Edição 272
Em um mercado com poucos players, altamente concentrado, uma nova empresa, a Bridge Trust, entra na briga na disputa por um espaço na administração de recursos para terceiros. A empresa é nova, mas seus principais executivos, Zeca Oliveira e Alberto Elias, são velhos conhecidos do mercado. Eles construíram a maior operação de administração fiduciária para assets independentes do país, quando Zeca comandou a equipe do BNY Mellon no Brasil entre 1998 e 2013. Cerca de seis meses depois de deixar o BNY Mellon, eles fundaram a nova empresa em maio do ano passado. E em pouco mais de um ano já montaram uma carteira com R$ 2,4 bilhões.
“Tem um espaço importante pra gente ocupar, principalmente entre os pequenos e médios gestores independentes. Há uma grande vacância no mercado neste segmento e é aí que pretendemos crescer”, disse Oliveira (ver entrevista exclusiva). Ele se refere a um mercado de administração que está concentrado em poucas instituições como Bradesco e Itaú, mas que não demonstram grande interesse em prestar serviços para as assets independentes. Já o próprio BNY Mellon, que vinha ocupando esse espaço, está cada vez mais seletivo com as carteiras de clientes.
Para avançar mais rápido nesse projeto, a Bridge anunciou a aquisição de 67% do controle da Gradual, que ainda depende de aprovação do Banco Central, e agora prepara a associação com uma instituição estrangeira. O nome da nova parceira global ainda não é revelado. Mas em uma assembleia, realizada em abril passado, de um fundo que a Bridge assumiu como administrador, que era de responsabilidade da gestora Ático, os executivos da empresa já falavam da possível associação com uma instituição estrangeira. “A ideia é prover, através de serviços próprios e de terceiros, fácil acesso ao investimento no exterior”, explica Zeca Oliveira, referindo-se à busca de uma instituição global para fortalecer a atuação da Bridge no mercado doméstico.
Enquanto a parceria estrangeira não chega, a associação com a Gradual agrega R$ 3,85 bilhões de recursos sob administração à Bridge, elevando o total para R$ 6,25 bilhões, informa o diretor da empresa, Alberto Elias. Os executivos da Bridge consideram a aquisição da Gradual como um “atalho” para que sua empresa possa crescer mais rapidamente. Isso será possível pois a Gradual tem registro no Banco Central como instituição financeira, o que vai facilitar a adaptação da nova empresa às exigências das novas regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para os administradores fiduciários.
Apesar de ainda não aprovada pelo BC, a associação com a Gradual já está funcionando na prática. Prova disso, é que a Bridge já indicou novos nomes para a empresa. Bruno Mendonça foi indicado para a Gradual como novo responsável do segmento de varejo; Ana Karina de la Pena assumiu o departamento financeiro; e Natália Couri foi para o departamento jurídico.
Businnes plan – O plano de negócios que prevê o crescimento da Bridge Trust envolve três etapas. Em uma primeira fase, que começou há pouco mais de um ano com a fundação da empresa, os executivos estavam buscando posicionamento com a oferta de serviços de administração para fundos com dificuldades de funcionamento ou que apresentavam problemas de desempenho. “No primeiro momento buscamos produtos e fundos em dificuldades ou que já deram algum tipo de problema, mas porque no começo não podemos escolher muito. Mas estamos buscando também outros mercados, estamos focando principalmente em produtos estruturados”, diz Oliveira.
Alberto Elias esclarece que sua empresa não pretende atuar como uma gestora focada em ativos “distressed”. São gestoras que atuam na compra ativos que sofreram perdas, com forte depreciação, por conta do alto risco. Já o papel de administrador, que é o foco da Bridge Trust, entra mais na linha de execução de garantias, de recuperação do fundo. “Como somos uma casa menor, entramos no papel de administrador, para não perder nenhum prazo, por exemplo, com a procuração dos advogados. Damos todo o apoio que ele precisa, ajudamos o advogado com todos os dados que ele precisa, com análise das garantias”, explica Elias.
Um exemplo de fundo que foi assumido pela Bridge Trust no ano passado foi FP1 (ver matéria), conhecido pela alta concentração em ativos da Brasil FoodService, empresa que administra a rede de restaurantes Porcão. O fundo tem como cotistas alguns fundos de pensão, como o Serpros, e regimes próprios de previdência, como o Igeprev do Tocantins. A Bridge assumiu a administração deste fundo no ano passado, mas por um breve período. Houve a troca de administrador em maio passado, e quem assumiu a administração do fundo foi a Cabedal Investimentos. A nova gestora é a Urca.
Mas há outros fundos que foram conquistados pela Bridge, como por exemplo, o Ático Renda Fixa Institucional IMA-B 5, que tem R$ 427 milhões de patrimônio. Em abril passado, foi realizada uma assembleia do fundo que decidiu pela troca do administrador fiduciário e do gestor, com a saída do BNY Mellon e da Ático.
Em uma votação ocorrida na assembleia ficou decidido que as funções de administrador e gestor seriam assumidas pela Bridge. Apenas dois cotistas, os RPPS de Porto Ferreira (SP) e de Palhoça (SC) votaram contra as mudanças. Segundo Priscila Cukierman, da área comercial da Ático, a casa defendeu a mudança do fundo para a Bridge Trust.
Outro fundo que passou para a Bridge Trust e que conta com aplicações de fundações é o ETB FIP (fundo de investimentos em participações), que tem patrimônio de R$ 1,04 bilhão. Um dos principais cotistas é o Postalis, fundo de pensão dos Correios, que já fez aportes de R$ 254 milhões (sem contar a rentabilidade) entre outubro de 2010 e outubro de 2011. O fundo tinha como administrador a JS, que renunciou a sua função no início de 2015. Na assembleia realizada em janeiro, os cotistas aprovaram a contratação da Bridge Trust. O representante do Postalis votou contra a contratação da nova administradora. Questionada sobre a posição contrária à contratação da empresa, o fundo de pensão se limitou a responder por e-mail que foi por “razões estratégicas”.
Um segunda fase de crescimento projetada pelo executivo é a atuação junto às assets independentes. Neste sentido, a associação com a Gradual Investimentos, comandada pela executiva Fernanda Lima (ex-Merrill Lynch e ex-JP Morgan), permite um salto de escala. As duas empresas juntas acumulam R$ 6,25 bilhões em recursos sob administração – dos quais R$ 3,85 bilhões são provenientes da Gradual. Além disso, a Gradual tem o registro de instituição financeira junto ao Banco Central e pode oferecer toda uma plataforma tecnológica para potencializar a atuação da nova empresa.
Nesta segunda etapa, os executivos pretendem utilizar sua principal expertise, acumulada na época do BNY Mellon, que é no desenvolver produtos e serviços para as gestoras que não estão ligadas aos grandes bancos. A própria mudança na atuação do BNY Mellon que, segundo fontes do mercado, estaria mais exigente em termos de custos e critérios para a prestação de serviços para as assets autônomas, criaria esta lacuna para a entrada de novos players.
Fundos de pensão – Já em uma terceira fase, os executivos da Bridge projetam crescimento no mercado de fundos de pensão e regimes próprios de previdência. “Temos procurado os investidores institucionais ou grupos de institucionais que têm aplicações em fundos que já tiveram algum tipo de dificuldade com crédito. Eles estão entendendo que uma casa menor, como a nossa, é capaz de dar um acompanhamento mais diferenciado, com um apoio necessário na administração para que tenha sucesso na recuperação dos ativos”, diz Alberto Elias, diretor da Bridge Trust.
Apesar de prever uma expansão junto aos fundos de pensão em uma fase mais adiantada, a Bridge já conseguiu ganhar pelo menos uma carteira de fundo de pensão, conforme apurou a Investidor Institucional.
Trata-se de um fundo exclusivo do Serpros, o Botafogo FIM CP (multimercado crédito privado), que totalizava R$ 407 milhões em ativos em dezembro de 2014, segundo informações do relatório anual de informação do fundo de pensão.
O Serpros contava com R$ 4,61 bilhões em recursos no final do ano passado. O fundo de pensão está sob regime de intervenção da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) desde maio deste ano. O órgão não informou o motivo da intervenção, mas fontes do mercado afirmam que a Previc tomou uma atitude preventiva para evitar possíveis problemas na gestão dos investimentos do Serpros.
Nosso foco é a administração de recursos
Investidor Institucional – Qual é o foco principal da Bridge Trust?
Zeca Oliveira – O foco continua sendo a administração, mesmo após a associação com a Gradual. Vamos utilizar a plataforma da Gradual, vamos ganhar maior sinergia com o foco principal da empresa, que é a corretagem. Vamos manter uma pequena operação de gestão, mas o foco é mesmo a administração voltada para pequenas e médias assets independentes.
II – O que representa a aquisição do controle da Gradual?
ZO – Na verdade a parceria com Gradual significa um atalho. Conseguimos alcançar um crescimento muito antes do que prevê nosso business plan. Isso vai possibilitar fazer no curto prazo uma série de coisas que não conseguiríamos, porque não somos uma instituição financeira. E a Gradual tem o registro como instituição financeira. Vai facilitar a nossa adaptação à nova instrução 558 da CVM. Então, agora teremos acesso a serviços, controladoria e serviços de distribuição.
II – Como você analisa o mercado atual de administração fiduciária no Brasil? Tem espaço para mais um player de peso?
ZO – Tem um espaço grande pra gente crescer, principalmente entre os pequenos e médios gestores. Há uma vacância grande no mercado neste segmento.
II – Vocês pretendem atuar também no segmento de custódia de ativos para terceiros?
ZO – Não, não temos esse objetivo. Na custódia de ativos, vamos atuar com uma instituição parceira. Atualmente, temos uma parceria com o Bradesco, com quem vamos continuar atuando como parceiros.
II – Quais são os planos para trabalhar junto aos clientes institucionais, fundos de pensão e regimes próprios?
ZO – O institucional representa um público importante para nós, mas na verdade, em um primeiro momento da companhia, estamos focando em fundos estruturados. Estamos conseguindo uma atuação importante neste segmento. Em um segundo momento, vamos focar as assets independentes. Mais adiante, vamos oferecer produtos e prestação de serviços para fundações, que é uma expertise que tínhamos lá na casa velha, como o Alberto gosta de falar (em referência ao BNY Mellon).
II – E como vocês pretendem trabalhar junto aos fundos de pensão?
ZO – Mais para frente está em nossos planos oferecer um serviço mais customizado para as fundações, que poderão terceirizar o patrimônio conosco. Mas isso seria uma terceira fase de nosso crescimento, ainda vai demorar um pouco, depois que a gente consiga consolidar essa fase inicial.
II – Explique melhor o trabalho que vocês estão realizando na recuperação de fundos estruturados?
ZO – Neste primeiro momento estamos trabalhando com fundos que estão em dificuldades ou já deram algum tipo de problema. Não necessariamente vamos realizar o trabalho de gestão. Oferecemos soluções e opções para melhorar o desempenho ou recuperar esses produtos. Ou seja, não necessariamente atuamos na gestão dos produtos, mas sim na administração dos fundos. Focamos muito mais administração dos problemas, na parte burocrática, como por exemplo, na relação com escritórios de advocacia.
II – Esses fundos estruturados que vocês estão assumindo são provenientes do BNY Mellon?
ZO – Não é uma estratégia nossa (ganhar fundos do BNY Mellon). É uma mera coincidência que isso esteja acontecendo, que venham da casa velha, mas não é uma estratégia nossa. É normal, como eles têm uma presença importante no mercado é natural que alguns fundos venham dali.
II – Mas os investidores e clientes lembram de vocês de quando atuavam no BNY Mellon?
ZO – É natural que as pessoas que não estejam satisfeitas, que elas nos procurem, lembrem da gente e dos nossos serviços, pelo fato de termos trabalhado lá. Mas não faz parte de uma estratégia, de considerar a carteira deles, como target de prospecção.
II – Então não existe nenhum acordo com o BNY Mellon para a passagem de alguns fundos problemáticos para vocês?
ZO – Não, não tem nenhum acordo nesse sentido.
II – Qual é o market share que a Bridge pretende atingir?
ZO – Não temos uma meta numérica. Assim como fizemos desde o início, nossa meta é nos mantermos com crescimento consistente, garantindo qualidade no atendimento dos nossos clientes.