Agenda positiva guia mercado | Período marcado pelo início do gov...

Edição 295

 

Maiores e Mais focados (em pdf)

A evolução dos ativos do mercado de investimentos e o desempenho das gestoras no período considerado pelo ranking Top Asset, os doze meses encerrados em junho de 2017, foi fortemente marcada por eventos políticos como a queda da ex-presidente Dilma Rousseff e a ascensão ao poder de Michel Temer. A equipe econômica montada pelo novo governo, de largo respaldo junto aos investidores, e a agenda reformista apresentada para atacar a questão fiscal, somados à queda da inflação provocada pela recessão de dois anos da economia, abriu espaço para um corte agressivo na taxa Selic, que saiu de 14,25% até outubro passado para os atuais 9,25%, sendo que o mercado projeta a taxa na casa dos 7% no final do ano.
Com a percepção de que a autoridade monetária promoveria um forte desaperto monetário nos meses subsequentes, os investidores aproveitaram para se posicionar em ativos pré-fixados e atrelados à inflação para tirar maior benefício do fechamento previsto das taxas. E, de fato, obtiveram ganhos importantes no segmento – os títulos públicos sob gestão das asset do mercado alcançaram R$ 2,59 trilhões em junho, crescimento de 22,35% de acordo com o ranking Top Asset, o maior entre os principais ativos nas carteiras das fundações. A posição em títulos privados também cresceu, mas segundo os gestores de forma limitada devido à falta de ativos do lado da oferta, uma vez que os bancos ainda estão reticentes na concessão de crédito e encolheram as emissões de dívidas corporativas. Em 30 de junho último os gestores tinham R$ 553,02 bilhões alocados em títulos privados, 8,67% a mais que um ano atrás.
Na renda variável, no entanto, o desempenho foi diferente. A carteira de ações locais das gestoras ficou próxima da estabilidade, com incremento de apenas 2,14%, para R$ 188,30 bilhões, à despeito da valorização de 22,07% registrada pelo Ibovespa no período. Os profissionais das assets afirmam que o custo de oportunidade manteve os investidores concentrados na renda fixa; e durante o primeiro semestre de 2017, e a partir de 17 de maio principalmente, as incertezas sobre a continuidade do governo e da agenda de reformas, aparentemente dissipadas, também não contribuíram para um incremento do segmento nos portfólios. A renda variável global, bem abaixo das demais em termos de ativos sob gestão, com R$ 6,17 bilhões, caiu 35,87%, reflexo da volatilidade do câmbio e do rendimento dos títulos públicos.
O ranking Top Asset mostra poucas alterações em relação ao tamanho das assets. Entre as três maiores não ocorreram alterações na comparação com o levantamento anterior, com a liderança à cargo da BB DTVM com R$ 872,95 bilhões, seguida pela Itaú Asset com R$ 705,00 bilhões e Bradesco Asset Management com 638 bilhões. Considerando as dez primeiras colocações, a única mudança foi a troca de posições entre a J Safra, que subiu para o sexto lugar após crescimento de 20,04% em seus ativos, para R$ 84,24 bilhões, ultrapassando o BTG Pactual, que ficou perto da estabilidade com queda de 1,89%, para R$ 75,90 bilhões.

Renda fixa – Carlos André, diretor executivo da BB DTVM, afirma que o crescimento de 20,89% apresentado pela asset teve como contribuição importante a captação positiva obtida pela casa; no primeiro semestre de 2017, a gestora teve captação líquida de R$ 43,2 bilhões, dos quais R$ 42,2 bilhões foram na renda fixa. Dentro da renda fixa, a demanda ficou concentrada em produtos indexados ao CDI, aos índices de preços e também em ativos pré-fixados. “Ainda houve uma predominância pelo CDI, mas já observamos um aumento da captação de estratégias em índices de preços, tanto para o segmento institucional, incluindo RPPS e fundos de pensão, quanto para o segmento de pessoas físicas e poder público”, diz Carlos André.
O diretor afirma que a captação da BB DTVM veio de novos clientes, principalmente dos segmentos private e atacado, e também de clientes que já estavam na base da asset e que em alguns casos migraram de instrumentos financeiros, como os produtos de tesouraria, rumo aos fundos de investimento. “Os produtos de tesouraria perderam atratividade, porque as instituições financeiras estão com necessidade menor de ‘funding’, e consequentemente as taxas que vêm sendo oferecidas nesses produtos tem sido mais baixas”, explica o executivo, que acrescenta que essa dinâmica abriu uma janela de oportunidade para investimentos via fundos, que vem tendo uma performance mais robusta, o que acaba atraindo a atenção dos investidores de forma geral.

Beta – Sobre o crescimento de 17,60% apresentado pela Itaú Asset nos doze meses encerrados em junho, Bruno Bonini, head de distribuição institucional, destaca a valorização dos ativos em carteira. “Em relação ao mundo dos institucionais especificamente, esse efeito da valorização dos ativos fica mais evidente, até por conta da exposição desses clientes a ativos indexados à inflação e aos pré-fixados”, diz.
Segundo Rodrigo Noel, gerente de portfólio da Itaú Asset, em um ambiente em que as taxas de juros ainda eram elevadas, e quando os investidores se beneficiaram do fechamento das taxas, o beta foi a principal fonte de rentabilidade em detrimento ao alpha. “Quando falamos do crescimento dos ativos sob gestão da Itaú Asset não podemos pensar somente em alpha. O resultado é fruto de um CDI que andou durante muito tempo acima de 14%”.
Para Noel, embora no período considerado pelo levantamento a performance da renda variável também tenha se destacado, como o percentual dos institucionais alocado no mercado de ações está em níveis historicamente baixos, o efeito desses ganhos fica limitado no portfólio das fundações. Na visão do gerente, apesar de a bolsa brasileira estar próxima de suas máximas históricas, ainda há espaço para os investidores se posicionarem no mercado e obterem ganhos interessantes. O especialista aponta que quanto menor for o juro pago pelos títulos públicos, a tendência é que as companhias tenham suas ações negociadas em múltiplos mais elevados. “Caso o cenário esperado se consolide, acreditamos que a renda variável vai negociar em níveis substancialmente mais elevados em relação ao patamar atual”.

Fundos exclusivos – Com crescimento de 32% em 12 meses, a Bradesco Asset Management (Bram) destaca que esse desempenho foi marcado fortemente pela chegada dos ativos do HSBC, banco que foi comprado pelo Bradesco em 2016. Esse crescimento colocou a asset, novamente, na cola da área de gestão de recursos do Itaú da qual tinha se distanciado quando o banco da família Setúbal comprou o Unibanco. Agora, a briga pela segunda colocação volta a ficar mais interessante.
A Bram teve um desempenho bastante destacado no segmento de fundos exclusivos, com crescimento de 4,88% em seis meses e 41,31% em doze meses. Segundo o diretor superintendente da Bram, Vinicius Albernaz, o destaque deve ser dado ao desempenho no período menor, uma vez que o resultado de doze meses reflete ainda a chegada dos fundos do HSBC. Segundo ele, o desempenho de seis meses ocorre já com os ativos do HSBC incorporados e consolidados na base da Bram”. Ainda de acordo com ele, “o crescimento nesse segmento foi muito consistente e ocorreu fortemente entre os clientes institucionais”.
Ainda de acordo com Albernaz, a estrutura de fundos exclusivos da Bram é fortemente voltada aos fundos de renda fixa, que são os de maior demanda, e algumas estratégias com ALM. Segundo ele, a indústria inteira trabalha dessa forma, “oferecendo fundos exclusivos principalmente de renda fixa para segmentos de alta renda e grandes investidores”, destaca.

Exterior – Marc Forster, diretor executivo da Western Asset, lembra que o período dos doze meses encerrados em junho, quando a asset ficou próxima da estabilidade em termos de ativos sob gestão, com crescimento de 3,5%, foi marcado pela instabilidade política, e, ao menos no caso da gestora, não houve por parte dos clientes um aumento significativo do risco nas carteiras. Com isso, uma das estratégias na qual a Western aposta para crescer no universo institucional brasileiro, o investimento no exterior, no ambiente de incertezas políticas e econômicas, juros elevados, e câmbio volátil, perdeu espaço no portfólio dos investidores no passado recente, admite Forster.
O executivo, contudo, se mostra animado com as perspectivas para os investimentos em outros países por parte das fundações locais nos próximos meses, mesmo porque as condições externas favoráveis são apontadas como uma das razões que contribuem para a retomada do nível da atividade doméstica. Com a queda da Selic, a questão política aparentemente estabilizada, ao menos temporariamente, com o governo conseguindo se manter à despeito das delações, e a redução da volatilidade do câmbio, o diretor da asset subsidiária da Legg Mason espera por uma nova janela de oportunidade para as entidades interessadas em internacionalizar parte de seus portfólios. Com a expectativa da retomada do apetite pelo risco dos investidores, a Western prepara para os próximos meses um incremento em sua grade de produtos internacionais no país, com o lançamento de fundos de outras subsidiárias da Legg Mason – já foram disponibilizados fundos das gestoras Brandywine e Rare, de crédito privado e ações de infraestrutura, respectivamente. E até o final do ano a Western ainda vai trazer mais três fundos de outras assets subsidiárias da Legg Mason.
Segundo Aquiles Mosca, superintendente comercial da Santander Asset, houve uma interrupção entre maio e junho na busca dos investidores por mais risco em suas carteiras, quando o tema político aumentou significativamente a volatilidade do mercado. No entanto, após a vitória do presidente Michel Temer em barrar a denúncia da PGR, essa tendência foi retomada e inclusive tem dado sustentação ao atual patamar no qual se encontra a bolsa, próxima de sua máxima histórica, pondera o especialista.