Fundos mais líquidos foram beneficiados | Combinação de uma Selic...

Edição 344

O ano foi desafiador para a renda fixa, ressalta Rudolf Gschliffner, superintendente de produtos da Santander Asset Management. “Já havia a perspectiva de elevação do juro mas vieram surpresas do lado da inflação local e global por conta do seu incremento e persistência. Como resultado, as projeções de juros passaram por diversas revisões, sempre para cima, inclusive recentemente quando revisamos a estimativa da Selic para 13%”, diz. A postura mais agressiva das políticas monetárias acarretou maior risco de mercado para a renda fixa, incluindo as posições prefixadas e aquelas atreladas à inflação. “Nessa parcela ficamos mais conservadores, com posições mais curtas e defensivas, além de adicionar mais titulos prefixados às carteiras”, conta. Os fundos mais líquidos, em CDI e aqueles com posições pós-fixadas, acabaram beneficiados pela alta da Selic e pelo movimento mais comprador.
“Os títulos em inflação mais curtos sofreram menos e se beneficiaram do impacto do juro, protegidos pelo prazo menor e também favorecidos pelo efeito da inflação, então ganharam pelo cupom e pelo carrego positivo da inflação”, observa o gestor. No fundo prefixado IRFM 1, a parcela mais curta seguiu a mesma dinâmica de proteção pelo prazo menor. Ainda que tenha rodado a 2,93% frente a um CDI de 4,40%, perdeu menos do que a carteira com prazo mais longo, que rodou a 5% negativos, explica.
No crédito privado, o ano acabou sendo favorável e o benefício da alta da Selic/CDI foi somado ao ganho pelo considerável trazido pelo fechamento dos spreads, que foi de 50 pontos base na média. “Esses fundos performaram bem e conseguimos capturar o ganho do fechamento dos spreads mas sempre focados em empresas sólidas e de boa qualidade creditícia do setor financeiro (compromissadas), que foi uma das posições mais eficientes”, explica. Baixa volatilidade, precificação atrativa e aumento do juro foram os três fatores para a performance positiva. “ Em 2021, recheamos a oferta de fundos com posições maiores em crédito. Isso foi casado com um pouco mais de restrição à liquidez para garantir produtos que sejam saudáveis mesmo em momentos turbulentos”, diz.

Os três fundos de renda fixa da BNP Paribas Asset Management que foram classificados como excelentes no ranking são todos de crédito privado e com perfil de risco high grade, utilizam rating proprietário e só compram ativos que tenham notas entre duplo A menos até triplo A, sem aplicar em nada abaixo de investment grade, informa Gilberto Kfouri Jr., CIO da operação brasileira.
“O crédito privado sofreu bastante em 2020 com a abertura dos spreads durante a crise mas sempre fomos muito tranquilos quanto a isso, era mais um problema de marcação e a partir de maio daquele ano os spreads começaram a fechar”, lembra. Do ano passado para cá, a casa passou a reduzir um pouco a participação dos ativos de crédito corporativo em suas carteiras, ampliando a alocação em títulos de instituições financeiras.
O primeiro desses três fundos já alocava praticamente tudo em crédito financeiro, que fica com 80% a 85% do total e o restante fica em títulos públicos para dar liquidez. O segundo aplica no master de crédito da casa e é mais balanceado, com a alocação dividida entre 50% no segmento corporativo e os outros 50% em letras financeiras e bancos. “Ele começou o ano mais concentrado em corporativo mas agora os bancos estão indo bem e decidimos aumentar aos poucos a parcela de ativos de instituições financeiras. Sua rentabilidade poderia ter sido maior mas preferimos manter a carteira mais conservadora”, explica.
No terceiro fundo, 50% dos recursos estão aplicados em crédito (fatias iguais de corporativo e de financeiro) e os outros 50% em títulos públicos. A carteira tinha mais corporativo no ano passado, cerca de 65% do crédito, mas foi reduzindo essa parcela até o final do ano para ficar meio a meio.
Para Kfouri, há uma diferença na composição das carteiras de crédito no Brasil e nos países mais desenvolvidos. “Naqueles mercados, em geral há mais oportunidades de adequar esses portfólios aos da renda variável, mas aqui o que vale é a qualidade das empresas”. As carteiras de títulos corporativos acabam ficando todas muito parecidas, a não ser no caso de gestoras que fazem crédito high yield. “Aqui a composição média das carteiras acompanha os pesos do mercado, com ativos dos setores de energia elétrica, petróleo, infraestrutura (rodovias) e saúde”, afirma.
Em 2021, os fundos se beneficiaram do carregamento (CDI mais 1,5% ou 1,8% ) e também do fechamento dos spreads, que trouxe ganho de capital. A tendência, diz Kfouri, é que o mercado continue favorável para o segmento em 2022, embora os spreads já tenham encontrado seu ponto de equilíbrio.