Aposta em crédito | Gestora da Caixa acredita que a captação dos ...

Edição 359

Em 2022, quando tomou a decisão de ampliar a alocação em crédito privado, a Caixa Asset também definiu o objetivo de atuar de modo assertivo e ágil nesse mercado e seus fundos conseguiram passar ilesos pela crise do início de 2023, informa explica Gabriel Cardozo, diretor-presidente. “Não fomos atingidos pelos eventos deste ano, estávamos com posição zero em Americanas e apenas R$ 50 milhões em Light por meio de um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), que não entrou em recuperação judicial”, explica.
Com uma extensa lista de veículos em sua grade, a melhora na análise e na alocação de crédito, assim como o perfil mais conservador da carteira ajudaram a navegar melhor pelo mercado.
“O ajuste do crédito desde maio trouxe de volta os emissores e os preços começaram a ser corrigidos. Esse mercado deve voltar aos níveis pré-Americanas até o final de 2023 e começo de 2024, principalmente no que diz respeito à captação, que tem sofrido bastante”, acredita Cardozo.
“Temos sido bem atuantes na parte aplicada de juros e de inflação ao longo dos últimos 12 meses e, desde maio passado tivemos o melhor trimestre dos fundos de renda fixa ativos porque conseguimos fazer a leitura adequada dos movimentos de política monetária”, diz Álvaro Lessa de Oliveira, diretor de Gestão.
No book ativo de renda fixa, essa avaliação correta fez com que a asset entrasse muito forte nas posições aplicadas em juro, acompanhando a flexibilização do discurso do BC. “Hoje já nos desfizemos de boa parte dessas posições e temos migrado para o juro real, porque a surpresa inflacionária já está bem precificada”, afirma Oliveira. As posições em juros feitas na renda fixa também são feitas na parte de juros dos fundos multimercados.
A leitura adequada da política monetária internacional foi outro fator importante para o desempenho dos fundos na janela de 24 meses.
Nas alocações de risco em renda fixa, a avaliação é de que a gestão tem acertado bem mais do que errado ao longo dos últimos 24 meses. “Com a alta do juro nos EUA, ficamos comprados em taxas dos treasuries e fizemos um pouco de aplicação local na parte mais longa da curva de juros”, observa Cardozo.
No início deste ano, as carteiras passaram a apostar nas partes de médio e longo prazos da curva, movimento que já diminuiu atualmente. A percepção é de que ainda há um pouco de inflação para ajustar e, globalmente, pode ocorrer um ajuste marginal dos juros pelo Fed. “O patamar de 5,75% no juro dos EUA não deve gerar quebras que impactem o mercado ou trazer recessão. Os EUA devem continuar com o soft landing e a tendência da economia americana é de desaceleração”, avalia.
Se há motivo para preocupação é com a economia na China, diz. “A desaceleração chinesa tem assustado um pouco, uma conjuntura que é difícil mapear mas o mês de agosto pode ter sido exagerado em relação à situação das empresas de real estate na China”, afirma.
A balança comercial chinesa caiu, derrubada até por uma questão cultural que é o baixo nível de consumo naquele país. “Não nos parece que isso seja o catalisador de um derretimento dos mercados emergentes de commodities, mas de todo modo é um ponto de risco mais preocupante do que a política monetária global”, diz. Até porque já há um consenso em torno da desaceleração geral das economias e da convergência da inflação.
Entre os focos de crescimento da asset está a renda variável, principalmente nas estratégias sistemáticas, e a renda fixa internacional, uma boa tese para o institucionais como estratégia de diversificação de portfólios, acredita Cardozo.

Pegada macro – O resultado das estratégias de renda fixa do BTG Pactual está ligado à forte pegada macro da gestão, com a equipe de economistas liderada pelo Mansueto Almeida, economista-chefe, e pelo Tiago Berriel, estrategista-chefe da asset. “Eles dão a visão macro para todos os fundos. Além disso, a linha de veículos de crédito, por exemplo, conta com a avaliação das questões corporativas que o banco acompanha na lupa. A casa faz ofertas públicas tanto de dívida quanto de equities, então a análise é rigorosa”, diz Sergio Cutolo, sócio-diretor da asset.
Com uma ampla base de clientes, que inclui fundos de pensão, RPPS e seguradoras, e impõe acompanhar de perto as determinações de diversos reguladores, a gestão aproveita esse caldo de cultura de forma positiva, avalia Cutolo. “De 36 meses para cá, as estratégias têm tido uma trajetória em geral satisfatória, que na verdade já vem de antes porque há fundos como o BTG Pactual Yield DI Fundo de Investimento Renda Fixa Referenciado Crédito Privado cujo histórico vem de 2012”, lembra.
A pegada macro ajuda a montar posições e alguns fundos têm atuação mais abrangente, seja em Latam ou economia americana. “Alguns fundos multimercados conseguiram capturar até mesmo as mudanças de política monetária no Peru, por exemplo. Há também um olhar cuidadoso para os sinais contraditórios dos juros nos EUA, que exigem acompanhamento muito próximo”, diz.
Na renda fixa, o fundo de crédito corporativo e o carro-forte da casa, porque cobre uma gama de clientes diversificada. Seu perfil é high grade e rating mínimo triple B. “Ele teve um desempenho interessante no último trimestre. No evento Americanas, que atrapalhou esse segmento, achamos que o mercado exagerou e tínhamos uma visão diferente. Quando veio a correção da precificação dos ativos corporativos e o mercado normalizado no segundo trimestre, ganhamos muito com isso”, afirma. O fundo tem mais de 50% dos ativos em crédito corporativo, com rating triple A e mais de 90% classificados até duplo A.
A conexão com a economia mundial e com o mercado de commodities, que depende das taxas de crescimento da China, atualmente em patamares muito inferiores aos históricos do país, acaba afetando também o Brasil, assim como os demais mercados, lembra Cutolo. Além disso, os EUA esperam um crescimento menor de sua economia. Localmente, a preocupação central é a trajetória da dívida pública, cuja percepção junto ao mercado varia muito. “Para zerar o déficit em 2024, como quer o governo, seriam necessários recursos equivalentes a cerca de 9% do PIB para arcar com os gastos. Enquanto isso não ficar claro, o assunto vai fazer preço no mercado”, avisa.
O cenário para a queda da Selic já passou por versões diferentes do início do ano para cá e por enquanto o mercado está bem otimista. “Mas se a expectativa em relação à dívida pública piorar, poderemos ter problemas e o ritmo de queda do juro vai sofrer um pouco”, avalia.

Inflação persistente – “A gestão de renda fixa ficou bem conservadora nos últimos 12 meses, principalmente no segundo semestre de 2022, porque nunca acreditamos que a inflação fosse ceder naquele momento e continuamos com as barbas de molho em relação à inflação aqui e no exterior”, afirma Aquiles Mosca, head comercial e de marketing da BNP Paribas Asset Management.
Essa postura protegeu a asset em relação aos seus pares mais otimistas e este ano, entre o final do primeiro e o início do segundo trimestre a gestão ficou um pouco mais otimista quanto à inflação. “Isso significou a volta das posições prefixadas, que beneficia tanto as pré puras quanto aquelas que têm apenas um componente pré”, explica. Em paralelo, os fundos de crédito privado conseguiram um diferencial importante em relação aos demais porque não tinham Americanas em suas carteiras. “Antes mesmo dos eventos do início do ano já não gostávamos do setor de varejo, cujas margens eram muito apertadas e enfrenta forte concorrência do comércio online. No caso específico da Americanas, nunca gostamos desses papéis por causa da governança da empresa. E também não tínhamos Light”, afirma.
Por conta disso, enquanto os resgates no mercado de crédito acumularam R$ 40 bilhões, os fundos da asset registraram captação de R$ 4 bilhões. A performance em crédito foi o principal diferencial da casa nesse período porque passou incólume e teve fluxos positivos. Além das novas emissões começando a voltar agora ao mercado, a perspectiva é de que o segundo semestre ofereça bons papéis também no secundário, ainda com taxas interessantes.
Ao mesmo tempo, com o processo de queda do juro ainda no início, a percepção é de que o mercado ainda é favorável aos fundos de renda fixa que fazem posições prefixadas ou tem componentes pré. “E a maioria dos papéis em nossa carteira é CDI+”, diz.

Exterior – “Daqui para a frente, uma melhora no juro longo dependerá muito do exterior, de como o cenário global irá sinalizar maior controle da inflação, porque no mercado local os movimentos de melhora foram muito calcados nos avanços das reformas fiscal e tributária e o Ministério da Fazenda já mostrou estar bem alinhado nessas questões”, analisa Bruno Horovitz, sócio da Icatu Vanguarda.
No mercado de renda fixa local, ele avalia que o crédito vive um dos melhores momentos dos últimos dez anos para aumentar a alocação. A recuperação pós-eventos Americanas e Light começou em julho/agosto mas ainda está longe de voltar ao que era. “Até agora ela aconteceu mais em função dos fluxos e daqui para a frente vai continuar, porém agora mais calcada na qualidade dos balanços das empresas”, afirma.
Nos fundos da asset, a gestão voltou a aumentar carteiras e está começando a fazer o giro natural dos ativos para pegar a segunda “pernada” dos spreads. As oportunidades, diz o gestor, nunca foram tão boas como agora porque o crédito não compensava o risco mas hoje o retorno é muito maior. “Há bons ativos pagando CDI mais 3% ou 4% por quatro a cinco anos. O mercado voltou à normalidade porque havia oferta reprimida”, diz.
Entre os fundos, o Icatu Vanguarda Renda Fixa Fundo de Investimento Plus Longo prazo tem apresentado desempenho destacado em sua categoria. É um fundo CDI e vem de um período de juros muito altos, de 36 meses para cá, com taxa de administração muito baixa. “Ele tem um pouco de crédito privado que é mais do que suficiente para cobrir os custos e, além disso, tem uma parcela de risco em juros e inflação mas essa estratégia de risco de mercado é muito oportunística”, explica o gestor. Ela só é utilizada quando é identificada alguma assimetria que possa agregar retorno adicional acima do CDI porque mesmo sem isso é possível manter o fundo, só com o crédito. “A relação custo/risco é muito boa e isso, somado ao ambiente de juros altos, garantiu o retorno favorável. É um fundo que faz bem a parte de caixa e as movimentações dos planos de Contribuição Definida dos fundos de pensão”, observa.
Outro fundo com desempenho favorável é o fundo Data Alvo da casa, um FIC de FIM de crédito privado inspirado nos fundos target-date nascidos lá fora há 30 anos para resolver o problema da montagem de fundos previdenciários de longo prazo.”O mercado percebeu que as pessoas ou erravam no início ou no final da aplicação, quando na verdade deveriam assumir mais risco no início e reduzi-lo conforme chegassem perto do fim do período de acumulação”, explica.
Os fundos data-alvo vieram para eliminar essa decisão errada porque já vêm com uma data específica como horizonte e fazem a alocação ótima ano após ano. O fundo da asset, com horizonte até 2050, tem muito risco no momento e vai reduzindo isso aos poucos. “É um produto relativamente simples mas de gestão complexa”, conta.

Melhores gestores em Renda Fixa (arquivo em pdf)