Marcação a mercado salva | Ranking exclusivo revela perfil de inv...

ALESSANDRA: títulos longos ajudaram

Edição 239

A combinação perversa de juros em queda e bolsa de valores despencando foi fatal para os resultados dos fundos de pensão no ano passado. Poucas das 133 fundações que enviaram suas informações para o ranking Top Atuarial – Fundos de pensão conseguiram bater suas metas atuariais de 2011. Apenas as primeiras classificadas nos rankinks de rentabilidade conseguiram essa façanha.

Os investimentos das fundações presentes nesta edição do Top Atuarial – Fundos de pensão somavam R$ 464 bilhões na posição de 31 de dezembro de 2011, com pouco mais de 1,6 milhão de participantes. Do total, 1,1 milhão eram participantes ativos e 505 milhões assistidos, 44% estavam em planos BD, 16,32% em CDs e 36,04% em CVs.

Em relação à rentabilidade, a fundação Banrisul conquistou a melhor posição no ranking geral e no ranking de renda fixa. No primeiro obteve rentabilidade de 21,94% e no segundo de 34,98% no acumulado do ano passado. Esses resultados foram influenciados pela marcação a mercado dos títulos públicos que propiciaram ganho de R$ 331 millhões na carteira de renda fixa. Em relação aos investimentos em renda variável, a fundação promoveu ao longo de 2011 um maior direcionamento a ações de empresas voltadas ao consumo interno, a redução da exposição a papéis de companhias expostas ao setor de commodities e o direcionamento de recursos para fundos de participação estruturados.

Também a Ceres, 2º lugar no ranking rentabilidade geral e de renda fixa, foi beneficiada pela adoção da marcação a mercado na carteira de renda fixa. “Eu nunca tinha visto nada igual na história recente”, diz o diretor de investimentos da Fundação Ceres, Dante Scolari, referindo-se à surpresa gerada em agosto do ano passado, quando houve queda da Selic e a previsão ainda era de alta. Cerca de 70% da carteira de renda fixa da fundação Ceres está aplicado em títulos federais e o restante em títulos privados.

Apesar da mudança dos juros avaliada como brusca, o diretor destaca que a fundação avaliava o movimento de corte da taxa como uma tendência.  “Desde o início do governo Dilma (Roussef) já havíamos percebido que havia uma tendência de médio e longo prazos de queda dos juros e, quando houve o primeiro corte da Selic em agosto do ano passado, nos reunimos e concluímos que aquele movimento era uma tendência que veio para ficar e que ia ser implementada de forma rápida e consistente”, diz.

A terceira colocada no ranking de rentabilidade geral foi a Sistel, que também aplica o critério de marcação a mercado na carteira de renda fixa. No entanto, para o diretor financeiro da Sistel, Carlos Alberto Cardoso Moreira, essa prática “não foi preponderante” para a performance da rentabilidade. Realmente, na renda fixa a fundação não está entre as 10 melhores rentabilidades enquanto na renda variável está em quarto lugar. Assim, foi o desenpenho da renda variável que alavacou a fundação no resultado geral.

Segundo Moreira, 60% da carteira de renda variável é direcionada a papéis da BRF Foods e CPFL. “Montamos uma estrutura voltada a dividendos”, diz ele, relevando também forte participação nas ações da Embraer. Moreira destaca o retorno obtido com imóveis, com participação em dois shopping-centers e 14 imóveis voltados à locação. Segundo ele, a parcela da participação em imóveis deve ser mantida ao longo deste ano, mas há interesse em ampliar a participação em recebíveis imobiliários. A fundação ocupa, atualmente, a primeira posição do ranking, em patrimônio, dos fundos de pensão patrocinados por empresas privadas e conta com pouco mais de 26 mil participantes.

Dentre as cinco melhores performances de rentabilidade, o destaque foi a Prevhab, fundo multipatrocinado cujo principal plano é o BD Plenus, que reúne os funcionários do extinto BNH. O retorno alcançou 13,79% e é superior em 2,31 ponto porcentuais à meta, de INPC mais 5%. Com R$ 540 milhões investidos, o Plenus conta com R$ 36,4 milhões direcionados a títulos públicos, que foram marcados na curva, e R$ 51 milhões em créditos privados e depósitos.

Tendências – Para a consultora sênior da área de investmentos da consultoria Towers Watson, Alessandra Cardoso, as melhores performances de investimento foram obtidas pelas fundações que detinham maiores participações da carteira em títulos públicos de longo prazo atrelados à inflação. Embora a estratégia pareça natural aos fundos de pensão, principalmente para aqueles ligados a planos de benefício definido, a consultora destaca que a estratégia não foi uníssona. “Muita gente focou a variação do CDI por conta de um mix de situações”, afirma. Segundo ela, entre essas hipóteses estão pressão por parte do patrocinador ou do conselho, busca por uma liquidez que se mostrou desnecessária ou mesmo para evitar a volatilidade das carteiras. “Muita gente não acreditou que havia queda das taxas de juros.” Hoje, segundo ela, essas fundações terão que buscar mais risco para alcançarem a meta atuarial.

Neste contexto, a analista aposta no aumento da procura de operações de crédito privado e operações estruturadas, como Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) ou até mesmo debêntures. Por outro lado, lembra a consultora, há aversão ao risco de bancos de pequeno e médio portes e mais cautela com investimentos imobiliários que sofreram recente reavaliação por parte de agências de classificação de risco.

Diante da baixa performance das bolsas de valores ao longo de 2011, Alessandra avalia que os gestores terão que diversificar ainda mais.A participação das carteiras, de forma agregada na renda variável, deve continuar na proporção de 20%, mas outros tipos de fundos precisarão ser avaliados, diz. “Neste contexto, a participação em fundos de ações de dividendos apresentam crescimento. Não sei se por uma boa razão (diante de perpectivas favoráveis) ou por uma razão ruim (se porque as fundações observaram rentabilidades históricas, sem analisar perspectivas”, complementa.