A SPX Capital, gestora com ênfase em fundos multimercados com forte exposição ao risco internacional, está atenta ao crescente aumento do risco global nos últimos três a quatro anos. “Estamos com cerca de 60% a 70% de nossos ativos com exposição a risco global, diz o sócio e responsável pelas relações com investidores, Rodrigo Godinho. “Esse é nosso diferencial em relação à indústria de multimercados local, pautada fortemente em investimento no Brasilâ€. A gestora tem atualmente R$ 60 bilhões de ativos sob gestão (AUM na sigla em inglês), dos quais R$ 50 bilhões concentrados em quatro multimercados que capitanearam o crescimento de 50% em AUM ocorrido no último ano - 60% por novas captações e o restante por performance.
Segundo Godinho, a casa vem buscando esse diferencial global desde 2016, montando escritórios em Londres e Nova York como base para o direcionamento ao risco global, seguindo o modelo dos hedge funds multiestratégias internacionais. A principal vertente de alocação é por meio de fundos de ações, mas no ano passado a gestora estreou dois novos segmentos, os de real estate e private equity, além de ter crescido também em crédito e nos fundos de previdência privada, explica Godinho.
Para 2022, a aposta do mercado de ações está baseada na análise dos diferentes momentos que encontram-se os paÃses em relação aos ciclos econômicos e, em particular, nos movimentos do Fed, com posição defensiva para a carteira de EUA. O cenário de crescimento global ainda é positivo e a inflação alta poderá ser cadente, mas as alavancas monetária e fiscal vão trabalhar contra, observa Fernando Gonçalves, sócio e head do book topdown de ações globais.
O grande problema é saber o que será feito da polÃtica monetária nos EUA e o quanto ela será restritiva. “O maior risco é a inflação surpreender para cima e o Fed não se limitar a fazer cinco altas do juro, como o mercado tem precificado, mas aumentar isso para seis vezes, como aliás a SPX já tem previstoâ€. E haverá também o impacto de uma eventual redução no balanço do Fed e seu impacto sobre os mercados.
“Se a inflação nos EUA não convergir para baixo, sairemos de um cenário que ainda é positivo para outro de maior agressividade do Fed na elevação dos jurosâ€, avalia. “A projeção por enquanto é de que haja uma convergência da inflação norte-americana para 2,5% até o final deste ano, com um crescimento econômico da ordem de 3,5% a 4% graças ao acúmulo da poupança da famÃlias e das empresas, então a economia americana deverá crescer pelo lado do investimentoâ€, pontua.
Nesse contexto, as carteiras de ações globais da SPX buscam empresas com capacidade para repassar inflação de custos, que sejam dominantes em seus setores e menos alavancadas, além de estarem em regiões do mundo cujo crescimento seja favorável. "As nossas posições em EUA ficaram bastante defensivas", explica o gestor.
A tese do ciclo econômico dos EUA, que vai crescer mas em ritmo desacelerado, prioriza empresas menos sensÃveis a essa desaceleração, mais capazes de ganhar market share e com fluxo de caixa que seja fácil de ser estimado. â€Não gostamos das empresas que já tiveram forte crescimento e que tenham sido muito influenciadas pelo juro real negativo. Preferimos ter mais cautela no curto prazo, esperando por mais dados sobre a inflaçãoâ€.
Europa - Na Europa também há perspectiva favorável a partir do segundo trimestre mas o grande risco será o fornecimento de gás natural porque a matriz energética européia é muito frágil diante da demanda criada pela migração da economia para fontes de energia verde. “Esse processo de transição foi mal feito e deixou a Europa fragilizada frente à Rússia, seu principal fornecedorâ€, lembra Gonçalves.
O portfolio europeu da gestora é pequeno e concentrado em dois temas: serviços/lazer e o grupo de ações que se beneficiam da agenda verde pela mudança da matriz energética. Mas tudo vai depender de como será encaminhada a questão da Ucrânia e do fornecimento de gás.
China - Na China, a expectativa é de crescimento de 5,1% do PIB este ano mas o que se espera deles é uma aceleração do ritmo de expansão ao longo dos próximos dois a três anos. "O mercado está mais barato e grande parte da agenda regulatória já foi definida", lembra. Mas há também riscos ligados a problemas estruturais da economia chinesa, como por exemplo a redução da alavancagem das construtoras e seu efeito no setor de properties. “Gostamos do mercado chinês de ações e do crescimento da economia do paÃs, que na margem vai acelerar", afirma o gestor.