Edição 266
O mercado de FIDCs teve um ano de 2014 bem abaixo das expectativas que haviam para esse segmento no fim de 2013, por uma série de razões listadas por Bruno Amadei, sócio da Integral Investimentos, eleito o melhor estrategista de FIDCs no Troféu Benchmark. “Talvez eu tenha errado no prognóstico no ano passado, mas também não estava tão pessimista com o desempenho da economia”, fala o especialista.
No inicio do ano, recorda Amadei, eram 430 fundos de direitos creditórios no mercado brasileiro, número que passou agora para 474. Entretanto, em termos de PL, houve uma redução do volume, que caiu de R$ 82 bilhões para cerca de R$ 72 bilhões. Boa parte dessa queda, explica o sócio da Integral, está relacionada a um grande FIDC da Petrobras que concentrou as perdas do mercado. “Mas a queda também ocorreu por ter sido um ano fraco em termos de operações”.
Em 2014, diz o sócio da Integral, o que se viu foram muitas operações de FIDCs na categoria de multi-cedentes e multi-sacados, na qual os fundos têm liberdade para comprar direitos de crédito de empresas e devedores diferentes. “Ocorreram algumas transações grandes, das Lojas Renner, da Omni, mas não tiveram muitas emissões de grande qualidade. O que saiu muito foram operações multi-cedentes e multi-sacados, que é um segmento de maior risco, que não é tao difundido e nem todos os investidores gostam”.
Uma das razões para o otimismo do executivo em dezembro de 2013 para uma retomada do mercado de FIDCs, que acabou não se confirmando, era por conta da implementação da Instrução 351 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no mercado de FIDCs. “Dado todo o arcabouço de governança promovido pela CVM, esperamos que em algum momento isso se reflita em um mercado mais promissor. Esperávamos que isso fosse um ingrediente para fazer a indústria ter dias melhores já em 2014, mas não foi isso que ocorreu “.
A entrada da nova norma da CVM, em fevereiro, que visa trazer mais segurança aos investidores, fez com que o mercado, até a Copa do Mundo, ficasse praticamente estagnado. “O mercado ficou patinando em cima das interpretações da nova norma. Houve o encerramento de alguns fundos que não se enquadravam. Os estruturadores tiveram de achar novas soluções, isso tudo demora um pouco”, pontua Amadei. Segundo o especialista, ocorreram algumas operações relevantes, mas não foi um ano em que se esboçou uma retomada como poderia ser, pelo potencial que tem o mercado de FIDCs.
Além das adaptações em termos de estruturação de produtos por conta da nova norma, o executivo ressalta que os novos requisitos feitos pela autarquia, como a total segregação das atividades de custódia e administração dos fundos, ainda que feitos pela mesma instituição, encareceram os custos das operações. “Para algumas transações menores, o aumento do custo pode inviabilizar novas operações”, pondera Amadei. O executivo é formado em Administração pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), e pós-graduado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). O executivo ainda passou pela diretoria financeira de instituições como o antigo BankBoston, Citibank, Banco BMC e BMG, com o qual veio a desenvolver uma parceria estratégica posteriormente.
Para o ano que vem, uma das apostas que seguem no radar do sócio da Integral como um nicho em potencial para estruturar operações via FIDCs é o de infraestrutura. “Esse é um setor que ainda não decolou em forma de FIDC, a preferência no mercado de capitais é por trabalhar principalmente através de debêntures, talvez por serem incentivadas, ou por ser mais simples para estruturar uma operação”, afirma Amadei. “Sinto que há dinheiro da parte dos investidores e as condições estruturais para o produto existem. O que precisamos ver agora é se teremos uma resposta do ponto de vista econômico para ampliar a possibilidade de trazer novos produtos”.