De olho no valuation | Gestoras monitoraram como fatores conjuntu...

Edição 349

A firmeza em manter a concentração do portfólio em um número pequeno de ações, apesar das condições adversas do mercado nesses 12 meses analisados pelo ranking da revista Investidor Institucional (até 30 de junho deste ano), contribuiu para a performance dos fundos da Trígono Capital. Com sete fundos analisados, dos quais cinco de renda variável e dois de previdência, a casa tem 92% das suas posições concentradas em apenas 10 ações, aquelas nas quais o time de gestão tem maior convicção, informa Werner Roger, sócio fundador e CIO. Ao todo, são 25 empresas investidas.
A gestora aparece com quatro fundos de ações excelentes no ranking de 12 meses, mas a estratégia de todos é a mesma, com algumas características diferentes, usando o processo bottom-up e maior peso nos fundamentos das companhias. “Avaliamos as empresas investidas de forma diferente do que faz grande parte do mercado, pois usamos uma ferramenta de valor econômico adicionado (Economic Value Added) e, felizmente, em quatro anos temos ido muito bem em performance”, diz Roger. Outro diferencial de gestão, segundo ele, é a pequena rotação de papéis nas carteiras.
O fundo Flagship, por exemplo, em quatro anos de histórico, só retirou uma das oito primeiras ações de sua carteira, uma incorporadora imobiliária que foi muito afetada pela alta dos juros, a Trisul. O fundo saiu da Trisul quando a ação estava a R$ 13,00, cotação que caiu atualmente para R$ 5,00.
Os fundos da casa não fazem trading e não têm posições alugadas, não usam derivativos nem posições short ou market timing. “Meu mandato é de renda variável, então é full invest e não vou fazer market timing, a gestão é bem ortodoxa, quase xiita”, explica.
Dentro desse perfil conservador, a preferência é por empresas sem alavancagem, que ganham com os juros altos. Desde 2015, quando ficou posicionada para uma possível queda do real frente ao dólar, a casa focou em empresas com preços dolarizados e manteve essa postura de lá para cá. “Estamos bem em relação a uma eventual alta do câmbio mas, se o dólar cair, também estará tudo bem porque será sinal de um ciclo virtuoso na economia. Essa visão de alocação explica o desempenho dos fundos”, avalia.
Os resultados têm sido interessantes porque, enquanto alguns fundos de renda variável perderam de 40% a 50% de patrimônio, os fundos da gestora acumulavam R$ 2,3 bilhões sob gestão em agosto, contra R$ 2 bilhões no mesmo mês de 2021. “Mesmo com a migração para renda fixa que houve nesse período, estamos melhor do que a indústria”, diz.
Os setores privilegiados nas carteiras são o agro, o industrial voltado à indústria automobilística pesada (caminhões, veículos agrícolas e fora de estrada) e commodities com foco específico em dois sub-setores: ferro-ligas, setor eletro-intensivo em que se destacam empresas petroquímicas como a Ferbasa e a Unipar, que está se tornando autossuficiente em energia, e o sub-setor de ferro-silício, cujos preços quadruplicaram em um ano e meio. Essas posições já foram feitas há tempo e devem se manter por muito tempo mais, com destaque para a relevância da questão energética.
Uma das principais empresas da carteira é a Kepler-Weber, que tem muito caixa e não tem dívida, isolada da dependência de questões políticas, avalia Roger. Outra é a Tupy, com posição também relevante. Há ainda posições em Logística, com a Simpar, dona da Movida, que tem crescido em ritmo superior a dois dígitos e é relacionada ao agronegócio.
A eleição não deve afetar nossa visão do portfólio, diz Roger. “O ex-presidente Lula, se eleito, tem seu berço no setor automobilístico e também não irá brigar com o agronegócio. Já as commodities, não dependem do presidente. Seja qual for o governo, somos neutros”, afirma.

Com dois fundos de ações e um multimercado no exterior classificados como excelentes no ranking, a Schroders destaca os cenários muito diversos que foram vividos em 12 meses, sob a ameaça da Covid, a elevação de juros no Brasil e um ambiente global que ainda era de inflação e juros baixos no segundo semestre de 2021. “No mercado de renda variável, as empresas pequenas e médias continuaram com muita força e abundância de capital no mercado mas no final do ano isso mudou e houve um movimento extremo de valuation na direção das ações de empresas tradicionais”, diz Pablo Riveroll, chefe de renda variável para América Latina, baseado em Londres. Em 2022, o valuation ficou muito baixo e mais atrativo para comprar ativos de commodities e bancos, favorecidos pelo ambiente de juro muito alto. As empresas de alto crescimento caíram, enquanto as dos setores de commodities e bancos passaram a se beneficiar.
O início da guerra na Ucrânia acelerou ainda mais a inflação pelo corte na oferta de commodities de alimentos da Rússia, Ucrânia e Belarus. No Brasil, o juro elevado passou a exercer maior pressão sobre as empresas médias e houve mais resgates. “De março para cá, porém, o crescimento mais fraco na Europa, a desaceleração nos EUA e o freio na economia chinesa agravaram o quadro global, embora a oferta de grãos do leste europeu tenha se ampliado acima do previsto, assim como de minério de ferro, aço e alumínio”, lembra. Com isso, o mercado passou a olhar mais para as empresas brasileiras porque o BC logrou reduzir a inflação enquanto o ambiente lá fora tende a continuar difícil.
Nas carteiras dos fundos de ações da gestora passaram a figurar shoppings, telecom e ações de empresas ligadas ao consumo discricionário ou varejo. Outra mudança registrada até agora em 2022 foi na valuation das companhias estatais, que era muito baixa porque o mercado precificava cenário ruim em Petrobras e BB, mas elas apresentaram resultados fortíssimos. ”O mercado errou para baixo na precificação dessas ações em ano eleitoral, a nossa visão foi essa e vimos a oportunidade, então ficamos comprados em estatais e só agora estamos reduzindo essas posições por uma questão de gestão de risco”, diz. A projeção para a economia brasileira é de desaceleração, com a economia fraca porém sem recessão em 2023, com uma provável política fiscal mais restritiva.
Nos fundos de ações, os temas em que a asset tem maior convicção estão ligados às empresas que se beneficiarão da inflexão no juro, as companhias de transmissão e distribuição de energia, por exemplo. “Seguimos negativos em commodities e acreditamos que o real continuará a se apreciar frente ao dólar. Também estamos reduzindo a exposição a bancos”, afirma.
Nas estratégias globais, o fundo que aparece com destaque no ranking é um multiestratégia cuja alocação é feita pelo time de Investment Solutions lá fora, explica Luiz Fernando Pedrinha, head de vendas institucionais. “É o embrião de uma estratégia de alocação global customizada para fundos de pensão que nos deu experiência para customizar mandatos para esses investidores. A customização permite diversificar para gerar mais alfa. Os planos são para reforçar o time de Solutions, hoje com quatro profissionais, porque o Brasil passou a ser relevante para a casa do ponto de vista de investimentos globais de seus fundos de pensão. “Queremos aumentar a profundidade e o alcance nessa área”, diz.

NA XP Asset, o mérito da gestão de renda variável foi prever a mudança de cenário e a magnitude da alta da Selic ainda em meados de 2021. “Vimos naquele momento que a elevação do juro teria que ser maior tanto no mercado doméstico quanto lá fora, e ficamos mais cautelosos. Isso significou manter 15% a 20% de caixa nos fundos de ações”, conta Marcos Peixoto, gestor de renda variável da XP Asset. Antecipar a piora do lucro das empresas por conta do aumento das despesas financeiras foi fundamental porque a mudança nos preços dos ativos como decorrência do juro foi o fator mais relevante do período. “Preferimos ficar um pouco fora dos ativos de crescimento, encurtar o horizonte e focar em companhias que estavam gerando caixa e lucro no curto prazo, fugindo de papéis que caíram muito nesse período, como os de varejo e tecnologia. Desviamos das cascas de banana”, diz.
A cautela na alocação, que levou ao shift das empresas nas maiores posições dentro das carteiras, privilegiou os setores elétrico, mais defensivo, o financeiro, beneficiado pelo juro elevado (bancos, seguradoras e adquirentes), e algumas commodities, em especial petróleo. “Essa seleção continua a valer mas já houve uma correção razoável e as empresas que andaram bem fizeram isso porque refletiram uma melhora no lucro e não por terem ficado mais caras”, afirma.
A asset está começando agora a deixar o portfólio mais balanceado com a volta de ações do varejo, por exemplo. A avaliação é um pouco mais otimista em relação ao comportamento do PIB, mas o clima é de “empurrar com a barriga” enquanto não se sabe o que virá em 2023. “O mercado vê crescimento zero da economia para o próximo ano, mas a capacidade do mercado prever crescimento é fraca e tem muita coisa pra acontecer”, admite Peixoto. O próximo grande movimento da bolsa, acredita, será o pós-eleição e dependerá muito das questões fiscais e da inflação. Por enquanto, a gestão continua focando em prazos de investimento mais curtos e quando aposta em empresas de varejo é apenas naquelas com maior qualidade, porque ainda há muita incerteza no horizonte.
Apesar disso, nos últimos dois meses os fundos da XP estão sem caixa e 100% investidos porque a bolsa está mais equilibrada graças à percepção de que está próximo o fim do ciclo de alta do juro. “Olhando para a frente, os destaques são a Petrobras, a Eletrobras, que já carregávamos antes da privatização e que é a maior posição individual dos fundos, além da BB Seguridade, que também foi bem este ano, a Minerva e a Cielo”, diz.

Com estratégias ativas, além de uma seleção de papéis rigorosa, que incluiu empresas mais defensivas, os fundos de ações da Banrisul Corretora registraram desempenho positivo nesses 12 meses. Apesar do fluxo negativo de recursos na classe, quando a bolsa corrigiu grande parte de sua alta, o desempenho dessas carteiras foi melhor porque as estratégias são sempre ativas, informa o analista Edgar Souza. “À medida que o juro começou a subir, a renda variável passou a registrar saída de recursos mas, como fazemos gestão ativa, também houve a opção de deixar as carteiras com beta mais baixo. Frente à queda de mais de 22% na bolsa, as carteiras ficaram mais defensivas”, diz. A gestora aparece com três fundos de ações classificados como excelentes no ranking: Banrisul Índice FIA, Banrisul Divid FIA e o Banrisul Infra-Estrutura FIA,
Entre os ativos que ficaram com posicionamento acima do referencial, o fundo de dividendos contou com Unipar e Schulz, enquanto o fundo de infraestrutura teve participações importantes de Unipar, Petrobras, Ioschpe e Tupy, que ajudaram a manter a aderência.
Na carteira de Índice, as maiores posições foram em Petrobras, Itaú, Minerva, Multiplan e Assaí. “Hoje o mercado voltou um pouco, com a bolsa acima dos 100 mil pontos, mas continuamos muito seletivos na escolha de papéis e a carteira não mudou muito, passa apenas por revisões periódicas”, explica. A perspectiva ainda aponta bastante potencial para essas empresas em 2022 e 2023.
Apesar da volatilidade do mercado, o cenário é construtivo para o mercado brasileiro em relação a outros emergentes, até por ser bastante líquido e ter potencial para atrair investidores estrangeiros. A aposta é também na manutenção dos juros, sem novas altas expressivas. “O Brasil se antecipou muito no aperto monetário e a expectativa é de que talvez o tamanho da dose já esteja suficiente. Quanto à eleição, seja quem for eleito terá que tratar com cuidado a questão fiscal”, observa o diretor-presidente Alexandre Ponzi. Neste segundo semestre, ele lembra que o cenário está mais positivo para a renda variável, com espaço para que as estratégias adotadas pela casa continuem a avançar.
A visão é de mais longo prazo, comitês segregados e um stock picking que reflete a dedicação da equipe para fazer as escolhas. “Há uma série de fatores que contribuem para endereçar qualquer cenário de modo confortável, até porque temos um portfólio de produtos complementares, com gestão e administração própria em renda fixa e em ações, além dos fundos multimercados que passamos a oferecer em 2021 por meio de nosso projeto com gestores parceiros”, diz.
Em renda variável, o processo seletivo dos fundos tem sido intenso e o desempenho foi melhor do que o da concorrência e acima do benchmark. “Isso está refletido no crescimento de 17% da renda variável que registramos este ano, no período de dezembro de 2021 até julho de 2022, por conta do seu retorno atrativo ”, afirma Ponzi.

Melhores gestores em Ações (arquivo em pdf)