Edição 160
Desde que a tecnologia da informação chegou no mercado financeiro, ele nunca mais foi o mesmo. O setor é o que mais investe em serviços, hardware e software
Se a necessidade de rapidez veio com a tecnologia ou a tecnologia é que provocou velocidade nas transações, não faz diferença – o fato é que o desenvolvimento da tecnologia nos últimos anos transformou o conceito de administração de recursos. O mundo dos investimentos passou a contar com transações feitas em tempo real, sem barreiras de distância e com rápido acesso às informações.
“A tecnologia faz parte do fluxo de negócios, devido ao grande desenvolvimento do mercado financeiro”, afirma Carlos Augusto Oliveira, diretor de operações e tecnologia do BankBoston. Tanto que os gerentes de produto entendem de tecnologia e se envolvem com a equipe de TI na elaboração de novos produtos. “Muitos destes profissionais vieram da área de informática, fato que seria improvável há dez anos”, justifica ele.
Como o BankBoston está muito focado no desenvolvimento de canais eletrônicos, como Internet Banking, portais B2B e outras aplicações pela web voltadas para o relacionamento com o cliente, o desenvolvimento de soluções financeiras inevitavelmente passa pelo cunho tecnológico. Um desses resultados é o site de serviços financeiros corporativos do banco, há dois anos no ar, cujo objetivo é facilitar a tomada de decisão fornecendo o fluxo financeiro do cliente. Pelo portal, é possível fazer simulações e verificar seu fluxo de caixa à medida que as transferências são feitas em tempo real.
Com 175 mil clientes ativos, dos quais 25 mil são pessoas jurídicas, o banco oferece cerca de 50 produtos diferentes. Para controlar todo o fluxo de informações, a empresa resolveu contratar os serviços de manutenção de suas operações da IBM. Todos os softwares rodam no datacenter da terceirizada, mas a equipe de inteligência, que faz a arquitetura dos produtos, permanece interna. O monitoramento, que garante a disponibilidade e o funcionamento das máquinas, também é uma operação interna que funciona 24 horas.
“Decidimos terceirizar para nos dedicarmos mais ao nosso negócio, que é o desenho das soluções”, justifica Oliveira. Mas os parceiros de tecnologia não se limitam à IBM, que também forneceu os bancos de dados. As estações de trabalho são da HP e a empresa tem sistemas da Computer Associates e Microsoft.
Instituições Complexas – Os fundos de pensão também são grandes consumidores de tecnologia, pois trabalham com alto volume de informações, como procedimentos, investimentos, gestores, empresas e dados previdenciários. Esse emaranhado de entidades só pode ser entendido com a ajuda da informatização.
No caso da Fundação CESP, que trabalha com 13 patrocinadoras e 140 mil vidas, a instituição vem investindo maciçamente em equipamentos e sistemas há cinco anos. Em 2004, o valor investido foi de R$ 4,9 milhões e a previsão para 2005 é de terminar com quase o mesmo montante investido no ano anterior, R$ 5 milhões. “Nós tínhamos um mainframe que não estava mais suportando tanto volume da dados e levamos sete meses para fazer a migração para uma plataforma baixa”, lembra a gerente de informática Magali Martins Bernal. E nesta época eram somente três patrocinadoras.
Com a migração de plataforma, foi necessário rever processos e implementar novos sistemas de fornecedores do mercado, como a Attps, com os sistemas de previdência e saúde, a Plusoft, com o CRM (Costumer Relationship Management) para gerenciar o relacionamento com clientes, e os sistemas de back office e investimentos da Policentro.
Todo o parque tecnológico da FunCESP é mantido dentro de casa e todas estas mudanças já têm resultados para a fundação, já que uma das principais metas destes investimentos é criar condições favoráveis aos objetivos de negócios. “Os maiores ganhos são a eficiência, controle de processos e principalmente transparência, pois a prestação de contas se torna acessível para o comitê gestor”, exemplifica Magali.
Um dos destaques em resultados para a organização foi a criação do portal de auto-atendimento para os participantes e patrocinadores. Além de diminuir custos de ligações telefônicas, o objetivo foi oferecer mais um canal de comunicação além do atendimento pessoal em três lojas e as chamadas pelo call center, também mantido internamente. Em seis meses de atividade a aceitação foi bastante positiva, pois os usuários podem simular a própria aposentadoria, os aposentados podem imprimir segunda via do holerith e a patrocinadora pode emitir relatórios gerenciais, entre outras facilidades.
A FunCESP exerce seu pioneirismo no setor de auto-atendimento com a implementação de 12 quiosques da Itautec nos sindicatos e associações, para facilitar o acesso às informações por parte de aposentados e previdenciários. “Os primeiros serão implementados em agosto e até dezembro teremos concluído e já viramos case de sucesso”, comemora Magali.
Atualização rápida – A Sabesprev também possui portal de auto-atendimento em tempo real para atender 65 mil clientes, dos quais 18 mil ativos. A diferença é que suas operações serão terceirizadas para um datacenter. A iniciativa se justifica pela rapidez que a tecnologia avança. Uma instituição bancária, cujo core business não é tecnologia, precisa investir muito para acompanhar a evolução das máquinas. E isso significa muitos recursos financeiros e recursos humanos.
“Nosso negócio não é tecnologia, então vamos abrir uma licitação e até o final do ano estaremos com nosso parque tecnológico em outra empresa”, explica Paulo Menezes, diretor de gestão da Sabesprev. Com a medida, os investimentos anuais de 700 mil reais em tecnologia devem ficar 30% mais baixos.
A terceirização envolverá atividades relacionadas à infra-estrutura de tecnologia, tais como: suporte ao usuário, segurança física e lógica, monitoramento e controle da rede. Porém, a gestão destes serviços continuará com o analista da Fundação que cuida da infra-estrutura.
Com a medida, os analistas de informática terão nova função, pois eles eliminarão as tarefas rotineiras do dia-a-dia, como realizar o monitoramento do sistema ou atender a um usuário que não consegue acessar um aplicativo, para se dedicar às tarefas voltadas à gestão da infra-estrutura. Já os analistas de negócio fazem parte de outra equipe da Tecnologia da Informação, que cuida do desenvolvimento de soluções.
Como parte desta diminuição de tarefas burocráticas, os 100 colaboradores da instituição serão treinados para se dedicarem mais à tecnologia e diminuírem a dependência com os técnicos. Serão oferecidas 60 oportunidades de treinamento para que mais de 60% dos técnicos, analistas e gerentes se habilitem com os aplicativos mais comuns ainda este ano, como o PowerPoint e o Access. “Já que a tecnologia faz parte da rotina, vamos romper a dependência dos funcionários para montar uma apresentação ou fazer uma planilha sem precisar chamar um técnico a todo momento”, conclui Menezes.
O fim do contrato em papel
A certificação digital é uma tecnologia que vai permitir às instituições financeiras eliminar as barreiras físicas para a assinatura de contratos, já que o portador do cartão emitido pela Receita Federal terá um chip que comprova sua autenticidade praticamente em qualquer operação. Contratos, empréstimos, pagamentos sem limite de valor e câmbio poderão ser feitos desta forma e o banco, ao receber uma requisição, verifica os campos do certificado digital, a partir desses dados pode-se ter certeza que a origem da requisição é confiável e autêntica. Este certificado é transmitido por uma conexão segura.
O BankBoston promete implementar a tecnologia no curto prazo e acredita que será o padrão adotado em todos os bancos para o mercado corporativo em geral. “A tecnologia evolui e favorece cada vez mais a movimentação financeira remota. Só não ajuda ainda o cheque, mas aos poucos ele vem sendo substituído pelos cartões”, anima-se o diretor de operações e tecnologia Carlos Augusto Oliveira.