Edição 258
Uma estratégia que fica no meio do caminho entre uma gestão passiva e uma ativa, com a vantagem de ser mais convidativa em termos de custos na comparação com um hedge fund tradicional do mercado. Esse é o conceito do ‘smart beta’, que aos poucos começa a ser difundido no país, mas que já tem forte aderência de investidores globais. Caso o ‘smart beta’ fosse amplamente utilizado pelos agentes de mercado no Brasil, a fuga do Ibovespa que ocorreu no ano passado, por forte influência das ações da OGX, poderia ser evitada.
Em uma gestão do tipo smart beta, as posições em OGX, por exemplo, poderiam ser reduzidas em uma carteira com benchmark Ibovespa. “Na maioria dos índices, se a ação se valoriza em determinado período, a proporção dessa ação aumenta. Uma abordagem extremamente simples do ‘smart beta’ seria definir os pesos dos papéis com base em indicadores fundamentalistas”, diz Luiz Mário de Farias, chefe de investimentos da Towers Watson no Brasil. Ele explica que é uma alternativa para fugir dos índices tradicionais com um custo reduzido de gestão.
Em 2013, os investidores institucionais que são clientes da Towers Watson lá fora alocaram cerca de US$ 11 bilhões, em 182 portfólios, em estratégias de ‘smart beta’. Os números correspondem a mais que o dobro do registrado em 2012 – US$ 5 bilhões, em 65 portfólios. No total, os clientes da consultoria já somam aproximadamente US$ 32 bilhões em estratégias de ‘smart beta’, em mais de 500 carteiras globais diferentes.
Gestores que fazem uso de estratégias ativas, ressalta Farias, geralmente já fazem uso do conceito do ‘smart beta’, mas, até por se tratar de um tema relativamente novo, nem sempre utilizam esse nome para definir sua atuação, e tampouco são totalmente transparentes em relação a sua forma de olhar o mercado. “Investidores globais mais sofisticados já estão alocando há algum tempo nesse tipo de estratégia, por perceberem que não faz sentido pagar uma alta taxa de administração para um hedge fund que na realidade simplesmente utiliza o ‘smart beta’. Eles conseguem fazer isso muito mais barato fora do hedge fund”, diz o executivo da Towers Watson.
Não tão novo – Raphael Santoro, consultor sênior de investimentos da Mercer, não vê uma grande novidade no ‘smart beta’, mas admite que esse termo pode ajudar a diferenciar melhor o que é uma gestão genuinamente ativa, de uma outra que apenas faz pequenas alterações dentro de um beta já definido. “As próprias entidades muitas vezes pressionam o preço do produto pra baixo, e acabam recebendo menos em termos de uma gestão ativa”, afirma Santoro. “Pra mim não é uma coisa tão nova assim. O conceito já tem sido aplicado, mesmo que não com esse nome”, acrescenta o especialista.
Ainda que não se trate de um produto nunca antes visto, Santoro ressalta que, se a estratégia ativa tem como mote principal o ‘smart beta’, o seu custo também deveria ser mais limitado. Entretanto, essa proporcionalidade, pondera o especialista, nem sempre acontece entre as assets. “Hoje muita gestoras fazem isso, tem uma gestão ativa que é bem próxima do que seria esse ‘smart beta’. Vejo um pouco disso sim”.
O consultor da Mercer destaca ainda as limitações de se aplicar tal tipo de estratégia, que, em sua visão, fica inviável de ser implementada na classe de ativo dos multimercados por exemplo. “O ‘smart beta’ é aplicado em mercados que conseguem ter um benchmark claro. Na renda fixa e na variável acho que pode dar certo, mas nos multimercados vai ser difícil de se aplicar, por ser um segmento que acaba não tendo um benchmark bem definido”, diz o consultor.