Edição 241
Com maior rentabilidade que a renda fixa nos últimos meses e volatilidade teoricamente menor na comparação com outras modalidades de renda variável, os dividendos caíram no gosto dos fundos de pensão e RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social), ainda um pouco receosos em assumir os riscos do Ibovespa.
Um dos RPPS que adotou esta estratégia foi o Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Município de Joinville (Ipreville). Mas a aposta em dividendos só veio depois de uma mudança de planos. Com a possibilidade de aplicar até 20% dos recursos em renda variável, os gestores do Ipreville definiram na política de investimentos para 2012 a alocação de 8% nessa classe de ativos, apostando em uma recuperação do Ibovespa. Mas, depois do desempenho insatisfatório da bolsa nos primeiros meses deste ano, a direção do regime próprio decidiu mudar de rota e passou a mirar fundos de ações voltados a dividendos.
A mudança foi concretizada em março deste ano. “Durante o ano a gente viu que o comportamento do Ibovespa não foi o esperado. A bolsa continuou ruim e os fundos de dividendo estavam indo melhor que os referenciados. Alteramos a política. Concentramos mais nos dividendos e menos no Ibovespa. E isso ajudou bastante na rentabilidade da renda variável”, conta a gerente financeira do Ipreville, Cleusa Amaral.
Segundo ela, os fundos de dividendos devem ganhar mais peso na carteira do Ipreville nos próximos meses. Atualmente, 9% do portfólio do instituto está alocado nessa modalidade, contra 5% em fundos referenciados ao Ibovespa. “A gente provavelmente vai continuar investindo mais em fundos de dividendos e de valor do que no Ibovespa e no IBX”, afirma.
A OABPrev-SP, fundo da Ordem dos Advogados do Brasil da seccional São Paulo, adotou uma política parecida. Com uma carteira de cerca de R$ 200 milhões, usou o limite de 15% para renda variável estipulado em sua política de investimentos para aplicar em fundos direcionados a empresas consolidadas e que pagam bons dividendos. “Existe uma pré-disposição de aumentar nossa participação em fundos de dividendos para buscar uma segurança maior, com rentabilidade satisfatória”, afirma o presidente da OABPrev-SP, Luis Ricardo Martins.
Martins diz que a migração dos fundos de pensão para esse tipo de investimento é parte da tendência geral, de assumir mais riscos nas carteiras para cumprir as metas atuariais. “Hoje o mercado exige mais movimentação, alguns apostam até em derivativos, mas a nossa estratégia é aportar em dividendos”.
Também a Fundação Chesf (Fachesf) se movimenta nessa direção. Como parte de um processo de reestruturação em fase final de implantação, a Fachesf terceiriza 70% da sua carteira de renda variável, avaliada em R$ 550 milhões, e criou dois fundos exclusivos de dividendos de R$ 50 milhões cada. Para o diretor Administrativo Financeiro, Luiz Ricardo Lima, o próximo passo será criar uma carteira de dividendos interna, absorvendo o know how transferido pelos gestores externos.
Consultorias – Nas empresas de consultoria, o movimento não passa despercebido. Segundo o economista da Somma Investimentos, Álvaro da Luz, o momento é propício para que os institucionais invistam em dividendos. “Em um cenário de juro baixo e estabilidade macroeconômica, os fundos de dividendos passam a ser uma alternativa bastante interessante para perseguir a meta atuarial”, diz. Segundo ele, a opção por dividendos aparece em um momento que os fundos de pensão e RPPS se vêem obrigados a encontrar alternativas à renda fixa, que deram um retorno satisfatório nos últimos anos mas com a queda da taxa de juros já não conseguem superar a meta atuarial. Com volatilidade baixa e rendimentos adequados às necessidades dos institucionais, empresas com bom histórico de pagamento de dividendos tem encontrado espaço na estratégia dessa classe de investidores. “Dificilmente veremos um fundo de dividendos rendendo 25% em um ano, mas também não vamos vê-lo rendendo 5%. Em geral, esses fundos rendem em torno da meta atuarial”, afirma Luz.
Para o economista-chefe da Plena Consultoria, José Eduardo Abreu Filho, essa classe de investimento entrou em evidência pela coincidência de dois fatores, sendo o primeiro o mau momento vivido pelo Ibovespa e o segundo a queda da taxa Selic. “O que acendeu o estopim foi a queda de taxa Selic. Os investidores correram para empresas de bom porte, estáveis e com boa geração de caixa, que eventualmente darão remuneração satisfatória.”
A previsão de Abreu Júnior é que, com os juros se estabilizando em um patamar mais próximo do padrão internacional, os institucionais vão apostar cada vez mais em alternativas diferenciadas de renda variável. “Quem quer um bom retorno em bolsa tem que se arriscar mais. E, fatalmente, as ações de dividendos vão perder espaço quando o mercado acionário entrar em recuperação. Na hora que a aversão a risco diminuir, as outras ações tendem a performar muito melhor”, diz o consultor da Plena.
Para o economista da Somma Investimentos, Álvaro da Luz, nem a melhora das bolsas e nem um eventual aumento dos juros seriam suficientes para tirar a atratividade dos dividendos. “As fundações não estão procurando a maior rentabilidade possível, mas uma rentabilidade que atenda sua meta atuarial”, diz.