Recursos previdenciários disputados palmo a palmo | Ativos de fun...

Edição 218

O mercado de gestão de recursos de fundos de previdência, sejam eles fechados, abertos ou de estados e municípios, são disputados palmo a palmo pelas maiores assets do mercado brasileiro. O destaque do primeiro semestre de 2010 ficou para a Bram – Bradesco Asset Management, que conseguiu boas taxas de crescimento entre os fundos de pensão e os institutos de previdência, ganhando posições importantes de seus concorrentes, além de manter a liderança no segmento de previdência aberta, com a gestão de recursos da empresa do grupo, a Bradesco Vida e Previdência.
A BB DTVM não ficou atrás e aumentou sua liderança entre as entidades fechadas de pensão, avançando ainda na disputa pelo primeiro lugar no segmento dos institutos estaduais e municipais. Já o Itaú recuou um pouco entre os fundos de pensão, mas manteve a segunda posição na categoria, ao mesmo tempo em que cresceu nos segmentos de previdência aberta e também entre os institutos dos servidores. O ponto positivo comum entre os maiores gestores de recursos de terceiros foi a expressiva captação de recursos com os planos de previdência aberta, incluindo a Caixa Econômica Federal, que também evoluiu neste segmento.
“O sistema de previdência aberta é um dos que mais cresce na indústria de fundos, e temos uma equipe de gestores dedicados a esse segmento.
É um mercado que avança a taxas importantes e deve continuar assim devido ao crescimento econômico do País”, diz Denise Pavarina, diretora superintendente da Bram, que é líder em previdência aberta, com uma carteira de R$ 73,25 bilhões. O segmento de previdência aberta registra uma das maiores taxas de crescimento em termos de patrimônio nas mãos das assets, de cerca de 20% em seis meses e de 35% em doze. Já o sistema fechado, apesar de não ter uma expansão assim tão expressiva, é palco de uma grande disputa entre os gestores, uma vez que o alvo, na maioria das vezes, são realmente recursos de terceiros, e não provenientes de outras empresas de um mesmo grupo financeiro.
Entre os fundos de pensão, a Bram registrou um importante avanço no semestre e alcançou o terceiro lugar no segmento, deixando para trás a Santander Asset Management, que foi para a quarta posição. “Quase todos os fundos de pensão são nossos clientes, mas agora queremos que cada um deles aumente suas aplicações conosco”, diz Denise Pavarina. “Nossa intenção é oferecer melhor performance em nossos produtos para ganhar mercado dentro de cada fundação”, afirma a superintendente. A asset do Bradesco atingiu a marca de R$ 24,53 bilhões em recursos administrados de fundos de pensão, atrás da BB DTVM e do Itaú.
Entre os institutos estaduais e municipais de previdência, a Bram também registrou resultado positivo, saltando do quarto para o terceiro lugar. “O mercado de previdência está crescendo com outros fundos, como por exemplo, os institutos de previdência dos servidores. É um segmento relativamente novo e muito promissor”, opina Denise. O fortalecimento do foco de atuação entre os regimes próprios de previdência é uma das apostas de crescimento da asset.

Fundos públicos – Apesar dos avanços da Bram e também do Itaú Unibanco neste segmento, a liderança na categoria dos institutos de previdência é disputada com folga pelas instituições de controle estatal, a Caixa Econômica e a BB DTVM. “A experiência e o relacionamento com os institutos de estados e municípios são os principais motivos para nossa liderança no segmento”, diz Bolivar Moura Neto, vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica. “Muitas vezes vemos outros gestores tentando entrar nesse mercado, mas não é fácil, pois é necessário conhecer a situação de cada um dos regimes próprios”, explica.
Nos primeiros seis meses de 2010, a Caixa Econômica teve um crescimento de quase 10% entre esses clientes. Em um ano, a expansão chega perto de 30%. “O ano passado foi excepcional, ganhamos mercado apesar do aumento da concorrência”, analisa. “A entrada de outras assets está acirrando a concorrência mas, apesar disso, não temos perdido mercado”, garante o vice-presidente. Para Bolivar, por ainda ser um segmento novo, a captação tende a ser sempre positiva. “A maioria dos institutos ainda não atingiu a maturidade, por isso, a acumulação do patrimônio é positiva. Esse é o segmento da Caixa que mais cresce em termos de captação líquida”, revela.
A Caixa Econômica acumula bons resultados também no segmento de fundos públicos e governos, que foi o que garantiu a terceira colocação entre as maiores assets. “O varejo não teve desempenho tão bom, apesar de ser um dos pontos fortes da instituição, mas foi compensado pelo segmento público”, diz o vice-presidente. A instituição teve um crescimento de 9% em seis meses, a um volume total administrado de R$ 133,02 bilhões em fundos de governos, atrás apenas da BB DTVM, que contou com R$ 152,52 bilhões. A asset do Banco do Brasil vem registrando crescimento nesta categoria, beneficiada pelo aumento da profissionalização da gestão dos recursos de prefeituras, governos estaduais e secretarias. “A administração pública está claramente mais eficiente”, constata Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM.
Em comparação com o ranking referente ao segundo semestre de 2009, houve uma inversão entre fundos públicos e fundos de pensão em termos de volume. No Top Asset com dados de julho a dezembro de 2009, as entidades fechadas de previdência tinham o maior patrimônio sob gestão de terceiros, com R$ 274,57 bilhões, seguidas pelos fundos públicos, com R$ 270,61 bilhões. Na mais recente edição, com informações dos primeiros seis meses de 2010, os recursos de governos e fundos estatais somaram R$ 304,12 bilhões, enquanto o volume de aplicações das fundações atingiu R$ 282,61 bilhões.

Caixa e Itaú – Além de fundos públicos e regimes próprios, outro segmento de destaque para a Caixa foi o de previdência aberta. Entre janeiro e junho, a asset teve um crescimento de quase 120% em recursos desse ramo. Segundo o vice-presidente Bolivar, a instituição vem buscando diversificar as opções de investimento nesse nicho. “Tradicionalmente, operávamos exclusivamente com renda fixa, principalmente títulos públicos. Nos últimos anos, buscamos diversificar o portfólio, direcionando também para fundos de maior risco”, conta. A diversificação ajudou no aumento da captação, pois segundo Bolivar, um mesmo cliente não costuma deixar todos seus recursos de previdência em um mesmo tipo de fundo. “Os clientes estão deixando parte em fundos mais tradicionais de renda fixa e começando a entrar em multimercados. Com esse comportamento, já estamos pensando em montar outros tipos de fundos pra absorver a diversificação”, sinaliza.
A asset do Itaú Unibanco registrou crescimento em segmentos semelhantes aos da Caixa Econômica, ou seja, previdência aberta e institutos estaduais e municipais. Neste último, o Itaú Unibanco avançou 63,27% em volume de recursos administrado em 12 meses e passou da quinta para a quarta posição do ranking. Já no segmento dos fundos abertos de previdência, a gestora se manteve na segunda posição, atrás apenas da Bram, com um crescimento de 25,62% em um ano.
“A previdência aberta é uma das principais apostas para o nosso crescimento. Com a estabilidade econômica, a procura por esse tipo de produto aumentou bastante”, diz Paulo Corchaki, diretor de gestão de recursos do Itaú Unibanco. O executivo explica que com o aumento da massa salarial, as pessoas se sentem mais confortáveis em aplicar no longo prazo.
O Itaú Unibanco mantém a liderança em outros segmentos como private, middle private e corporate, nos quais ainda mantém grande distância das demais assets. Já no segmento de middle market, o Itaú Unibanco está no topo, mas é seguido de perto pela BB DTVM.
E se houve avanço no volume de previdência aberta, entre os fundos fechados o Itaú Unibanco registrou um pequeno recuo de 3,76% no último semestre. Segundo Corchaki, a queda no volume sob gestão de recursos de fundo de pensão não representa nenhuma mudança de prioridade na atuação da asset. “É um mercado em que continuamos com o foco, mantendo uma estrutura de gestão própria para as necessidades específicas desses clientes”, esclarece o diretor.
Outra gestora que acumulou bons resultados no segmento da previdência aberta foi a Santander Asset Management, que também apresentou recuo na categoria de fundos de pensão. A gestora obteve bom resultado também no segmento de recursos de seguradoras. “Adotamos uma estratégia de diversificação do tipo de cliente e o segmento de seguradoras foi uma de nossas prioridades”, revela Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos de renda fixa da Santander Asset Management. Ele explica o crescimento de 93,98% nos últimos 12 meses e a conquista de carteiras de seguradoras de fora do grupo Santander como resultado dessa estratégia.

Fundos de pensão – Na categoria de fundos de pensão, foram poucos os gestores que contaram com um crescimento representativo. Entre eles, o destaque fica para Safra Asset Management e Mapfre. Dos dez maiores gestores neste segmento, os crescimentos mais significativos foram do BTG Pactual e da BNY Mellon ARX, que se manteve na sexta posição mas avançou 13,82% no primeiro semestre de 2010. “A instabilidade externa foi grande e a Bolsa não ajudou muito, mas mantivemos o crescimento entre os fundos de pensão mesmo se tratando de um semestre difícil”, diz Guilherme Cavalcanti, diretor comercial de clientes institucionais do BNY Mellon.
Ele acredita que o segundo semestre promete melhores resultados na captação de recursos dos institucionais. “As fundações que não estavam bem posicionadas em Bolsa estão aproveitando o momento para aumentar a exposição”, opina.
A asset do Banco do Brasil continua na liderança no segmento de fundos de pensão e obteve crescimento de 8,09% no volume de recursos deste tipo de cliente no primeiro semestre. No período, a BB DTVM conquistou alguns fundos exclusivos de fundações. “Quando falamos em fundos de pensão, os patrimônios líquidos são sempre significativos. Vencemos algumas concorrências de fundos exclusivos e isso de fato fez diferença nos primeiros seis meses do ano”, comenta Takahashi, presidente da asset.
O executivo acrescenta que a Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), de setembro do ano passado, incentivou nas “entrelinhas” a aplicação dos recursos das fundações em fundos de investimento abertos. “Como temos alguns produtos destinados especificamente aos institucionais, registramos ingressos interessantes no período”, informa. Takahashi detalha ainda que a maioria das demandas das entidades fechadas de previdência foi por fundos de renda fixa, com aplicações majoritariamente em títulos públicos. “Tem alguma procura por crédito também. Nesse caso, o interessante é que algumas fundações tentaram acessar o mercado de crédito diretamente e, muitas vezes, não foram tão bem sucedidas. É possível perceber, então, que as grandes casas, que têm toda uma especialização na área de análise de crédito, dão uma contribuição importante e fundamental para esse tipo de investimento. Por isso se espera um crescimento desse segmento”, aponta.
No segmento de institutos estaduais e municipais, Takahashi projeta que a BB DTVM vai assumir em breve a liderança do mercado, à frente da Caixa Econômica Federal. “Estamos realizando um forte trabalho de capacitação da rede de atendimento do Banco do Brasil, de educação dos gerentes, que tem como objetivo treinar a força de vendas para os regimes próprios”, conta.
Além do treinamento comercial, o executivo explica que o avanço da BB DTVM no segmento de institutos estaduais e municipais também se deve à adaptação dos fundos à Resolução número 3.790 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que estabelece que os recursos dos institutos aplicados em fundos de renda fixa tenham como parâmetro o IMA – Índice de Mercado Anbima ou um de seus subíndices. “Não é uma questão só de trocar o benchmark. Existe todo um trabalho de ajuste dos ativos”, afirma Takahashi. O presidente da BB DTVM conta que, de início, foi adaptado um fundo de liquidez. “É um fundo de caixa mesmo, para que os regimes próprios não fiquem sem opção”, indica. Depois, foi criado um produto que segue o IRF-M1. “Há demanda de grandes regimes próprios por este tipo de fundo”, sinaliza. A asset registrou crescimento de 26,62% no volume de recursos administrados dos institutos em 12 meses e de 10,41% em um semestre.
Outro segmento em que a BB DTVM conseguiu crescimento expressivo foi entre os clientes private. Neste caso, o bom desempenho da asset é uma consequência da reestruturação desta área no Banco do Brasil. “Houve uma mudança de abordagem e um aumento no número de officers”, lembra Takahashi. No que cabe à BB DTVM, o modelo multigestores ganhou novos membros e foram lançados novos produtos. “O cliente private gosta de produtos inovadores. Por isso, estamos sempre fazendo lançamentos”, diz.
No primeiro semestre de 2010, foram lançados dois fundos de capital protegido – um Ibovespa e um ligado ao setor de petróleo. Em 2009, as novidades também eram produtos de capital protegido, sendo um relacionado a ouro e o outro a commodities agrícolas. “No ano passado, consideramos que o mercado já estava muito saturado de Ibovespa e achamos por bem não lançar um fundo de capital protegido vinculado ao índice”, argumenta Takahashi. E enquanto as commodities agrícolas estariam relacionadas ao vigor na atividade econômica mundial, o ouro seria ligado a um cenário internacional não tão positivo assim. Em 2010, a BB DTVM considerou que já era hora de lançar um capital protegido Ibovespa. E todas as expectativas com relação ao setor brasileiro de óleo e gás motivaram a oferta do fundo de petróleo. Além dos de capital protegido, foram lançados outros dois novos fundos para o cliente private: um multimercado com 20% de investimento no exterior e um de crédito privado, em parceria com a Votorantim Asset.

Estrangeiros – Outro segmento que cresceu com força no primeiro semestre de 2010 foi o de investidores externos, com expansão de mais de 21%.
Considerando o resultado em 12 meses, foi o segmento que mais teve avanço – cerca de 70%. Para o diretor de investimentos do HSBC Global Asset Management, Mário Felisberto, há um processo de aumento de clientes estrangeiros, principalmente voltados para a renda fixa. “O risco que os efeitos da crise na Europa poderia gerar na economia global prejudicou um pouco o mercado de ações e deixou esse investidor mais avesso a risco, mas a renda fixa no Brasil continuou atrativa”, lembra. O crescimento do volume administrado de clientes de outras nacionalidades na carteira do HSBC superou 250% em 12 meses, atingindo um R$ 15,15 bilhões em junho de 2010.
Para a BNP Paribas Asset Management Brasil, houve uma perda de recursos no curto prazo devido à maior aversão a risco, mas já foi sentida a retomada ao final fim do primeiro semestre. “Enxergamos essa retomada e esperamos um bom fluxo de estrangeiros no segundo semestre”, diz o responsável por produtos off-shore da instituição, Rafael Bardella.