Retornos sem sustos | Gestores preveem que institucionais devem o...

Edição 288

 

Projeções de Demanda de Ativos

Apesar do cenário de queda da taxa de juros previsto para 2017, o segmento de títulos públicos deve continuar aquecido entre os institucionais ao longo dos próximos meses, seja para aproveitar as oportunidades ainda existentes entre os ativos atrelados à inflação ou para se posicionar nos pré-fixados, que são os mais beneficiados com a redução da Selic. A retomada econômica prevista para 2017, a própria demanda dos investidores e a necessidade de financiamento das empresas devem fazer com que o segmento de crédito privado também seja bastante demandado, preveem os especialistas. Na renda variável, os gestores também se mostram otimistas com o possível retorno dos investidores ao nicho, diante da redução dos prêmios na renda fixa, ainda que ganhos futuros na bolsa estejam fortemente atrelados à aprovação das reformas propostas pelo governo.
O diretor de renda fixa da Franklin Templeton, Rodrigo Borges, recorda que, desde o último ciclo de queda dos juros, entre 2012 e 2013, a renda fixa pré-fixada e mesmo as opções ligadas à inflação, ou seja, qualquer risco relacionado à duration, estava um pouco adormecido entre os investidores institucionais.
Olhando para o cenário à frente, com uma inflação relativamente baixa, e com baixo crescimento econômico, o mercado de renda fixa como classe de ativo, e a renda fixa pré-fixada especificamente, vai ser uma opção interessante em 2017, pondera o especialista. “Devemos ter um ciclo de queda dos juros relativamente longo, e vemos um bom espaço para o BC cortar os juros, em função do cenário de inflação e de atividade. Nesse ambiente os pré-fixados devem ser uma opção interessante”, afirma o diretor de renda fixa da Franklin Templeton.

Renda variável – Frederico Sampaio, chefe de renda variável da Franklin Templeton, ressalta que ainda há “muita nuvem no horizonte” para 2017. Ele lembra que no início de dezembro o mercado passou por uma forte revisão das estimativas para o crescimento do PIB no ano que vem, que antes previam uma evolução ao redor de 1,5%, e depois das mudanças passaram a apontar algo próximo de zero. “O que eu vejo é pouca convicção, a convicção do mercado nas estimativas ainda é baixa”, aponta o profissional. A única certeza no momento em relação à 2017, diz Sampaio, é que o BC irá ampliar a magnitude de seu ciclo de corte na taxa de juros. “Esse contexto vai ajudar muito na questão das alocações para o mercado de ações do institucional. Por mais que ainda não esteja muito claro quando a atividade vai começar a se recuperar, sabemos que os juros vão cair, isso é um consenso”, avalia Frederico Sampaio.
Soma-se ao ambiente de redução nos prêmios na renda fixa, mediante a queda da Selic, a alocação dos institucionais na renda variável estar próxima do menor patamar da série histórica, na casa dos 4,5%. “Historicamente esse número gira ao redor de 9%”, diz o gestor de ações da Franklin Templeton. “Acredito que a fatia de ações no bolo vai aumentar em 2017, já é algo que faz parte da política de investimento dos participantes”.
Apesar da constatação, o especialista nota também que essa retomada será gradual. Pelas previsões da Franklin Templeton, caso a PEC do teto dos gastos e a reforma da previdência sejam aprovadas nos próximos meses, e as estimativas do mercado para a retomada econômica passem a prever um desempenho mais positivo, prevê Sampaio. A combinação de fatores, como a queda dos juros, o otimismo com o crescimento, com o campo fiscal controlado, e tudo isso embaixo de um teto de reformas que são muito esperadas pela comunidade de investimentos, como a reforma da previdência, gerariam o ambiente ideal para a renda variável, pondera o gestor. “A única nuvem que vejo hoje é justamente quando acontece essa recuperação, com o risco disso se prolongar por muito mais tempo”.
Pelas contas do gestor de ações, o crescimento do lucro das empresas listadas projetado para o ano que vem estará em torno de 20%, isso com o cenário base que a asset trabalha atualmente, com a atividade ainda muito fraca. Ou seja, para manter a mesma relação preço/lucro que temos hoje, sem falar de nada a respeito da expansão de múltiplos, a bolsa teria de subir 20%. “Se de fato tivermos uma recuperação acima das expectativas, com um crescimento de 1% do PIB em 2017, esse número de 20% será maior ainda”. Se tivermos uma atividade se recuperando mais forte, com a aprovação das reformas, teríamos justificativa para ver a expansão dos múltiplos das companhias, e então poderíamos falar da bolsa subindo 30%, 40% de novo, prevê o especialista da gestora.

Nova valorização – Para Walter Maciel, CEO da AZ Quest, a valorização da bolsa em 2016, acima dos 30%, não deve ser suficiente para impedir que a renda variável entregue bons retornos aos investidores durante 2017. No entanto, na visão do executivo, os ganhos oriundos do mercado de ações nos próximos meses devem se basear em nomes diferentes em relação àqueles que conduziram os ganhos ao longo de 2016.
“Vamos olhar para empresas que vão se beneficiar de uma queda mais forte dos juros, e não tanto para empresas que se beneficiam da retomada da economia, que só deve acontecer no fim do primeiro semestre”, aponta Maciel, que cita companhias com um fluxo de caixa muito alavancado como potenciais beneficiárias do ciclo de queda dos juros. As elétricas são um bom exemplo, cita o CEO da AZ Quest. A subida da bolsa em 2016, recorda Maciel, foi caucada em empresas de baixa qualidade que se valorizaram como consequência de um ambiente de retomada, com as mudanças na equipe econômica e na confiança dos investidores.
Assim como o profissional da Franklin Templeton, Maciel também cita o menor patamar histórico da alocação dos investidores em bolsa para estar confiante com uma boa performance do segmento em 2017. contudo, assim como os demais profissionais do mercado, também condiciona essa alta à aprovação das reformas propostas pelo governo. “Hoje tem pouco comprador para bolsa, mas quando eles vierem, vai faltar opção, e quem vai andar bem são empresas de alta qualidade, que estão muito baratas”, afirma o especialista, que cita como exemplos alguns nomes como Itaú, Gerdau e Pão de Açúcar para ilustrar seu raciocínio.

Crédito privado e multimercados – Para Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da Sulamérica, os dois segmentos que mais devem capturar o fluxo dos investimentos em 2017 serão os de crédito privado e de multimercados. “Acreditamos que o mercado de crédito deve retomar em 2017. Já estamos vendo um crescimento no volume de emissões, e na quantidade, e isso deve continuar nos próximos meses pela forte demanda dos investidores, principalmente dos institucionais”, prevê o especialista, que lembra também que as empresas devem ter um apetite maior por emissões em um ambiente com perspectivas mais positivas para a economia no médio e longo prazo. Uma busca maior por ativos de crédito, avalia Mello, também terá como motivador a queda da taxa de juros. “Os investidores devem buscar ativos para compensar a redução da Selic”.
Em relação aos multimercados, o vice-presidente da Sulamérica destaca a vantagem do veículo por sua liberdade de fazer um balanceamento entre a renda fixa e ações, e aumentar ou diminuir o peso nas classes de ativos de acordo com o cenário que se desenha. “São mandatos mais flexíveis que podem operar diversos mercados, e tendem a superar o CDI”, pondera o executivo. A indústria de multimercados, ressalta Mello, tem um histórico bastante competitivo, e demonstrou capacidade de navegar bem em diversas situações de mercado, desde altamente estressado até mais comportado, o que deve credenciá-la para capturar um fluxo positivo de recursos em 2017. “A indústria de multimercados teve fluxo negativo nos últimos três anos porque com a Selic mais alta, o investidor não precisava correr risco, já que ficando em um instrumento bem conservador era o suficiente para entregar um retorno de 14%. Com a queda da Selic, essa indústria, que vem apresentando uma performance boa com capacidade de geração de alpha, deve capturar esse fluxo”.
O investimento no exterior, segundo o especialista, é outra categoria que também deve atrair a demanda dos institucionais nos próximos meses. “Essa classe de ativo o institucional pode alocar até 10% e hoje aloca muito pouco. Acredito que os investidores vão explorar mais essa classe de ativo. Eles já vem demonstrando um interesse maior, e essa tendência deve se concretizar em 2017”. O cenário base com que a Sul América trabalha, que sustenta o ambiente previsto para 2017, é de continuidade do esforço de ortodoxia monetária do governo para conter a inflação, e de ortodoxia fiscal.