Russel escolhe a JBI | Estratégia da gestora carioca é buscar aco...

Jose Luis Osorio

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Edição 245

Depois de um longo processo de seleção e diligência, a gestora independente Jardim Botânico foi escolhida para fazer parte do portfólio de um fundo da gigante global Russell Investments. Com cerca de US$ 163 bilhões de ativos sob gestão, a asset vinha procurando um parceiro no Brasil para realizar a gestão de parte da carteira de seu fundo de fundos de mercados emergentes – Emerging Market Extended Opportunity Fund – lançado em meados do ano passado. O fundo conta atualmente com patrimônio de US$ 400 milhões e tem previsão de crescimento para até US$ 1 bilhão, dos quais entre 5% a 6% é direcionado para o mercado brasileiro. “Foi o maior processo de diligência que já enfrentamos até agora. E o mais importante também”, diz José Luiz Osório, sócio-fundador da Jardim Botânico.

Ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entre 2000 e 2002, Osório montou a JBI em 2003 logo que deixou o comando do órgão estatal. Focado em gestão de renda variável e fundos private equity, a Jardim Botânico vem buscando acordos com assets mundiais nos últimos anos para reforçar a captação junto aos investidores estrangeiros. “Estávamos namorando a Russell há mais de três anos e já tínhamos feito algumas visitas ao escritório da asset em Londres”, conta o sócio-fundador da JBI. Foi no segundo semestre de 2011 que a gestora global se interessou pelo trabalho da asset brasileira. Em outubro daquele ano, marcou uma visita ao escritório do Rio de Janeiro para começar de fato o processo de avaliação.

Na época, a Russell estava em processo de seleção de assets em países emergentes para compor o portfólio de gestores de seu novo fundo. O processo durou mais de um ano e culminou com a escolha de casas que realizam gestão de valor (value) ou governança (growth) em mercados como China, Índia, Leste Europeu, Oriente Médio e África, além do Brasil. “Eles utilizaram um filtro rigoroso. De todas as assets analisadas, apenas 4% foram selecionadas”, diz Osório. Além dos mercados citados, a Russell escolheu também algumas gestoras de fundos voltados para diversos países emergentes (ver tabela). Ou seja, são fundos que não ficam limitados a um único mercado, mas que podem investir em ações de empresas de vários países ao mesmo tempo.

O processo de avaliação da Jardim Botânico durou cerca de um ano desde o primeiro contato da Russell até o início do trabalho de gestão, que começou em setembro de 2012. Atualmente a asset realiza a gestão de US$ 24 milhões (equivalente a cerca de R$ 47 milhões) provenientes do fundo de mercados emergentes. O volume vai aumentando a medida que o patrimônio do fundo for crescendo. O mandato é o mesmo que a asset brasileira realiza para seu único e principal fundo de ações, o JB Focus. “Seguimos uma estratégia de renda variável de longo prazo. É uma gestão com disciplina e paciência que geralmente aposta contra o mercado”, explica Eduardo Rezende, sócio e gestor de fundos da JBI.

Detalhistas – O processo de avaliação das gestoras que fariam parte do fundo de mercados emergentes desceu até detalhes que a equipe da Jardim Botânico não estava acostumada. Na visita ao Rio de Janeiro, em outubro de 2011, veio uma equipe da matriz da Russell, de Seattle, para conversar com os gestores da asset e verificar a situação das instalações e sistemas. “Eles chegaram a pedir um plano de contingência em caso de ocorrência de um apagão no Leblon. Tivemos que habilitar nosso escritório de São Paulo para trabalhar como operação remota”, conta Osório.

Os sócios da JBI contam que tiveram que repensar e reestruturar diversos procedimentos da empresa. Depois da visita, a equipe da Russell continuou monitorando as adequações necessárias na JBI, através de testes e reuniões por vídeo-conferência. “Eles são bastante detalhistas, queriam saber quais os procedimentos que tínhamos previstos em caso de desastres”, conta o sócio-fundador da JBI. Além dos planos de contingência, a Russell ainda verificou toda a parte de controles e compliance da asset brasileira. Para atender a todas as exigência, a JBI teve até que montar um comitê de compliance que, entre outras tarefas, realizou a unificação dos manuais de ética e de procedimentos em um único material.

Dentro desse trabalho, também foi exigido um reforço na segurança dos sistemas, com a instalação de senhas para o acesso às carteiras. Para isso, foi trocado o sistema de planilhas por outro que não fosse manual – comprado da empresa Invest Tools. “Foi impressionante a preocupação com a segurança e com os procedimentos de contingência”, diz Osório.

Outro aspecto avaliado pela equipe da Russell foi a qualificação e a rotatividade da equipe de gestores. “Um aspecto positivo é o baixo turn over de nossa equipe de gestores, que vem trabalhando há vários anos junta, com baixa rotatividade”, conta Osório. O executivo conta que a equipe da Russell foi tão detalhista, que chegou a se reunir com os prestadores de serviços da gestora, tais como o contador e a empresa de auditoria.

Disciplina – Além de todo o processo de diligência, um dos aspectos mais importantes na avaliação foi a filosofia da asset. Neste sentido, contou a favor a coincidência com a estratégia ativista da Jardim Botânico, já que a especialidade da asset é a gestão de renda variável de longo prazo. A filosofia é a de buscar ações que estão desvalorizadas e realizar um trabalho de governança junto à administração das empresas. “Procuramos oportunidade de papéis que o mercado está pessimista no curto prazo. Temos dado preferência a ações de empresas do setor financeiro, mas estamos abertos a análise de outros setores, com exceção de estatais”, explica Rezende.

Além dos investidores estrangeiros, a JBI busca captar recursos entre os institucionais. Atualmente, a asset realiza a gestão de recursos de renda variável para três fundações, que somam cerca de R$ 60 milhões em ativos. No trabalho junto aos fundos de pensão e seguradoras, a gestora mantém um acordo de exclusividade com a distribuidora Itajubá. Por enquanto, o maior volume de recursos de terceiros, é mesmo dos estrangeiros, que representam cerca de 80% dos ativos de seu fundo de ações.

Além do acordo com a Russell, a JBI mantém outras parcerias semelhantes com assets internacionais, como por exemplo, a francesa Sycomore. Uma outra asset global além das citadas, acabou de selecionar a JBI para receber recursos de outro fundo de fundos. Os sócios da asset não quiseram revelar o nome da gestora, pois o acordo ainda está em processo de finalização.

No Brasil, a Jardim Botânico foi contratada recentemente pelo Itaú para receber recursos de um FIC (fundo de investimento em cotas) voltado para os Regimes Próprios de Previdência (RPPS). O contrato foi fechado em novembro do ano passado e até agora o fundo da JBI recebeu cerca de R$ 2 milhões em aplicações do fundo do Itaú. “Tivemos que adaptar nosso regulamento à resolução dos regimes próprios de previdência. Analisamos que não atrapalharia em nada a filosofia de nosso fundo, ao mesmo tempo que abre espaço para novos investidores”, conta Rezende.