Edição 160
O setor financeiro é o que mais consome recursos de TI e coloca os fornecedores de equipamentos softwares e serviços num círculo virtuoso de crescimento
Segundo dados da Febraban, os bancos investiram mais de R$ 4,2 bilhões em tecnologia da informação no ano passado. Este valor se estabilizou entre 2003 e 2004, mas houve um crescimento real, pois o real foi valorizado em 15% e uma boa parte destes investimentos é dolarizada. Ou seja, o crescimento aumenta a cada ano.
De olho neste filão, aumenta também a dedicação das empresas de TI com o setor financeiro, responsável por cerca de 60% da receita de empresas como Computer Associates e Attps. No caso da Eversystems, essa participação chega a 90%. Já as demais, especialmente as multinacionais, mantêm esta informação guardada às sete chaves, mas garantem que a fatia que vem dos bancos é maior que dos demais mercados, só comparável ao setor de telecomunicações.
Este fato se explica pela natureza do setor que, pela competitividade e velocidade de lançamento de novos produtos tem uma dependência tecnológica para viabilizar essa agilidade. “Sem falar que a tecnologia promove uma melhoria do nível de serviços, aumenta a base de clientes e traz segurança da informação”, explica Luís Simões Gouveia, sócio da IBM Business Consulting para o setor financeiro.
Segundo Simões, no caso das empresas de asset management, eles têm características próprias. Como se trata de um setor relativamente novo, ele tem crescido muito nos últimos anos e a grande necessidade deste setor são os novos softwares – enquanto a necessidade dos demais é a integração dos sistemas legados. Ou seja, trata-se de um setor potencialmente lucrativo para as empresas de tecnologia. Tanto que a IBM já percebeu isto e vai investir em soluções para este setor nos próximos dois anos.
A proatividade da IBM tem respaldo em números. Dados da Febraban confirmam que a área de recursos de terceiros dos bancos vem crescendo conti-
nuamente nas suas diferentes formas, superando a inflação registrada nos últimos anos. Isto atesta a contínua ampliação de sua base de clientes e o crescimento da área de gestão de fundos.
Pequenas e médias competitivas – A Attps, fornecedora de softwares para fundos de pensão e backOffice bancário, nasceu numa instituição financeira. Há 15 começou prestando serviços num banco de Minas Gerais, adquiriu experiência no setor e não parou mais. Hoje, seis dos 12 maiores fundos de pensão são clientes da empresa, como FunCESP, Forluz e Citibank. Só neste setor, são 23 clientes que utilizam o sistema Amadeus, um software de gestão integrada que controla as contribuições dos cotistas, orçamento, contabilidade e finanças.
Já o sistema Finansys, de backOffice bancário, que controla empréstimos, compras, capital de giro e até gestão de recebíveis, é utilizado por 29 bancos, entre eles Banco do Brasil, Santander, ABN Amro e BankBoston. “O sistema serve para qualquer instituição financeira”, diz Leonardo Hermetto, gerente de mercado. “Dependendo da necessidade do cliente, pode ter algumas adaptações, mas a base é a mesma”, diz o executivo.
Ambos os sistemas crescem cerca de 30% ao ano, sendo que o Finansys já existe há oito anos e o Amadeus há seis anos. E pelo andar da carruagem, a Attps vai continuar com uma grande fatia de mercado. “Não há grandes players para softwares de backOffice no mercado financeiro, somente empresas locais de pequeno e médio porte”, justifica Hermetto.
Já a Eversystems caminha no lado oposto, o do front-end, com aplicações de Internet banking e portais de relacionamento com clientes. A dedicação ao setor está rendendo à empresa cerca de 12% ao ano de aumento no faturamento e é uma das poucas empresas brasileiras que atua no exterior, como países da América Latina e África.
Para Raul Pavão, diretor de marketing da Eversystems, a tecnologia bancária brasileira é das mais avançadas do mundo, pois a conjuntura econômica obrigou os bancos a se adaptarem rapidamente às mudanças de moeda e a necessidade permanente de adequação às novas regras. “O poder de investimento é alto e paradoxalmente existe a necessidade de redução de custos, que também se consegue com tecnologia”, explica ele.
Gigantes também disputam mercado – A Oracle, conhecida por ser grande fornecedora de banco de dados, quando o assunto é o mercado financeiro vai muito além do seu produto principal. A empresa fornece seu sistema de gestão integrada mundialmente para 17 dos 20 maiores bancos, entre eles HSBC e ABN Amro e mantém no Brasil uma equipe de seis executivos para atender às grandes instituições.
Esta dedicação começou há cerca de quatro anos e com ela uma das áreas que se tornou forte é a de consultoria, onde existem quatro mil profissionais em todo o mundo. No Brasil, pelas características do mercado financeiro, a área é referência na América Latina e exporta consultores para o México e a Argentina. Esse time se organiza em função de projetos, com especialistas de diversos setores.
Em software, a oferta é a suíte Oracle Financial Solution, cujo destaque é o módulo RCM (Risk Control Management), que faz a gestão do patrimônio e avalia desde o risco do portfólio até o risco específico de cada cliente, pois armazena dados demográficos dos mesmos, histórico das informações e análise da rentabilidade.
Já que a empresa é mundial e existem necessidades locais, a empresa faz parcerias com cerca de 15 ISVs – Independent Software Vendors da área financeira para que eles se utilizem de tecnologias Oracle para fornecer soluções que atendam ao mercado brasileiro.
Outra empresa que atua nos mesmos moldes da Oracle para poder atender às necessidades dos bancos locais é a Microsoft. São 15 mil parceiros que atendem a diversos setores para desenvolvimento de software, integração de soluções e serviços de consultoria, entre eles Attps, Infoserver e Ciacorp.
Para uma empresa global como a Microsoft, a diferenciação do Brasil com os outros mercados é a sofisticação. “O mercado financeiro brasileiro tem soluções mais criativas e está mais adiantado que a Europa e os Estados Unidos”, garante Felipe Kury, diretor comercial para indústria e serviços financeiros.
Enquanto para a Microsoft a maior demanda do mercado se dá com servidores e o Office System, que amplia a colaboração e a integração dos processos, na Computer Associates o forte são os softwares de gerência de redes e servidores e gerenciamento da identidade e acesso dos usuários. Tudo isso para atender aos requisitos de segurança das instituições financeiras. “O mercado está muito preocupado com a segurança de porta, como antivírus e firewall, mas na verdade a maior parte dos ataques vêm de dentro das empresas”, lembra Gerson Gonçalves, diretor de estratégia da CA.
Já a Citrix é especializada em infra-estrutura de acesso e pode transportar qualquer tipo de aplicação de algum sistema legado para outros dispositivos, como PC, Palm e notebook. Para Vicente Lima, diretor regional de vendas da Citrix, o grande desafio do banco é levar a mobilidade para o cliente, além de melhorar a segurança e a estratégia de acesso.
A exemplo das demais gigantes de tecnologia, a Citrix vem se dedicando ao setor há cerca de dois anos, em função de fusões e aquisições presenciadas neste mercado. Já conquistou os dez maiores bancos nos Estados Unidos e na Europa e os dez maiores bancos brasileiros. “Crescemos 26% em 2004 e vamos fechar 2005 com US$ 2,2 milhões de faturamento”, comemora Lima.