Edição 242
Os recursos investidos pelas fundações e regimes próprios de previdência em títulos públicos procura novos destinos. A migração das aplicações em títulos federais, forçada pela queda da Selic, deve impulsionar o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, principalmente o de ações e de dívida corporativa. “Se olharmos para as necessidades de diversificação que os investidores terão daqui pra frente, obviamente é preciso fomentar o mercado de títulos privados. Olhando os mercados de dívida e de ações, é preciso ter um mercado maior por causa do volume de recursos que precisa encontrar um novo destino”, diz o presidente da BB DTVM, Carlos Massaru Takahashi.
O executivo da maior asset do mercado brasileiro, com R$ 549 bilhões de recursos sob gestão segundo dados do ranking Top Asset referentes ao primeiro semestre de 2012, é um dos palestrantes da sessão plenária “O desenvolvimento da industria do mercado de capitais no Brasil e os fundos de pensão”, que será uma das atrações do 33º Congresso Brasileiro de Fundos de Pensão da Abrapp. Takahashi vai defender no painel que existe este espaço para o crescimento, mas que para isso são necessárias algumas adequações e desenvolvimento de novos instrumentos.
O presidente da BB DTVM pede atenção especial com o mercado de renda fixa, que pode crescer apesar do momento ruim dos títulos do governo, afetados pela queda da Selic. “O mercado privado de dívida corporativa ainda é bastante limitado e não existe um mercado secundário ativo. É necessário ter medidas para incentivar o mercado de crédito privado, especialmente de longo prazo. O importante é ter mercados cada vez mais ativos e dinâmicos para atender às necessidades de diversificação dos investidores”, diz. Ele ressalta a importância do desenvolvimento de um mercado secundário que seja capaz de dar maior liquidez aos papéis privados.
A situação é nova, mas isso não quer dizer que ela seja passageira. Na opinião de Takahashi, o patamar de juros e inflação fazem parte de uma nova realidade para o Brasil. Segundo ele, o país tem aproveitado bem a oportunidade externa para fazer uma adequação estrutural dos custos financeiros internos. O desafio agora fica com os gestores dos recursos dos fundos de pensão e RPPS, que precisarão encontrar novas alternativas para bater as metas atuariais. “A adequação não passa somente pela busca de novas alternativas de investimento, por mudança na meta atuarial. Estamos falando de uma nova cultura dentro de uma nova realidade. Então, todos nós vamos ter que aprender a conviver com esta nova cultura”, diz Takahashi.
Diversificação – Outro palestrante do painel, o diretor do Conselho de Administração do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme, pensa que o mercado interno é a chave para o país crescer nos próximos anos, diante do cenário externo desfavorável. Ele acha que Europa, Estados Unidos e Japão apresentarão taxas de crescimento menor que no período anterior à crise de 2008. Sua intenção durante o Congresso é analisar o cenário externo e os impactos que as mudanças trarão ao mercado de capitais no Brasil.
O executivo prevê a existência de um espaço para a manutenção dos juros nos patamares atuais. Aos gestores, segundo Paulo Leme, caberá o papel de arriscar mais se quiser alcançar resultados satisfatórios. “Na parte de gestão de ativo, os fundos de pensão terão que tomar mais risco, não apenas risco de bolsa, mas também risco de crédito e de duration. Terão que procurar novos produtos no Brasil: bolsa, dívida corporativa, fundos de infraestrutura e também ativos no exterior”, diz.
O grande desafio de gestores de fundações de previdência complementar e regimes próprios é manter a rentabilidade acima de suas metas em um cenário novo. O diretor do Goldman Sachs acha que as fundações serão forçadas a buscar diversificação. Em sua exposição, ele apontará os fundos de infraestrutura, bônus e debêntures como alternativas. Apesar das dificuldades das economias mais desenvolvidas, os investimentos no exterior devem aparecer também como opção de diversificação.