Cautela em dose extra | O ano de 2022 exigiu um acompanhamento ma...

Edição 354

A reversão da política monetária americana, que fez o Federal Reserve (Fed) iniciar o ciclo de alta dos juros dos Federal Funds em março de 2022, foi o principal direcionador da reprecificação de ativos em 2022. A alta das taxas nos EUA, pressionada pela inflação acelerada, afetou em particular os ativos com prazos mais longos durante o primeiro semestre do ano. “Diante disso, o nosso reposicionamento da política de alocação internacional favoreceu a performance dos fundos de investimento, mas foi um ano difícil devido ao cenário exterior”, diz Luiz Philipe Biolchini, diretor de investimentos da Bradesco Asset Management.
No ambiente doméstico, o ano também foi marcado por uma percepção de equilíbrio ruim, diz o gestor, frente ao juro necessariamente mantido em patamar muito alto para tentar conter a inflação. “No segundo semestre houve uma melhora e a nossa postura foi a de aproveitá-la, mas seguimos com um posicionamento defensivo que se mantém até agora porque, de 2022 para cá, tudo aquilo em que colocamos uma dose extra de cautela foi vantajoso”, afirma.
Com as discussões sobre os rumos da política econômica, o movimento de compressão de prêmios no Brasil ainda não começou a ocorrer e a grande correção de preços dos últimos 24 a 36 meses permanece. “O mercado entende que a política econômica de 2022 permitiria uma queda de juros em 2023 mas ainda há muitas discussões e pouca definição sobre questões fiscais. A situação da dívida não é ruim, mas há debates que às vezes são ruidosos. Quando a certeza ganhar maior convicção, o juro vai cair bastante e será um caminho benéfico para todos”, diz o executivo. A asset segue utilizando pouco o limite de risco e tem trabalhado o tempo todo com metade desse orçamento, o que ajudou em 2022 e continua a valer este ano.
Do ponto de vista micro, os fundos da casa tinham posições pequenas em Americanas, lembra Biolchini. “Fizemos muita troca de papéis para sermos mais defensivos em crédito, ações e taxas de juros por causa da situação conjuntural. A nossa percepção de prêmios interessantes não é de hoje, ela já vem de algum tempo, mas falta sinalização e não queremos heroísmos”, diz. Já havia ao longo do ano uma leitura do ambiente de maior restrição econômica e a possibilidade de que isso afetasse as despesas financeiras das empresas, assim como reduzisse suas receitas devido ao menor nível de consumo.
Por conta disso, os papéis da Americanas só estavam em fundos de maior risco da asset e fora de todos os seus fundos de baixo risco. “Optamos por ter esses ativos apenas em fundos mais high yield, e assim mesmo sem concentrar, porque víamos um ambiente mais hostil ao crédito. A indústria de crédito ainda captava bem até o evento da Americanas, mas sofreu resgates de quase R$ 50 bilhões depois disso”, conta.
A casa optou também por alocar em títulos de mais curto prazo, sem validar a baixa excessiva dos prêmios. “Os papéis high grade chegaram a ter seus prêmios reduzidos até CDI mais 1% ao ano, mas nunca validamos isso e hoje o prêmio subiu para CDI mais 2%”, diz.
Os fundos de renda fixa ativa priorizaram títulos de mais curto prazo e os ganhos com posições em inflação, enquanto os fundos DI fugiram de papéis mais arriscados e da concentração. Mas a maior captação do ano veio mesmo do crédito privado, conta Biolchini. Nessa classe, a opção é por papéis de empresas mais resilientes, que partem de patamares que lhes permitam enfrentar melhor o ciclo do mercado. Na renda variável, os papéis foram selecionados dentro da mesma lógica conservadora de priorizar empresas cujo resultado estivesse consolidado e a precificação não baseada em crescimento a longo prazo. “Concentramos as carteiras em papéis dos setores bancário e de commodities e, mais recentemente, passamos a alocar também em companhias que tenham potencial de crescimento mas com uma precificação mais razoável, além de serem líderes em seus setores”, diz.

O ano de 2022 foi desafiador para a gestão dos fundos de renda variável, embora a bolsa não tenha perdido muito do CDI e alguns segmentos, como o de commodities, tenham tido boa performance, afirma o diretor da BB Asset Management, Marcelo Pacheco. Além disso, segundo ele, os mercados asiáticos ofereceram oportunidades interessantes no ano passado.
Apesar disso, a expectativa de novas altas do juro nos EUA pode ameaçar as estratégias de risco no mundo todo, razão pela qual Pacheco diz que ainda não é o momento de abrir muitas frentes. “A bolsa local tem prêmio, mas não está tão barata e, nos EUA, o prêmio de risco da bolsa está muito baixo, a bolsa americana está cara, Diante disso, gostamos muito dos mercados asiáticos”, diz.
O foco dessa estratégia são os países que circundam e vendem para a China e tem boas perspectivas, mas para capturar esse case asiático será preciso ter cautela com os dados da economia global porque ainda há muitas ameaças que vêm dos EUA. “Não é o momento de sair à rua de peito aberto. Será interessante quando começar a reversão na bolsa americana, até porque isso deverá coincidir com a queda do juro aqui no Brasil”, avalia.
O momento também não é de abrir muitas frentes nos demais mercados, já que os juros nominais e reais pagos pela NTN-B cobrem as necessidades atuariais dos fundos de pensão brasileiros. Por enquanto, lembra Pacheco, a renda fixa continuará a ser uma decisão racional para os investidores institucionais. “Visualizamos o início da queda do juro para o início do segundo semestre, talvez em agosto”, afirma.
As estratégias que nortearam os fundos da asset em 2022, na renda fixa, apostaram nos ativos curtos, que foram mais interessantes porque os longos sofreram com a reprecificação da curva de juros. “No Brasil isso tende a se inverter este ano, mas lá fora ainda não. O Brasil vai num timing diferente dos outros países e agora ficará mais confortável alongar aqui, o que já começamos a fazer”, diz.
O crédito privado performou bem como um todo e os ativos que pagam percentuais do CDI foram os melhores. O ano passado foi tranquilo para os fundos de crédito em termos de retorno e de percepção de risco, apesar do juro alto. “Janeiro e fevereiro de 2023, por outro lado, foram ruins e de muita turbulência devido ao evento da Americanas e, em seguida, veio o da Light, no mercado secundário que, embora não tenha sido um caso de inadimplência, aumentou ainda mais a percepção de risco do mercado”, afirma.
O impacto da Americanas em alguns dos fundos da asset foi de 0,10% “o que é pouco em relação ao nosso patrimônio líquido e não houve um impacto grande nas cotas”, informa. Depois de viver os dois primeiros meses deste ano com muita agitação, o mercado já começou a se acalmar em março e, segundo o gestor, é hora de voltar a investir.

A gestão dos fundos de investimento no ano de 2022 foi norteada pela compreensão do processo de aperto monetário no mundo todo, o que levou a Caixa Asset Management a tomar posições mais conservadoras em relação ao risco de mercado, conta Gabriel Cardozo, CEO da gestora. A classe de crédito foi agregada de modo importante às carteiras, o que garantiu boa performance ao longo do ano. “Historicamente sempre ficamos mais posicionados em crédito bancário do que em corporativo, mas com a criação da Caixa Asset ficamos mais céleres nas decisões e conseguimos entrar tanto no mercado primário quanto no secundário. Ainda preferimos o bancário (LFs e CDBs), mas o corporativo também cresceu desde o ano passado, com foco nos ativos com rating duplo A e triplo A”, detalha.
Segundo Cardoso, a gestora não tinha alocação em Americanas assim como não tinha grande investimento no setor de varejo, mas sim uma exposição de R$ 40 milhões à Light em diversos fundos, em posição que é diversificada e em percentuais pequenos.
Ao todo, a casa tem R$ 130 bilhões em patrimônio líquido de fundos que podem alocar em crédito. Na maior parte desses mandatos, os fundos rodam na média com 40% a 50% alocados em crédito, sendo que 80% a 85% disso estão em ativos bancários. “Agora temos posições mais táticas e conservadoras em crédito; estamos olhando com cuidado este ano porque já atingimos um patamar saudável nesse portfólio”, explica.
”No lado internacional, frente aos movimentos de alta dos juros em outros países, conseguimos montar posições vitoriosas em fundos multimercados, de equities e de renda fixa que se beneficiaram relativamente da política monetária nos EUA e na Europa”, diz Cardozo. Esse movimento incluiu posições compradas em ações dos EUA, compradas em inclinação da curva de juros americana e, no mercado local, posições de venda em inflação implícita.
A avaliação é de que há espaço para a queda do juro no Brasil mas o principal desafio é a política monetária dos EUA e a dificuldade do Fed para baixar a inflação, o que deve trazer maior complexidade para a redução do juro aqui. “Já começamos a fazer posições pequenas de alocação em juro mais curto, que vão se beneficiar da queda da Selic no segundo semestre, assim como posições em IMA-B mais curto para capturar a alta de preços no curtíssimo prazo como eventual decorrência da desoneração dos combustíveis”, diz.
Na renda fixa, os fundos foram beneficiados por posições de compra em ativos de prazos mais curtos e pela redução do risco pré-fixado. “Com o aperto monetário, houve mais alocações pós-fixadas, mais papéis high grade e mais investimento em crédito com caráter conservador”, explica Alvaro Lessa de Oliveira, diretor de gestão de fundos da Caixa Asset. Os fundos de ações mantiveram carteiras mais defensivas, relacionadas ao índice e aos papéis do setor de commodities minerais e de proteína animal”, detalha.

As mudanças de humor dos mercados em 2022 já haviam sido percebidas na XP Asset desde o final de 2021, por conta dos movimentos de alta dos juros no Brasil e os primeiros sinais de aperto monetário lá fora. “Diante desse ambiente novo e de uma elevação das taxas acima do esperado aqui, fizemos mudanças desde aquele momento nos portfólios de ações para enfrentar a incerteza e as carteiras encurtaram suas posições de cinco a dez anos para justificar os preços de tela”, diz Marcos Peixoto, portfolio manager da gestora. Foram deixadas de lado as empresas com muitas dívidas porque em ambiente de juro alto o taxímetro roda rapidamente e o mercado exige o curto prazo, assim como valoriza empresas com menor complexidade operacional.
Além disso, 2022 foi também um ano eleitoral, de muita volatilidade, em que o mercado colocou em xeque o futuro das companhias estatais. A gestão, porém, seguiu sua própria cabeça, olhou os preços das ações dessas empresas no início do ano e considerou que eles já contemplavam os riscos em seus preços. “Tanto isso era verdade que Eletrobras, Petrobras e Banco do Brasil foram as ações que mais ganhos trouxeram”, diz.
Para os fundos da asset, as ações que mais ajudaram a garantir performance foram as da Eletrobras e de outras estatais, incluindo a BB Seguradora, cujos papéis subiram 74% anualizados. “Foi uma tese importante essa e apostamos na recuperação da seguradora, que tinha passivos grandes em IGP-M em 2020 e 2021, além de ter sofrido também por conta da sinistralidade na pandemia. Ela acabou crescendo 50% no ano”, detalha. Apesar da captação negativa em renda variável no primeiro semestre, a boa performance ajudou e a casa fechou o ano com estabilidade em seu patrimônio.
Para Bruno Marques, gestor de fundos multimercados da casa, “o ano de 2022 revelou que o multimercado não ganha só com a baixa dos juros, mas consegue performar em vários ambientes”. A asset tem investido na internacionalização e sua equipe tem mais de vinte profissionais na área macro de América Latina, G-7 e outras economias.
Segundo ele, “desde 2021 estamos preocupados com a inflação global, primeiro nos emergentes – e apostamos na alta dos juros no Brasil, no México e no Chile – e em 2022 replicamos esse modelo para os EUA”, diz Marques. A gestora manteve por dois anos posições tomadas e vendidas em bolsa dos EUA, o que ajudou a performance. A alocação em risco no Brasil foi pequena ao longo do ano, com posições compradas em inflação e tomadas em juro, enquanto no Chile elas ficaram vendidas em moeda local e compradas em dólar, libra e yuan.

Ranking – Data base 31/12/2022 (arquivo em pdf)

Performance geral dos gestores (arquivo em pdf)

Melhores gestores em Renda Fixa (arquivo em pdf)

Melhores gestores em Multimercados (arquivo em pdf)

Melhores gestores em Ações (arquivo em pdf)