Edição 264
A forte volatilidade dos mercados no ano passado voltou a assombrar os gestores no primeiro semestre de 2014. Em um cenário de incertezas, nem os mandatos multimercados, que possuem mais flexibilidade nas alocações e podem responder mais rapidamente às adversidades, conseguiram gerar rentabilidades muito superiores ao CDI. Na média da indústria, inclusive, os multimercados apenas empataram com o benchmark. No acumulado entre agosto de 2013 e julho de 2014, os fundos da categoria geraram retornos de 8,53% – enquanto que o CDI atingiu 8,02%. Já no primeiro semestre deste ano, o setor ficou um pouco abaixo do benchmark, com rendimento de 4,28% – contra 4,35% do CDI no período.
Os fundos de estratégia específica, com destaque para ativos de crédito privado, e os de multiestratégia foram os únicos que conseguiram superar o benchmark com alguma folga, apresentando rentabilidades de 13,05% e 9,04% no acumulado de doze meses.
A asset do HSBC, campeã do ranking Melhores Fundos para Institucionais, também assumiu a liderança de multimercados nesta edição, com carteiras voltadas para o mercado de ações internacional e portfólios com predominância em crédito privado. Daqui para frente, contudo, o aumento do custo de funding pode inibir o desempenho dos títulos emitidos. “Vamos ter alguns desafios, pois o país vai crescer menos e, consequentemente, as empresas também. Haverá um possível aumento do custo de captação e as taxas de operações mais longas devem subir mais. Será preciso uma análise mais cautelosa do ponto de vista de prêmio”, analisa Guilherme Abbud, diretor de investimentos da asset do HSBC.
Na segunda posição em multimercados, ficou a asset do Itaú Unibanco, com cinco fundos com classificação excelente. Em seguida aparecem quatro assets, todas empatadas com três fundos multimercados com a nota verde. O J. Safra Asset Management se destaca neste grupo devido ao número de fundos amarelos, seguido pelo BTG Pactual, Opportunity e Polo. Destaque no ranking anterior, com dados até dezembro de 2013, a Santander Asset Management (SAM) caiu na categoria de multimercados, ficando com a sétima posição, com dois fundos excelentes.
Marcelo Flora, sócio do banco BTG Pactual e diretor de distribuição da asset da instituição, segue também reforça a ideia que os desafios serão cada vez maiores para os multimercados. “Temos percebido um fechamento muito forte no spread de crédito dos papeis. Inclusive, empresas que emitem no mercado local estão pagando menos prêmio do que oferecem no mercado internacional”, afirma. A gestora do banco ocupou a 4ª posição no ranking da categoria de multimercados, com fundos cuja estratégia predominante é voltada para renda fixa. “O segmento que mais contribuiu para a rentabilidade das carteiras, depois do crédito, foi o de juros. Conseguimos aproveitar bem o momento de fechamento do juro real, que atingiu o pico de 7% no começo do ano”, complementa.
Com a proximidade das eleições, os gestores voltaram a assumir uma postura mais conservadora, conforme destaca Flora, priorizando caixa para ganhar flexibilidade nas alocações. “Uma alternativa para esse caixa tem sido as estratégias de crédito, que apresentam retorno um pouco melhor que os títulos públicos”, comenta.
Por outro lado, a aversão ao risco impactou o volume de emissões por parte das empresas. “Tem sido muito difícil entregar alfa para os cotistas. A indústria toda não tem performado muito bem. Todos esperam as definições em torno do futuro presidente e de sua equipe econômica e isso não vai terminar com o segundo turno. Vai demorar um pouco mais de tempo para fechar essas questões que estão em aberto, como o cargo do ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Enquanto isso, os gestores vão priorizando formação de caixa”, pondera Flora.
Renda variável – Entre os fundos excelentes do BTG Pactual figura o Equity Hedge Fund, com alocação predominante no mercado de ações doméstico. Há, também, um pequeno percentual investido em ações da bolsa mexicana, onde o BTG tem um escritório. O volume investido lá fora, contudo, não foi revelado. “É uma parcela relativamente pequena ainda, mas o México é um mercado que oferece boa liquidez entre os emegentes na América Latina”, pontua Gustavo Hungria, responsável pela equipe de renda variável do BTG Pactual.
O fundo tem estratégia fundamentalista e de pares de ações. “Procuramos ficar comprado em uma ação e vendido em outra de um mesmo setor, montando uma carteira bastante diversificada do ponto de vista setorial. Buscamos papeis com baixo valor relativo e alto potencial de valorização. Temos também uma pequena exposição em ações direcionais, mais suscetíveis às volatilidades da bolsa”, explica Hungria. O foco principal, contudo, é fugir das influências do cenário macroeconômico e dos índices tradicionais, ao passo que a seleção de ações que compõem a carteira tem como base a capacidade de gerar valor de cada empresa. Ainda assim, no acumulado de janeiro a setembro, o fundo conseguiu performar 95% do CDI. No ano passado, o retorno foi de 115%.
“Esse ano especificamente, o movimento de mercado ficou fora dos padrões. Tivemos volatilidade no cenário externo, com o aumento da aversão ao risco e a possibilidade de reversão do fluxo global com o aumento dos juros norte-americanos. Aqui dentro, as eleições têm mexido muito com os investidores”, destaca Hungria.
Atrás do HSBC, ocupando o 5º lugar na categoria de multimercados, está a gestora de recursos do banco Opportunity, que também se destacou com um portfólio de renda variável e uma estratégia fundamentalista na escolha das ações de melhor performance.
“Está sendo um ano muito difícil, com alta volatilidade. A bolsa caiu bastante, puxada pelo cenário internacional e pelas especulações em torno das eleições. Um dos destaques foi o setor financeiro, de bancos privados, que gerou um bom retorno nos últimos dois anos. O mercado estava muito cético em relação à capacidade competitiva das instituições, dada a agressividade dos bancos públicos. Outro setor que contribuiu para a rentabilidade do fundo foi o de seguridade”, analisa Philippe Perdigão, gestor do Equity Hedge, um dos fundos campeões do Opportunity.
Enquanto os mandatos multimercados tiveram dificuldades em apresentar desempenho acima do CDI nos doze meses, um fundo de fundos multimercados do Opportunity conseguiu se destacar, garimpando produtos de gestores de alta performance. O Allocation é composto por 18 fundos de 11 gestores diferentes. A maior parcela do patrimômio está alocada em multimercados macro (70%). “Conseguimos escolher bons gestores e bons fundos. Foram doze meses complexos, principalmente no primeiro semestre de 2014, período em que os multimercados macros não performaram bem, o que segurou um pouco o desempenho do fundo”, justifica Eduardo Penido, gestor do allocation do Opportunity. No acumulado entre janeiro e setembro deste ano, a carteira rendeu 86% do CDI.