Desafios em todas as classes | A capacidade de lidar com ciclos e...

Edição 344

Em período de acúmulo de surpresas no cenário macro, com maior pressão inflacionária e elevação dos juros acima do esperado pelo mercado , a gestão de fundos de investimentos passou por um teste relevante. Na renda fixa, foi fundamental a capacidade de antecipar o novo ciclo de elevação dos juros e aproveitar janelas de oportunidade tanto no mercado de títulos públicos quanto no crédito privado, que cresceu nas grades oferecidas pelas casas gestoras.
Para os fundos de ações, o período exigiu o refinamento das equipes de gestão e análise na busca de empresas menos sensíveis à inflação, ao juro alto e ao cenário de esfriamento da economia. Para os fundos multimercados, o mix mais refinado de exposição a moedas, juros, bolsa e commodities nos mercados local e global ajudou a calibrar riscos em momentos diferentes da economia ao longo de 12 meses. Com o conflito na Ucrânia, o cenário mudou novamente no início de 2022 e as apostas ganharam novo tom de incerteza para os próximos meses.
A experiência para lidar com os ciclos econômicos e como eles se manifestam foi fundamental para a Bradesco Asset Management (Bram) adequar seus processos e modelos de gestão em 2021 aos impactos de médio e longo prazo da inflação e do juro elevado sobre as diversas classes de ativos, explica o diretor Luiz Philipe Biolchini. “A partir dessa percepção, previmos a inflação como um novo componente relevante que levaria os bancos centrais a se movimentarem . Isso permeou todo o nosso portfólio de fundos”, diz.
Nas carteiras de ações, a diretriz da asset foi a busca de empresas vitoriosas e pouco sensíveis aos impactos macro, com balanços fortes e boa posição de market share, preferencialmente aquelas que se favoreceriam na pandemia e no ambiente de alta dos preços das commodities, selecionando apenas emissores robustos. “O diferencial da gestão no ano esteve na capacidade de perceber os efeitos do processo inflacionário e, em seguida, notar que essas pressões seriam mais persistentes, assim como seus impactos sobre toda a economia”, afirma.
A posição estratégia de avançar na oferta de novos produtos em todas as classes foi outro ponto forte da casa, diz o diretor Ricardo Eleutério. “Fomos a asset que mais captou em crédito privado no ano e, no exterior, nos posicionamos bem com uma ampla oferta”, aponta. A Bram também reformulou o time e tratou de avançar para ficar mais próxima do cliente. A equipe reúne 80 profissionais, entre analistas e gestores, dos quais 14 são dedicados a crédito. “A oferta robusta e o time experiente ajudaram”, lembra. A captação dos fundos de crédito privado atingiu R$ 40 bilhões em 2021, o equivalente a mais de 50% do que foi captado por toda a indústria de fundos nesse segmento, e mostrou ser uma aposta acertada.
A asset soma patrimônio de R$ 150 bilhões em fundos de crédito privado. Com esse tamanho no crédito, que equivale ao de um banco médio inteiro, a escala nos permite negociar operações exclusivas diretamente com os emissores e manter especialistas no mercado secundário para a compra e venda de ativos, o que ajuda a compor as carteiras com ganho adicional”, diz Biolchini.

O crédito é diversificado e o nível de risco tem várias gradações, mas os fundos só aplicam em empresas de primeira linha.”Isso veio da crise pregressa, em 2020, e olhamos apenas aquelas que são líderes em seus mercados, geradoras de caixa. Alocamos mais em emissões corporativas de debêntures, no mercado secundário e no mercado primário”, detalha Biolchini. Os papéis de bancos de primeira linha também integraram a carteira, mas foram as compras de títulos de empresas no secundário, com boas taxas, os grandes destaques. O ganho de 0,50% por conta do fechamento dos spreads garantiu a vantagem. Este ano a asset está lançando seu primeiro fundo de crédito privado high yield, um fundo 555 listado na B3,com oferta inicial de R$ 120 milhões e objetivo de retorno de CDI mais 4% a 5%.
O investimento no exterior teve um ano excelente, observa Biolchini,mas foi uma alocação para equilíbrio de portfólio e não especulativa. “Agora neste início de ano, com a correção registrada nos mercados, continuamos com os fundos mas reduzimos bastante pela preocupação com a inflação nos EUA e porque os ativos lá performaram muito bem. A carteira tem empresas dominantes e vai fazer sentido ter esses papéis mais à frente”. Sob o ponto de vista geográfico, a decisão foi de migrar para o mercado americano em detrimento dos demais, mas ele enfatiza que esse é um movimento tático “Não temos mais Rússia e desde o início da invasão da Ucrânia zeramos posições em papéis russos, que eram pequenas”, conta.
Para o investidor estrangeiro, admite, a “bola da vez” passou a ser o Brasil neste momento. A alta do juro nos EUA e a Ucrânia colocam mais lenha na fogueira em 2022 e a guerra intensifica os efeitos que já eram sentidos nos mercados no pós-pandemia. “Isso traz mais disrupção nas cadeias produtivas, maior ineficiência na alocação do capital e maior nível de incerteza, o que nos exige ainda maior cuidado em função da perspectiva de inflação maior”, diz Biolchini. Na renda fixa, a maior parte dos fundos da casa manteve NTN-Bs com prazo médio menor. “Também passamos a dar preferência às empresas bem capitalizadas e beneficiadas pela alta das commodities, evitando aquelas que são mais sensibilizadas pela alta da inflação e dos juros, seja pela perda de poder de consumo seja pelo efeito do juro sobre a avaliação do seu valor presente”.

Não foi um ano fácil”, resume Marcelo Pacheco, diretor de gestão de ativos da BB DTVM. “O dólar subiu acima do nível de equilíbrio frente ao real, a bolsa registrou queda relevante e, na renda fixa, as posições prefixadas sofreram em termos nominais e reais porque o juro futuro subiu no segundo semestre para antecipar a ação do Banco Central brasileiro, que começou a alta antes dos movimentos feitos em seguida no plano internacional. “Houve desafios em todas as classes porque essa combinação de fatores complicou o cenário. No Brasil, tivemos a menor taxa de juro da história e a puxada do juro tem sido muito rápida para tentar controlar a inflação produzida pela saida não sincronizada da pandemia, com falta de produtos e pressão sobre os preços das commodities”, avalia.
Os destaques de performance ficaram para quem conseguiu se proteger nesse ambiente. Na gestora, Pacheco explica que ganharam as carteiras mais protegidas e também os fundos que detinham posições no exterior, direta ou indiretamente, o que ajudou a melhorar seu desempenho em 2021. Na renda fixa indexadas a índices de preços, os títulos mais longos e prefixados sofreram mais enquanto as carteiras mais curtas. “O desafio foi fazer a combinação adequada entre as parcelas atreladas à inflação e aquelas atreladas à variação dos juros, que perderam pela reprecificação; para isso, quanto mais curta fosse a carteira, melhor o resultado desse balanço”.
As estratégias vencedoras da casa foram aquelas que mantiveram carteiras com o mínimo de prefixados possível , em alguns casos, comprados na alta. A aposta em pós-fixados e no crédito privado foi uma decisão um pouco mais óbvia. “O mercado demandou muito crédito privado e aceleramos ainda mais as nossas compras, com a predominância dos papéis de instituições financeiras”, informa Pacheco. A captação cresceu na renda fixa como um todo mas o crédito privado foi o destaque do ano e continua forte em 2022. Para os fundos de pensão, avalia Pacheco, faz sentido o movimento de saída de investimentos no exterior, que tem sido percebido, para comprar NTN-Bs que pagam IPCA mais 6% ao ano, mas ele lembra que as taxas estão acima do nível de equilíbrio e é uma oportunidade de curto prazo que deve ser aproveitada ao máximo porque não se trata de um movimento estrutural.
Já no conjunto dos fundos de ações da casa, o bloco ligado às ações no exterior foi o mais relevante para carregar ativos de empresas que estão lá fora ou que se beneficiaram do dólar mais alto. Tanto por meio de BDRs quanto em estratégias combinadas entre Brasil e exterior. Outro destaque foi o investimento em empresas de infraestrutura e aquelas cuja gestão está mais vinculada a múltiplos (gestão quantitativa), que garantiu boa performance. “Mas o componente exterior foi o mais importante no período”, ressalta.
A análise do primeiro trimestre de 2022 mostra que a trajetória de alta do juro já está na metade, acredita Pacheco, e o mercado precificou parte relevante desse movimento. Ao mesmo tempo, a guerra na Ucrânia traz impactos diversos para os ativos, principalmente nas commodities do setor de energia. “O Brasil, como emergente e grande produtor/exportador de commodities, tem um impacto favorável em termos relativos porque as contas nacionais estão ganhando com a entrada de dólares, valorização do real e pelo diferencial juros/dólares, além da vantagem de ter uma bolsa bem “commoditizada”, diz.
A bolsa brasileira segue descolada das bolsas internacionais, como aliás ocorreu ao longo dos dois últimos anos. Agora, porém, isso acontece no sentido contrário, com alta local diante das baixas globais. Na BB DTVM, as posições que em muitos casos estiveram vendidas em bolsa local e compradas lá fora, inverteram essa proporção em 2022. “Seguimos com a recomendação de trocar a bolsa internacional pela brasileira. Também mantivemos a compra de hedge para os ativos como proteção em relação ao preço do petróleo e às taxas de juros e isso tem dado certo tanto para proteção quanto para ganhar dinheiro”, afirma. O dilema enfrentado pelo banco central dos EUA entre combater a inflação ou deixar acontecer uma inflação muito forte em meio ao ambiente de riscos geopolíticos, a aposta da casa é que vai prevalecer a preocupação com o controle da pressão inflacionária. “Estamos comprados em juros nos EUA. Na Europa é difícil prever porque a região está no centro do conflito entre Ucrânia e Rússia e tem forte dependência energética da Rússia. O dilema lá é maior”, admite.

O ano foi super difícil para a renda variável, apenas cerca de 20% dos fundos na indústria superaram o Ibovespa e os multimercados também sofreram porque a curva de juros aqui subiu muito mais do que se esperava”, avalia Fernando Lovisotto, CIO (Chief Investment Officer) da Vinci Partners, asset que tem R$ 58 bilhões sob gestão. O destaque do ano foi o investimento internacional mas, embora tenha tido um desempenho muito positivo em 2021, a fatia de alocação internacional deve encolher muito nas carteiras dos fundos de pensão este ano. “Infelizmente algumas EFPCs e RPPS estão resgatando tudo e esse não é o jeito correto de movimentar as carteiras. O melhor seria fazer movimentos táticos”, diz. Ele ressalta que as carteiras da casa não sofreram resgates. “Para quem é disciplinado, vale a pena manter um pedaço dos recursos lá fora desde que se faça hedge da moeda”, argumenta.
O fundo multimercado de investimento no exterior da Vinci classificado como Excelente no ranking é um FoF (fund of funds) que compra cotas de fundos diretamente em Luxemburgo, sem usar feeders locais. “Achamos melhor acessar direto os bons gestores lá fora, muitos deles de menor porte e que nem sempre têm interesse em abrir feeders no Brasil, porque isso permite obter retornos maiores”, diz. A carteira é diversificada entre as classes de ativos e faz hedge tático de moedas. O porfolio tem 40% em bolsa, alocados em estratégias com mandatos diferentes. O restante é dividido entre renda fixa,crédito e retorno absoluto. “Ele é construído para render dólar mais 6% a 8%, o que cobre a meta atuarial dos fundos de pensão no longo prazo e consegue uma boa relação risco/retorno” avalia.
A carteira de total return, um multimercado long biased, estruturado, tem também uma versão de ações. “O multimercado faz bolsa aqui e lá fora trabalha com mais proteções em ano volátil, o que permitiu aproveitar bem essas proteções em 2021 e terminar o ano com retorno positivo de 16% graças à maior flexibilidade do long biased”, conta. Outro destaque no ranking foi o FIA da Vinci que é uma carteira de smart beta (qualidade, momento e valor) e que andou bem mesmo em ano difícil, diz Lovisotto. A casa começou em 2015 a fazer smart beta e já quem quase R$ 1 bilhão em mandatos desse tipo. Em 2022, constata Lovisotto, o juro alto vai resolver boa parte das metas atuariais dos fundos de pensão – o CDI já embute 7% reais –, o que ajuda a reduzir o apetite pela diversificação.

Ranking – Data base 31/12/2021 (arquivo em pdf)

Performance geral dos gestores (arquivo em pdf)

Melhores gestores em Renda Fixa (arquivo em pdf)

Melhores gestores em Multimercados (arquivo em pdf)

Melhores gestores em Ações (arquivo em pdf)