançamento de um fundo que abrigue mais de um investidor. “Estamos estudando isso”, limita-se a dizer. Ele estima que o volume sob gestão da empresa possa dobrar até o primeiro trimestre de 2011, tamanha é a demanda por esse tipo de investimento.
De acordo com o executivo, a questão de respeito a critérios socioambientais sempre permeia as atividades da gestora. “Temos por princípio sempre contratar pessoas da região em que estamos trabalhando com o plantio de florestas justamente para colaborar com a geração de emprego e renda no entorno”, exemplifica. Ele aponta que os investidores têm a preocupação de garantir que a atividade seja favorável ao meio ambiente, à comunidade do entorno e às gerações futuras. “Se houver qualquer desrespeito a esses princípios eles não investem”, afirma Aretz.
Ele comenta que muitos investidores estrangeiros que têm suas contas com a Brazil Timber vêm visitar as propriedades para, por exemplo, ver o que pode ser feito para aumentar a renda das comunidades e verificar se todos os funcionários estão usando os equipamentos de proteção. “É preciso deixar claro, no entanto, que o investidor não aplica o seu dinheiro em reflorestamento só porque essa é uma atividade relacionada à preservação e que defende as boas condições de trabalho. Ele se preocupa com tudo isso, mas investe para fazer dinheiro”, sublinha.
Apesar de ter no investidor estrangeiro a maior parte de sua clientela, a Brazil Timber também conta com alguns cotistas nacionais, em especial pessoas físicas. Perguntado sobre a possibilidade de angariar recursos de fundos de pensão brasileiros, Aretz diz que isso não está muito no foco da gestora por uma razão muito conhecida no mundo dos FIPs. “As fundações nacionais apresentam uma solicitação muito forte para contar com uma participação ativa nos comitês de investimento dos fundos. Muitas vezes, os investidores internacionais são impedidos de ter assento nos comitês.
Nós teríamos, então, de contar com estruturas de governança muito complexas para atender a esses dois perfis. Como o histórico de investimento em florestas é mais estável lá fora, nós decidimos focar primariamente nos investidores estrangeiros”, explica o executivo.