Edição 292
Os fundos de índice com exposição a fatores, conhecidos como smart beta, devem começar a entrar nas estratégias dos fundos de pensão que voltam à renda variável. Os smart beta começaram a ser debatidos no Brasil em 2014, mas devido à crise político-econômica que começou no País em 2015 e se estendeu até o final do ano passado, o tema ficou suspenso enquanto investidores buscaram se proteger por meio de investimentos em renda fixa. Agora, com o mercado de capitais já demonstrando alguma recuperação, os fundos de pensão voltam a analisar estratégias alternativas para retornar à renda variável.
Segundo a diretora executiva da MSCI no Brasil, Paula Salamonde, ainda não há uma implementação efetiva desses índices no Brasil, mas quatro fundos de pensão já procuraram a empresa para conhecer melhor a estratégia de índices de fatores. “Estamos nos alinhando com consultores para que eles também possam prover informações sobre essa estratégia aos fundos de pensão”, diz Salamonde. Segundo ela, agora é o momento dos investidores começarem a incluir os smart beta em uma macroalocação em ações. “É algo complementar aos índices amplos de capitalização de mercado”, salienta. A MSCI estruturou novos índices smart beta para o mercado em 2015, mas aguarda demanda de gestores e investidores para comercializá-los.
Outra empresa provedora de índices, a S&P, também já está preparada para atender a demanda dos investidores, esperando crescimento desses índices a partir do momento em que fundações entrarem mais em contato com a estratégia smart beta. A empresa lançou cinco índices de fatores em 2015, mas também viu o impacto da crise segurar o movimento de investidores em direção ao mercado de ações. Paulo Sampaio, diretor da S&P Dow Jones para a América Latina, explica que já em 2016 o mercado começou a buscar recuperação e os investidores institucionais, que estavam com baixa exposição a renda variável, passaram a rever seus portfólios.
“Notamos que o investidor aproveita para tentar reverter prejuízo ou reinvestir os recursos provenientes do ganho com renda fixa. Já no início deste ano, a bolsa teve um desempenho bom e as melhores perspectivas de mercado trouxeram novos horizontes”, diz Sampaio. “Assets e fundos de pensão têm buscado conhecer o desempenho desses índices, o que é um sinal de que o mercado está de fato reagindo”, destaca o diretor da S&P.
Para o gerente de renda variável da Fundação Cesp (Funcesp), Paulo de Sá, a ideia de agregar índices smart beta nas carteiras de renda variável é interessante mas ainda não foi adotada pela entidade. “Ainda não conhecemos os índices disponíveis no Brasil”, ressalta.
Fatores – Ao estudar as melhores estratégias de smart beta os fundos de pensão precisarão analisar quais são os fatores, com diferentes características de risco, que melhor se encaixam em seu portfólio. Cada fator está relacionado a um índice. Os índices que vieram para o Brasil por meio dessas duas empresas são, basicamente, baseados em fatores de qualidade, valor, momento e baixa volatilidade (saiba mais no quadro abaixo). Paula Salamonde explica que a melhor estratégia para os investidores, em um primeiro momento, seria combinar diferentes fatores para que eles tenham uma abrangência cíclica e, ao mesmo tempo, defensiva. “Nosso mercado tem uma taxa de juros mais alta, enquanto nos mercados externos que já utilizam smart beta há mais tempo, é possível diversificar mais”, diz Paula.
Paulo Sampaio destaca que cada tipo de fator e de estratégia tem uma função, e os investidores terão que estudar como eles se adaptam às suas carteiras. “O smart beta busca o diferencial de rentabilidade que não está presente no índice geral. Esse diferencial está em uma característica específica”, explica.
No índice que utiliza o fator de baixa volatilidade, por exemplo, empresas que têm menor volatilidade, sem grandes ganhos nem grandes quedas de preço, farão parte da composição do portfólio do investidor. “É uma estratégia para quem busca diversificação com mais cautela”, salienta Sampaio, enfatizando que esses estudos ainda demandam certo tempo e os efeitos práticos da aplicação devem demorar para serem vistos.
Segundo o gerente de renda variável da fundação, Paulo de Sá, o fator momento é a melhor estratégia para o mercado brasileiro atualmente, pois conforme haja maior otimismo dos investidores, o novo fluxo de investimentos será depositado em papéis de maior liquidez. “A estratégia de momento captura melhor esse movimento de bolsa. Em um segundo momento, conforme o crescimento da economia brasileira for retomado, a estratégia de valor seria mais interessante”, salienta o executivo.
Mercados externos – Os índices smart beta já estão bem difundidos fora do país, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, onde o crescimento dessa estratégia tem sido forte nos últimos três anos. Mas o interesse por essa estratégia se iniciou após a crise econômica mundial de 2008. Na época, os índices smart beta despertaram o interesse de investidores institucionais. Entre 2008 e 2015, o volume de ativos sob gestão desta indústria cresceu de US$ 108 bilhões para US$ 616 bilhões, de acordo com dados da Morningstar.
De acordo com Paula Salamonde, essa indústria já está madura no exterior, com estratégias sofisticadas dentro da gestão de risco. Paulo de Sá complementa que a utilização desses índices vem atrelada a uma estratégia de buscar simplicidade e portfólios baratos. “É uma outra maneira de investir em mercados acionários”, destaca o gerente da Funcesp. “Antigamente, era preciso comprar uma ação específica; depois vieram os índices setoriais e agora a revolução começou com os fundos passivos de índices e depois os ETFs, onde é possível replicar um portfólio a uma taxa muito baixa”, explica Paulo de Sá.
Ainda de acordo com a visão do executivo, a estratégia de índices com exposição a fatores veio para ficar. “Lá fora já está crescendo, e no Brasil está começando a ser analisada, mas terá boa aceitação”, destaca.
Estratégias com exposição a fatores
A construção de uma carteira de smart beta tem como base a exposição a fatores com características sistemáticas diferentes do risco de mercado. Isso é implementado a partir de características observáveis dos ativos. “A estratégia de fatores é acessível de maneira simples e a um custo baixo. Com ela, é possível ver as ações um pouco mais segmentadas. Não é uma estratégia passiva, pois demanda um acompanhamento, mas é mais simples ao mesmo tempo, pois não terá uma análise mais profunda sobre um setor específico”, explica Paulo de Sá.
Os fatores típicos utilizados para estruturar as carteiras no Brasil são:
• Tamanho da empresa
• Valor
• Baixa volatilidade do preço da ação
• Momento/dinâmica de preço relativo
• Qualidade/métricas relacionadas à lucratividade, eficiência operacional e baixa alavancagem
No mercado externo, também é utilizado o fator liquidez, mas por conta do mercado acionário brasileiro de menor porte, essa estratégia não se encaixaria no perfil de investimentos local. No Brasil, pelo número pequeno de ações na bolsa de valores, ao construir fatores que determinarão as características do índice é preciso de diversificação, já que o poder explicativo disponível sobre as ações é menor. Por isso, é aconselhável ampliar o universo de ações ao se utilizar essa estratégia, cobrindo vários mercados, inclusive internacionais.