Disputa embolada | Com a incorporação da asset do HSBC, a Bram se...

Edição 284

 

Segmentação por Investidores (em pdf)

Com a incorporação do HSBC pelo Bradesco, a disputa pela liderança na gestão de recursos de fundos de pensão vai ficando cada vez mais acirrada. A Itaú Asset permanece na segunda colocação na categoria de ativos de entidades fechadas, logo atrás da BB DTVM. Considerando apenas as instituições privadas, a asset do Itaú é a líder desse segmento, seguida pela asset do Santander. A novidade, que ainda não aparece nesta edição do ranking (com informações até final de junho), mas que já está valendo a partir de 1 de julho, é a soma dos ativos do HSBC com a Bram, que deve elevar a posição da asset do Bradesco para bem próximo do Santander em ativos de fundos de pensão.
Por enquanto, a Bram permanece na quinta posição em ativos de fundos de pensão, com R$ 37,81 bilhões. Mas considerando que o HSBC tem cerca de R$ 19 bilhões em ativos de entidades fechadas, a asset do Bradesco deve ganhar algumas posições na categoria. A equipe da nova Bram, como está sendo chamada internamente, pelo novo diretor superintendente Vinícius Albernaz, pretende fortalecer a atuação no segmento institucional com a diversificação de estratégias e no fortalecimento do atendimento aos institucionais ao aproveitar os profissionais que vieram do HSBC.
Ainda sem contar os recursos do HSBC, a asset do Bradesco mantém a primeira posição em recursos de previdência aberta, seguida pela BB DTVM. A Bram também é líder em clientes corporate. Com os fundos de pensão, a Bram registrou uma ligeira queda no volume de ativos em 12 meses. “Os fundos de pensão saíram bastante da renda variável e migraram os recursos para carteiras ALM. Mas prevemos a volta dos institucionais para a renda variável”, diz Vinícius Albernaz, diretor superintendente da Bram (ver matéria pág. 75).
Itaú Asset – A asset do Itaú promete não ficar parada para continuar crescendo neste mercado. “Não acreditamos que nossos resultados são favorecidos ou prejudicados por mudanças na concorrência. Acredito mais no trabalho de nossa equipe e no bom desempenho de nossos produtos e soluções”, diz Marcelo Siniscalchi, co-head da Itaú Asset Management.
Dois eventos impactaram o mercado de gestão de recursos nos últimos meses. O primeiro foi a própria aquisição do HSBC. E o segundo foi a crise do BTG Pactual, provocada após o envolvimento do ex-CEO do banco nas investigações da Lava Jato. O executivo da Itaú Asset parece não estar focado nas mudanças dos concorrentes, mas sim, na capacitação de sua equipe. “Temos investido cada vez mais na capacitação de nossa equipe. Temos equipes focadas em cada tipo de produto e vamos desenvolvendo um forte trabalho de capacitação dos principais gestores, analistas e economistas”, diz Siniscalchi.
O gestor cita, por exemplo, um convênio fechado com a Universidade Yale School of Management, no primeiro semestre do ano, para promover o intercâmbio de profissionais da asset. Ele destaca também a especialização e o tamanho das equipes. “Por exemplo, temos oito economistas que atuam com foco exclusivo na asset ou então onze analistas que só fazem crédito privado”, diz o co-head da Itaú Asset.
Em relação aos tipos de clientes, a Itaú Asset mantém a liderança absoluta no segmento private. Para explicar a liderança, Siniscalchi ressalta, além da qualidade dos produtos, a eficiência dos canais de distribuição da instituição como um todo. Já com os clientes fundos de pensão, a vice-liderança na categoria é atribuída ao trabalho de uma equipe de soluções. A asset do Itaú ficou com R$ 63,60 bilhões em recursos de entidades fechadas. “A equipe tem a função de entregar soluções para os clientes institucionais a partir de uma mistura de estratégias. São soluções em geral de médio e longo prazos, para estes clientes que precisam bater seus passivos atuariais”, comenta Siniscalchi.

Santander – A asset do Santander ficou com a quinta posição do ranking geral e apresentou forte crescimento em 12 meses. Atualmente, é a maior asset com controle estrangeiro do ranking Top Asset. Entre os clientes fundos de pensão, a asset alcançou R$ 53,09 bilhões, ficando na terceira posição, atrás do Itaú. “Estamos avançando em nosso projeto de crescer com os clientes institucionais. Temos reforçado a equipe de gestão para oferecer uma maior diversidade de produtos e participado de diversos eventos do setor”, diz João Morais, diretor comercial e de produtos da Santander Asset.
Quanto à equipe, ele lembra da contratação de dois gestores para fundos multimercados, realizado no início de 2016. Murilo Robotton Filho e Jorge Kattar se juntaram à equipe da Santander Asset no começo do ano. Morais aposta no aumento da demanda por produtos com maior risco por parte dos institucionais nos próximos meses. “Com a perspectiva de queda nas taxas de juros, os institucionais devem procurar pouco a pouco uma maior diversificação nas carteiras”, prevê o diretor. Ele diz que acredita na maior demanda por multimercados, renda variável e renda fixa com mais exposição ao crédito privado.
Além dos institucionais, a asset do Santander também apresentou forte crescimento com investidores estrangeiros. “Percebemos uma aumento na captação em renda variável com os estrangeiros”, diz Morais. Outro segmento de destaque da Santander Asset é o varejo, no qual aparece na segunda posição, atrás apenas da BB DTVM. “Registramos crescimento em quase todos os segmentos, com institucionais, grandes empresas, private e varejo”, diz o diretor. A asset do Santander também tem oferecido fundos no exterior para os institucionais. A asset tinha uma previsão de fusão com a asset global Pioneer, em negócio anunciado no ano passado. Porém, a união das empresas não deu certo e foi desfeito. “Não deve afetar em nada nossos planos, pois ainda não tínhamos produtos lançados em conjunto”, diz João Morais.

BNP Paribas – Um gestor que registrou forte crescimento com ativos de fundos de pensão em 12 meses foi a asset do BNP Paribas. A asset fechou o período com R$ 17,17 bilhões de entidades fechadas. O crescimento em um ano foi de 42%, o que garantiu a sétima posição nesta categoria. Considerando todos os clientes institucionais, tanto locais quanto estrangeiros, a BNP Paribas chegou a R$ 30,5 bilhões. No ranking geral, a asset entrou no seleto grupo das Top 10, na décima posição. No ranking anterior, a asset estava na décima segunda posição. “Conseguimos crescer no ano passado bem acima da média da indústria e agora somos uma das maiores gestoras sem contar com rede de distribuição de varejo”, lembra Luiz Sorge, CEO da BNP Paribas Asset Management. O executivo lembra que as maiores assets são ligadas à redes bancárias, com exceção do BTG Pactual e da Votorantim. Além de boa captação com institucionais, a asset tem conseguido ampliar a base de clientes, tanto com estrangeiros, quando com “outras instituições” e endowments.
Sorge confirma que a asset do BNP Paribas tem se beneficiado de mudanças na concorrência. Tanto no caso do HSBC quanto do BTG Pactual, a asset do BNP tem registrado a migração de recursos de institucionais que antes estavam alocados nestas casas para seus fundos de investimentos.

BTG Pactual – A asset do BTG Pactual caiu da sexta para a sétima posição no ranking geral, e apresentou forte redução no volume de ativos sob gestão – queda de 44% em 12 meses. “Depois do evento de novembro de 2015, tínhamos consciência que seríamos testados pelo mercado, então, procuramos ter agilidade nas decisões”, diz Marcelo Flora, diretor da asset do BTG Pactual. Os resgates foram concentrados entre os meses de dezembro de 2015 a março de 2016, pois a maior parte dos fundos da gestora tinham liquidez de 60 ou 90 dias.
“A partir de abril começamos a perceber alguma estabilização, sem grandes entradas ou saídas”, diz Flora. O executivo ressalta que o mais importante é que a asset honrou todos os resgates e não fechou nenhum fundo. “Cumprimos nosso dever fiduciário, não deixamos de cobrir nenhum resgate”, diz.
A asset sentiu um forte movimento de resgate com os institucionais, com queda em 50% nos ativos de fundos de pensão em 12 meses. “Os fundos de pensão e os regimes próprios foram os clientes com maiores resgates, provavelmente, porque a tomada de decisões nestes investidores envolve maior número de pessoas”, explica Flora. Por mais que os diretores dos fundos estivessem confortáveis com o trabalho da asset, os membros dos conselhos pressionaram para resgatar as aplicações.
“O mais positivo é que os resgates foram 100% pagos, pois tínhamos ativos de qualidade que lastreavam o patrimônio dos fundos. Assim acredito que as portas continuam abertas para os institucionais”, prevê Flora. Ele afirma que alguns clientes fundos de pensão e RPPS já começam a voltar a aplicar em alguns fundos da instituição.
Flora reforça ainda que as investigações do escritório Quinn Emanuel, contratado pelo próprio BTG Pactual para apurar irregularidades, não apontou nenhum desvio de conduta na instituição. A asset do BTG Pactual continua com posição de destaque em algumas categorias, mantendo a liderança em imobiliários e a segunda colocação em ativos de “outras instituições”.

BB DTVM – Entre os fundos de pensão, a BB DTVM apresentou uma ligeira queda de 0,29% nos doze meses encerrados em junho de 2016, para R$ 111 bilhões, enquanto na indústria houve um crescimento de 4,25%. “O nível de juros que vigora desde o ano passado tem favorecido estratégias de renda fixa conservadoras”, afirma Carlos André, diretor executivo de gestão de fundos da gestora do Banco do Brasil. O fechamento da curva de juros futuros, nota o especialista, tem favorecido as entidades que se posicionaram em ativos de maior duration via IMA-B 5+.
No caso dos institutos de previdência, a BB DTVM apresentou uma evolução de 15% nos doze meses até junho, acima do aumento médio de 7,52% registrado pela indústria de modo geral. “Temos procurado lançar produtos que chamamos de ‘oportunidades’, em que montamos uma carteira com alguns papéis para os RPPS levarem até o vencimento, com captações direcionadas com vértices específicos, envolvendo principalmente as NTN-Bs”, pondera o executivo. “Fizemos um esforço de captação entre os institutos procurando janelas de oportunidade no mercado que tem sido interessante a esse público, já que entrega uma rentabilidade suficiente para que eles cubram seus custos atuariais”, diz Carlos André.
Caixa Econômica – Na asset da Caixa, uma parcela relevante do crescimento de 7,8% entre os fundos de pensão nos doze meses encerrados em junho, afirma Daniel Sandoval, gerente nacional de investidores corporativos, se refere ao serviço de administração fiduciária que o banco passou a oferecer a esse público desde o ano passado. “A oferta do serviço de administração fiduciária é um negócio que demora um pouco para maturar. Temos atuado há algum tempo com esse produto, e a evolução vamos colhendo ao longo do tempo”, pontua o executivo. Em relação aos institutos de previdência, o gerente credita o crescimento de 18% nos doze meses encerrados em junho à área do banco dedicada exclusivamente a esse perfil de investidor. “Até por ter uma área específica para os RPPS, conseguimos trazer muito da leitura do segmento feito pelos especialistas dedicados a esses investidores”, diz.
O ambiente de incerteza que prevaleceu no país recentemente, aliado ao custo de oportunidade mais alto na renda fixa, fizeram com que os institutos reduzissem os riscos em suas carteiras, pondera Sandoval. “Os recursos novos que entraram foram todos direcionados para fundos de renda fixa com título públicos basicamente”, diz.