Abandonando os títulos públicos | Em busca de maior rentabilidade...

O ano passado foi marcado pelo movimento dos gestores rumo à diversificação de ativos, visando obter maior rentabilidade do que seria possível alocando em títulos públicos. A tendência se acentuou no segundo semestre, provocando um aumento de 38,9% em 12 meses na alocação das assets em ações de empresas brasileiras . A busca por papéis de direitos creditórios também teve um grande desempenho, com crescimento de 67,6% em 12 meses. Já a demanda por títulos públicos teve crescimento bem mais modesto, de apenas 4,1%, enquanto a busca por ativos imobiliários e participações em empresas fechadas diminuiu.
Marcelo Mello, vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica, lembra que no ano passado, apesar de algum estresse no cenário internacional por conta de atritos comerciais entre EUA e China, houve crescimento importante das estratégias que privilegiaram investimentos em ações e produtos de renda fixa ativos, que operam risco de mercado, além de fundos multimercados. “Houve muita migração da renda fixa pós-fixada para produtos mais estruturados, e também um aumento na alocação em carteiras de ações. A forte queda das taxas de juros fez com que os investidores saíssem de posições mais passivas”, acrescenta.
Entre os produtos de renda fixa privilegiados pela SulAmérica no ano passado destacam-se papéis de primeira linha. “O ano passado também foi pródigo em emissões, permitindo boas apostas em novas ações que valorizam ao longo do ano”, explica o executivo. A gestora também investiu em juros prefixados e em papéis indexados à inflação. Em relação a ações, a preferência da asset recaiu sobre empresas que se beneficiaram do varejo interno aquecido e empresas concessionárias. A gestora encerrou 2019 com R$ 46 bilhões de ativos.

“O mercado de capitais ressuscitou, as empresas voltaram a vê-lo como alternativa ao crédito bancário. Em fevereiro, chegamos a ter mais de R$ 8 bilhões em projetos sob análise”, informa Bruno Amadei, sócio da Integral Trust, uma das pioneiras na negociação de FIDCs no país. Hoje, a Integral tem R$ 5,5 bilhões sob gestão, dos quais R$ 4,1 bilhões em direitos creditórios (é a sexta maior no ranking desse ativo). Apesar da reviravolta imposta pela pandemia da Covid-19, Amadei segue otimista com o potencial dos investimentos em direitos creditórios neste ano.
Uma das empresas que mais cresceu na alocação em ações no ano passado foi a Icatu Vanguarda, com 14,04% do seu patrimônio direcionado a essa classe de ativos ao final do ano passado. Segundo Bruno Horovitz, diretor de relações com investidores da gestora, a seleção dos papéis foi criteriosa para compor principalmente os fundos de dividendos da gestora. “Não usamos apenas o critério de pagamento de dividendos para a escolha dos papéis, mas também diversos outros como governança, geração de caixa, qualidade da liderança e mecanismos de proteção contra inflação, entre outros”.
Dessa forma, quando uma empresa deixa de pagar dividendos ela gera caixa e favorece a rentabilidade para os acionistas. Ele dá como exemplo a Vale, que desde o acidente em Brumadinho está proibida de pagar dividendos, assim como os bancos que em função da crise do coronavírus estão proibidos de distribuírem dividendos. “Mas é uma questão temporária, e o caixa represado acaba virando remuneração para o investidor – seja pela alta das ações, seja pelas ofertas de recompra”.
A Icatu Vanguarda também é bastante ativa em crédito privado, atuando com vários tipos de papéis, de debêntures a Letras Financeiras e CDB. “Temos cinco analistas e sete gestores dedicados a acompanhar nossa carteira de R$ 7 bilhões aplicados nesses ativos”, diz o executivo. “Mas não temos amor a nenhuma classe de ativo especificamente, fazemos uma gestão ativa”, informa.

Paulo Bilyk, presidente da Rio Bravo, considera que a condução mais ortodoxa da economia, com juros baixos, inflação sob controle e busca de equilíbrio fiscal, foi essencial para o aquecimento da demanda por ativos de risco, como ações, e fundos imobiliários. “Até mesmo o público individual começou a se interessar mais por produtos de renda, entre eles a renda imobiliária”, diz. Criada no ano de 2000, a Rio Bravo tem atualmente R$ 13 bilhões em ativos sob gestão, dos quais R$ 8,5 bilhões em fundos imobiliários. O executivo revela que a estratégia adotada há cinco anos pela Rio Bravo, de construir uma família diversificada de fundos imobiliários, amadureceu em 2019 devido a menor volatilidade do mercado. “Nossos fundos são multiativos, com diferentes estratégias como logística, aluguel corporativo, shoppings, varejo, educação etc”, informa.
A meta da gestora é atingir R$ 1 bilhão em cada um dos seus fundos, para garantir a facilidade de entrada e saída aos investidores. Além de imóveis de renda, a Rio Bravo também aposta em papéis do segmento, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).
Os gestores, em geral, reconhecem que 2020 será um ano muito diferente. “O nível de incerteza sobre quando isso tudo vai passar e como será a retomada da atividade econômica tem pressionado os preços, para cima e para baixo, de todos os ativos, diz Marcelo Mello, da SulAmérica. Segundo ele, “os ativos só começarão a se recuperar quando aparecer uma luz no final do túnel, mas mesmo assim a volatilidade deve continuar”.

Segmentação por Ativos (em pdf)