Flexibilidade colocada à prova | Mudanças constantes de estratégi...

Acostumada às turbulências e intempéries da economia doméstica, a indústria de fundos voltada aos institucionais foi submetida a uma prova particularmente desafiadora durante o ano de 2018, marcado por momentos extremos devido à Selic no patamar mais baixo da história, a traumática greve dos caminhoneiros e as tensões da corrida eleitoral. No balanço geral do exercício, segundo levantamento da Investidor Institucional realizado com o apoio da consultoria Comdinheiro, 223 fundos receberam sinal verde – sendo 106 de renda fixa, 64 de ações e 53 multimercados.
A escolha dos Melhores Fundos é feita com base numa ponderação de dois fatores, com o Índice de Sharpe representando 2/3 do peso do índice e retorno absoluto representando 1/3. “O levantamento identificou 643 fundos condominiais com patrimônios líquidos a partir de R$ 10 milhões que administram recursos de fundos de pensão e entidades dos regimes próprios de previdência dos servidores públicos, os RPPSs”, informa Filipe Ferreira, analista da Comdinheiro. “Ficaram de fora os fundos exclusivos, os masters, assim como fundos com menos de 1 ano na data de corte”.
Segundo Ferreira, de 22 fundos surgidos no primeiro bimestre de 2019 voltados a investidores institucionais, dez são de multimercados, sete de ações e cinco de renda fixa, “o que reflete bem a crescente demanda desse público por opções de investimento de maior risco.”
A Bradesco Asset Management (Bram), a maior gestora privada do país, com patrimônio líquido de R$ 606,8 bilhões em dezembro, foi a que teve o maior número de fundos verdes. Com 28 fundos avaliados como Excelentes (15 de ações, 11 de renda fixa e 2 multimercados), a casa colhe os frutos das inovações introduzidas na estrutura e no modus operandi pelo ex-CIO Ricardo Almeida, que assumiu o posto de CEO em março de 2018 em substituição a Vinicius Albernaz, indicado para a presidência da Bradesco Seguros. Uma dessas inovações foi a criação de um segundo cargo de CIO no organograma da instituição. “Os titulares da área de investimentos são Marcelo Toledo, há mais de dez anos na Bram, que responde por renda fixa e crédito, e Marcelo Nantes, contratado para cuidar de renda variável e ao qual também está subordinada a análise de crédito”, comenta Almeida.

Desempenho dos fundos     Classes dos fundos
Classificação Quantos     Tipo Quantos
Excelentes (verdes) 223     Renda Fixa 305
Adequados (amarelos) 212     Multimercados 158
Insuficientes (vermelhos) 204     Ações 176
Total de fundos analisados 639     Total de fundos analisados 639

Os demais escalões também foram contemplados com contratações. Hoje composta por 80 profissionais, 60 na gestão e 20 na análise, a equipe da Bram recebeu reforços na divisão de multimercados e crédito, com a chegada de quatro especialistas encarregados de dar suporte quantitativo aos gestores. “Outra mudança significativa ocorreu nas reuniões matinais, antes do início dos trabalhos. A cada dia, alternam-se apresentações das equipes de renda fixa e de renda variável, o que permite uma melhor compreensão geral dos cenários pelos gestores”, observa Almeida.
As estratégias da asset sofreram alterações substanciais ao longo de 2018. No mercado acionário foram colhidos ganhos expressivos no início do ano com papéis de exportadoras de commodities, casos de Suzano e Fibria. A partir do segundo trimestre, a Bram abraçou a cautela e só voltou a aumentar a sua exposição ao risco após a definição da disputa eleitoral. Em linhas gerais, seguiu o mesmo roteiro na renda fixa. “Reduzimos o risco das carteiras entre abril e maio, dando prioridade a posições na média da curva de juros, opção adotada até setembro”, conta Marcelo Toledo. “Foi um ano desafiador para os mercados, especialmente no cenário externo, com problemas em economias emergentes, casos de Argentina e Turquia, e mudanças de rumo na política de juros dos Estados Unidos.”

Escala e sinergia – Terceira colocada no ranking geral, com 18 fundos verdes, a BB DTVM navegou firme em meio às reviravoltas apresentadas pelo mercado acionário em 2018. Papéis do setor financeiro, da Petrobras e de companhias do ramo elétrico, entre outras apostas, garantiram boas performances aos fundos de investimento da casa lastreados em ações, especialmente após o aquecimento dos negócios na B3, no fim do terceiro trimestre. “Desde então, a procura dos investidores institucionais por fundos de ações e multimercados tem se mantido em alta. A tendência nos motivou, inclusive, a unir, recentemente, as equipes de análises das duas áreas, em busca de escala e sinergia”, diz o diretor executivo Marcelo Pacheco.
Com patrimônio líquido de R$ 927,4 bilhões em janeiro, a maior asset brasileira estabeleceu como uma de suas prioridades, na temporada passada, tornar mais atrativo o seu cardápio de renda fixa. Para compensar a manutenção da taxa Selic na casa de 6,5% ao ano, a instituição lançou mão de gestão ativa para buscar alfa no segmento. A estratégia, que resultou em 11 fundos verdes na categoria, se traduziu na montagem de posições em juros pré e pós-fixados, nos timings adequados, e no lançamento de produtos lastreados em crédito privado. “Houve uma forte migração de recursos de institucionais da renda fixa para crédito privado e fundos indexados”, comenta Pacheco. “Estamos, inclusive, avaliando outras novidades em renda fixa ativa.”

Prudência – Mais prudente, como convém, aliás, a uma gestora ligada a um grande grupo segurador, a Sul América Investimentos analisou cuidadosamente seus passos no mercado a partir do segundo quadrimestre do último ano. A precaução reforçada foi fruto da greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, que derrubou a bolsa de valores e causou forte depreciação nos papéis prefixados. “Em razão das incertezas que surgiram, optamos por uma atuação de cunho tático na renda fixa: em vez de posições compradas por prazos mais longos, demos preferência a opções que permitissem mudanças no curto prazo”, explica o vice-presidente Marcelo Pimentel Mello. “E também demos atenção especial ao hedge. Não o hedge puro, mas buscando proteção em arbitragem e com vencimentos em diferentes estágios da curva de juros.”
As medidas surtiram efeito. Três fundos da casa foram contemplados como Excelentes, com destaque para o Inflatie, que fechou 2018 com rentabilidade de 14,29%, o equivalente a 222% da variação do certificado de depósito interbancário (CDI) no período. “Com um patrimônio de cerca de R$ 800 milhões no início deste ano, o Inflatie só aplica em títulos públicos indexados e tem gestão ativa, lançando mão de arbitragem”, comenta Mello. “É um dos nossos produtos de renda fixa mais procurados por investidores institucionais.”

Performance dos gestores
Gestor Verdes Amarelos Vermelho Total
BRAM – Bradesco 28 32 34 94
Itaú Unibanco 23 13 4 40
BB DTVM 18 24 29 71
Western 14 7 8 29
Icatu Vanguarda 11 2 3 16
Caixa 9 21 26 56
Santander 9 13 7 29
Banrisul 7 7 2 16
BNP Paribas 6 3 4 13
Banestes 6 1 2 9
BTG Pactual 5 3 6 14
AZ Quest 5 2 1 8
Votorantim 4 4 6 14
Sul América 4 4 2 10
Mongeral Aegon 3 4 2 9
XP 3 3 1 7
Claritas 2 1 1 4
GAP Equities 3 1 0 4
JGP 3 1 0 4
Occan 3 1 0 4
Kapitalo 3 0 0 3
Kinea 3 0 0 3
Safra 2 3 7 12
Vinci 2 3 2 7
Absolute 2 2 0 4
ARX 2 1 2 5
GF Gestão 2 1 2 5
Bahia 2 1 0 3
J. Malucelli 2 0 1 3
J.P.Morgan 2 0 1 3
Multinvest 2 0 1 3
Apex 2 0 0 2
CA Indosuez 2 0 0 2
Constância 2 0 0 2
Roma 2 0 0 2
Sicredi 1 4 1 6
BRB 1 2 0 3
Capitania 1 2 0 3
Daycoval 1 1 2 4
Rio Bravo 1 1 1 3
Saga 1 1 1 3
Gávea 1 1 0 2
Pacífico 1 1 0 2
Meta 1 0 1 2
Perfin 1 0 1 2
Solis 1 0 1 2
Spectra 1 0 1 2
AF Invest 1 0 0 1
Equitas 1 0 0 1
Exploritas 1 0 0 1
FAR – Fator 1 0 0 1
Finacap 1 0 0 1
Grou 1 0 0 1
L3 1 0 0 1
M Square 1 0 0 1
Moat 1 0 0 1
Navi Capital 1 0 0 1
Opportunity 1 0 0 1
Sparta 1 0 0 1
TG Core 1 0 0 1
BNB 0 3 5 8
Novus 0 3 0 3
Oceana 0 3 0 3
Ibiuna 0 2 3 5
Infinity 0 2 1 3
SPX 0 2 1 3
Franklin Templeton 0 2 0 2
Pimco 0 2 0 2
Somma 0 2 0 2
Verde 0 2 0 2
Adam Capital 0 1 2 3
Mauá 0 1 2 3
Schroder 0 1 1 2
BlackRock 0 1 0 1
Brasil Plural 0 1 0 1
Canvas 0 1 0 1
Constellation 0 1 0 1
DLM Invista 0 1 0 1
Horus 0 1 0 1
Indie 0 1 0 1
Invexa 0 1 0 1
Paineiras 0 1 0 1
Phenon 0 1 0 1
Porto Seguro 0 1 0 1
Queluz 0 1 0 1
STK 0 1 0 1
Stúdio 0 1 0 1
Truxt 0 1 0 1
Única 0 0 3 3
BP Gestão 0 0 2 2
Elleven 0 0 2 2
Garde 0 0 2 2
Neo 0 0 1 1
Athena 0 0 1 1
Belvedere 0 0 1 1
Bogari 0 0 1 1
Fama 0 0 1 1
Guepardo 0 0 1 1
HIX 0 0 1 1
Jardim Botânico 0 0 1 1
Kondor 0 0 1 1
Mirae 0 0 1 1
Nest 0 0 1 1
Novero 0 0 1 1
Núcleo 0 0 1 1
Próprio Capital 0 0 1 1
Taquari 0 0 1 1
UBS Consenso 0 0 1 1
Velt 0 0 1 1

Aposta – A AZ Quest, controlada pelo grupo italiano Azimut, obteve cinco fundos verdes no ranking geral, sendo dois no ranking de multimercados. O Multi 15 opera com ações, moedas e juros nos mercados local e internacional, e obteve ganhos tanto no fechamento da curva de juros de longo prazo no âmbito local, especialmente na média da curva, e no exterior. “Apostamos na alta dos juros dos títulos públicos dos Estados Unidos, que ocorreu, e depois decidimos recolher o trem de pouso, acreditando na interrupção da tendência. Acertamos de novo”, diz o CEO da asset, Walter Maciel.

Sobre os fundos (em pdf)