Mais espaço para risco | Investidores institucionais devem agrega...

Edição 360

No ambiente de juros altos, os fundos exclusivos utilizados pelos fundos de pensão se tornaram também mais conservadores e reduziram o risco do ano passado para cá, mas nas políticas de investimento para 2024 já há espaço para tomar um pouco mais de risco, avalia Luiz Sorge, CEO da BNP Paribas Asset Management no Brasil.
Assim como aconteceu nas demais carteiras, os exclusivos também tiveram saída dos recursos alocados em multimercados, renda variável e exterior. “O retorno a essas categorias em 2024, porém, será muito gradual, acompanhando o ritmo de redução da taxa Selic”, afirma.
Somando os R$ 38 bilhões em recursos de EFPC aos das seguradoras, são R$ 45 bilhões geridos para esses dois segmentos, ou metade de tudo o que temos sob gestão – nosso AUM é de R$ 81 bilhões”, afirma. A intenção agora é crescer junto aos RPPS, que respondem por R$ 1 bilhão sob gestão, e assim fechar o círculo da gestão de investimentos para os grandes formadores de poupança de longo prazo. “Queremos crescer no segmento de RPPS, mas é um movimento muito prudente, verificando como dar o melhor foco”, diz.
Nos fundos exclusivos que a gestora mantém hoje para os fundos de pensão, o foco está em multimercados de baixa e principalmente de média volatilidade e na renda fixa/crédito. Além disso, a casa faz a gestão para várias fundações por meio de Fundos de Fundos (FoFs), inclusive investindo em fundos de terceiros. Hoje há mais de 50 gestores externos aprovados e os FoFs incluem quatro estratégias: multimercados, ações, crédito privado e exterior. “As entidades médias têm migrado para esse modelo, principalmente aquelas patrocinadas por empresas multinacionais”, conta Sorge.

Mandatos restritos – Dos R$ 20 bilhões sob gestão na Galápagos Capital, R$ 6,1 bilhões estão na Galápagos Investment Solutions, que atua com mandatos restritos e exclusivos para institucionais. “Começamos com R$ 5 bilhões, no ano passado, e chegamos a esses R$ 6,1 bilhões, que incluem R$ 1 bilhão do segmento large corporate porque às vezes eles estão na B3, explica Sílvio Santos, head de distribuição da Galápagos Capital.
Dos R$ 5 bilhões que vem apenas dos institucionais, 85% a 90% estão em fundos exclusivos. “A Investment Solutions cresceu R$ 1,1 bilhão em captação este ano, em duas estratégias que conquistamos. Uma de ALM para acompanhar o passivo de um plano, além de um mandato de crédito high yield”, informa.
Os fundos de pensão responderam ao juro alto e à volatilidade dos mercados reduzindo sua alocação em risco. Junto a isso, vieram os casos da Americanas e da Light, no início deste ano, que trouxeram mais uma forte dose de volatilidade. “No caso da Americanas já está claro que foi uma fraude e o estrago foi grande. Os investidores saíram desse risco para fundos D+1, com maior liquidez, até porque o CDI estava elevado”, observa Santos.
Como o crédito estressou muito, todas as curvas desse mercado abriram até 4% acima do CDI. Com o início do ciclo de queda dos juros, o investidor tem passado mais para o risco, inclusive no crédito, saindo dos fundos com liquidez alta. A grade inclui fundos com níveis diferentes de liquidez, a partir do D+0. “Transferimos clientes para o menor risco e agora temos caminhado no sentido contrário. Com isso, sofremos menos”, diz Santos.

Perfis – Os perfis de investimento adotados pela Fundação Vexty estão estruturados de modo híbrido, divididos entre fundos exclusivos e condominiais, além de alguns produtos que a fundação compra diretamente, como os BDRs de ETFs. Dos R$ 4,2 bilhões de patrimônio do plano CD, 75% estão alocados em fundos exclusivos e alguns condominais, explica Vinicius Narcizo, diretor de investimentos. São dez perfis com data-alvo, um modelo raro entre as fundações pelo grande número de opções disponíveis.
Cada um dos perfis é uma carteira, com níveis de risco diferentes, com renda fixa, renda variável, exterior e alternativos. “Em cada classe buscamos gestores especialistas e a maior parte é composta por fundos ativos nas diversas classes. Há também Fofs e BDR de ETF e vamos calibrando a montagem dos perfis entre gestão ativa e passiva”, diz.
A alocação de renda fixa, que concentra três quartos do patrimônio da fundação, é a que mais utiliza fundos exclusivos porque nessa classe os volumes são elevados e é possível diluir os custos fixos dos fundos. “Nos volumes mais baixos de alocação, não fazemos exclusivos”, conta Narcizo. Além da questão do custo, a renda fixa também é a classe que tem estratégias bem definidas e com pouca variação. “Na renda variável, classe na qual os gestores podem ter maior liberdade e há variação de estratégias maior, os volumes alocados são menores e aí preferimos os condominiais”, observa Narcizo.
O fator chave é que o gestor tenha sua discricionariedade preservada. “A movimentação financeira fica por conta dele. Definimos os mandatos e eventuais vedações, mas não faria sentido querer influenciar as decisões do gestor. Nosso foco fica no monitoramento vis a vis a nossa estratégia e o objetivo de investimento”, afirma. Hoje há pouco mais de 30 gestores nessa estrutura, incluindo os FoFs, além de uma pequena parcela de gestão própria, mas que aloca diretamente em gestores, ou seja, 100% da gestão é com gestores terceirizados porque mesmo na parte passiva,de BDRs e ETFs, não há carteira própria.

Perfis e ciclos de vida – Com a gestão de renda variável 100% terceirizada junto a nove gestores, além de 12 gestores nas classes de multimercados e estruturados, a Valia mantém toda essa estrutura vinculada a um FIC exclusivo. Todos os cinco perfis de investimento e as nove opções de ciclo de vida oferecidos pela entidade têm acesso a esse fundo, explica Maurício Wanderley, diretor de Investimentos.
Na renda fixa, há uma parte terceirizada para obter liquidez e outra parcela sob gestão própria, ativa. No plano BD, os títulos são indexados à inflação e marcados na curva. No CD, há títulos diversos ligados à Selic e marcados a mercado. “A estrutura montada a partir do FIC exclusivo é uma forma de oferecer a todos os participantes os melhores gestores que selecionamos. Os perfis têm acesso a eles da mesma forma e aos mesmos resultados”, conta.
O patrimônio da fundação, de R$ 30 bilhões, 70% estão em obrigações BD (Benefício Definido) e os 30% restantes estão nos perfis e ciclos de vida. A entidade aproveitou as taxas favoráveis dos títulos públicos para ir às compras desses papéis.
Fundos consolidadores e imunização – Na Fachesf, cujo patrimônio é de R$ 9 bilhões, a gestão terceirizada dos recursos equivale a 38,6% dos ativos. “A renda variável era de gestão própria até recentemente, mas foi zerada e passou totalmente para gestores externos”, conta Felipe Andrade, diretor de administração e finanças. O mesmo ocorreu com o fundo Caixa da entidade, que passou para a gestão da Sul América.
A estrutura é de fundos consolidadores, aos quais todos os planos têm acesso para comprar. “Nossa estratégia é fazer com que a gestão interna seja cada vez mais especializada em selecionar gestores e não escolher ativos, o que nos permite gerenciar melhor e ficarmos mais atentos à macro alocação”, diz. O modelo consolidador, por sua vez, dá flexibilidade de gestão e a negociação de rebates ajuda a reduzir o custo de gestão. “Se for preciso trocar, o custo é melhor do que o da troca de gestor nos fundos exclusivos”, avalia Andrade.
A entidade tem utilizado o mercado de títulos públicos, em que opera por meio de gestão própria, para efetuar a troca dos títulos públicos mais longos – vencimentos em 2045 e 2050 – por outros, mais curtos, marcados na curva.
Essa imunização, ditada pelo ALM, explorou as boas condições desse mercado, conta Andrade. “Isso já foi feito na parte BD do plano CD concedido , que na prática é um CV (Contribuição Variável). Fizemos a compra direta de títulos, e até o final do ano o mesmo tipo de operação deverá estar concluído em todos os BDs”, explica.

Estrutura de Investimentos (em pdf)