Edição 234
Acompanhando a tendência de diversificação dos investimentos pelos institucionais, o Itaú se concentra agora em três estratégias para atrair recursos do segmento para sua área de gestão de recursos de terceiros. O segmento de private equity, as aplicações no exterior e os chamados ETFs (Exchange Traded Funds, ou fundos de índices) são hoje a menina dos olhos do banco, que prepara novos produtos para as entidades fechadas de previdência complementar.
Na área de private equity, a aposta será em um fundo semelhante ao Kinea I, de R$ 250 milhões, gerido pela empresa de mesmo nome focada em investimentos alternativos e controlada pelo Itaú. Mas, diferentemente do primeiro, que é voltado ao segmento private, o novo seria direcionado aos clientes institucionais. “Estamos sondando a receptividade de um produto como esse junto ao seu público alvo”, diz Roberto Nishikawa, diretor do Itaú Unibanco e responsável pelos clientes institucionais.
Para o executivo, esse é o momento em que os fundos de pensão devem começar a olhar para o private equity com mais atenção, uma vez que os juros estão de fato caminhando para patamares mais baixos. Ele lembra que, por falta de necessidade de buscar novas classes de ativos até então, a exposição das fundações ao segmento ainda é relativamente baixa.
De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), em setembro do ano passado o investimento em participações, dentro do segmento de estruturados, correspondia por apenas 2,4% do total da carteira das fundações. “Se os fundos de pensão aumentassem para 5% a exposição ao private equity, dedicariam mais ou menos R$ 30 bilhões ao segmento. Não tem como dizer que o problema é falta de dinheiro. E as fundações correm o risco de perder boas oportunidades para o investidor estrangeiro. Eles estão de olho no Brasil – e é claro que existe um limite no número de empresas e projetos bem preparados para receber investidores”, alerta Nishikawa. Para o executivo, com o passar do tempo pode ficar mais difícil garimpar bons negócios, porque as empresas mais atrativas já estão em negociação.
Exterior – E se por um lado os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, por outro é possível tirar proveito do crescimento do País por meio do investimento em ativos no exterior. Nishikawa explica a tese citando dados de um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre classe média. Segundo o trabalho, em 2009 a classe média mundial estava dividida da seguinte forma: 18% (ou 338 milhões de pessoas) na América do Norte; 36% (664 milhões) na Europa; 10% (181 milhões) nas Américas Central e do Sul; 28% (525 milhões) na região Ásia-Pacífico; 2% (32 milhões) na África subsaariana; e 6% (105 milhões) no Oriente Médio e norte da África. Em 2020, esse quadro deve mudar para: 10% (ou 333 milhões) na América do Norte; 22% (ou 703 milhões) na Europa; 8% (251 milhões) nas Américas Central e do Sul; 54% (1,74 bilhão) na região Ásia-Pacífico; 2% (57 milhões) na África subsaariana; e 5% (165 milhões) no Oriente Médio e norte da África.
“Segundo o estudo, o número de pessoas na classe média passará de 1,8 bilhão em 2009 para 3,2 bilhões em 2020, sendo que boa parte desse crescimento vem da China. Na América Central e do Sul, o avanço será de 181 milhões para 251 milhões de pessoas”, resume o executivo. Ele acrescenta que, com o aumento da renda da população, muitas marcas se tornam sonho (e realidade) de consumo das pessoas. “Muitas empresas multinacionais já têm boa parte de suas receitas oriunda de operações em mercados emergentes, por mais que não sejam sediadas lá”, recorda o executivo.
Fundamentado em todos esses fatores, o Itaú está colocando suas fichas em um fundo de fundos voltado a aplicações fora do País. O produto, batizado de Global Consumer, investe 100% do patrimônio em fundos de ações geridos por terceiros no exterior. A intenção é aplicar em cotas de seis ou sete fundos, mas por enquanto o investimento está sendo feito em cinco veículos – quatro voltados ao consumo básico e um dedicado a marcas que são “aspirações” de quem começa a ganhar mais dinheiro. “A ideia no futuro é ter até 70% do fundo alocado em marcas e cerca de 30% em consumo genérico”, detalha Nishikawa. Na primeira “categoria” estão artigos de luxo como bolsas, relógios e perfumes, além de hotéis e restaurantes, por exemplo, enquanto a segunda abrange produtos de higiene, alimentos e bebidas, entre outros.
Como reflexo da filosofia de investimento, o Global Consumer tem um benchmark composto em 50% pelo MSCI World Consumer Discretionary e 50% pelo MSCI World Consumer Staples Index, índices calculados e divulgados pela MSCI, sendo que o Consumer Staples se refere a bens de consumo “básicos” e o Consumer Discretionary, a bens de consumo “não básicos”.
Os gestores cujos fundos foram selecionados para receber investimentos do Global Consumer por enquanto são Nordea, Fidelity, Morgan Stanley , Pictet e Robeco. A ideia é que o fundo de fundos seja lançado até março, mas é preciso que seja feito investimento por pelo menos quatro fundações. Vale lembrar que, pela Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), “a entidade fechada de previdência complementar deve observar, considerada a soma dos recursos por ela administrados, o limite de até 25% do patrimônio líquido de um mesmo fundo de investimento constituído no Brasil que tenha em sua carteira ativos classificados no segmento de investimentos no exterior ”. Na prática, isso quer dizer que o investimento de uma fundação em um produto como o Global Consumer pode corresponder a no máximo 25% do patrimônio do veículo.
“Já temos alguns investimentos apalavrados, mas estamos aguardando o fechamento do negócio com outros clientes para lançar o fundo sem risco de desenquadramento”, esclarece Nishikawa. Flávio Pires, superintendente de clientes institucionais do Itaú Unibanco, afirma que o fundo deve começar com um patrimônio relativamente pequeno, da ordem de R$ 40 milhões ou R$ 50 milhões. “Colocaremos o fundo no ar com esse volume, mas deve crescer bem com o passar do tempo”, estima ele. Pires conta que foram abordadas mais de 60 fundações a respeito desse fundo e em fevereiro, quando aconteceu a conversa dos executivos com Investidor Institucional, entre sete e oito entidades estavam em processo final de decisão sobre a aplicação no Global Consumer.
Para Nishikawa, o investimento no exterior por entidades fechadas ainda não decolou porque a maioria não tinha muito conhecimento sobre o mercado internacional e não havia “uma boa história” na qual apostar. “Uma diferença importante é que nós não estamos lançando um fundo gerido por nós mesmos lá fora. Estamos selecionando o trabalho de outros gestores”, argumenta.
ETFs – A terceira grande frente de batalha do Itaú são os ETFs. A instituição gere seis fundos de índices negociados na BM&FBovespa: It Now IDIV, referenciado no Índice de Dividendos; It Now Imat, ligado ao Índice de Materiais Básicos; It Now ISE, relacionado ao Índice de Sustentabilidade Empresarial; It Now IGCT, espelhado no Índice de Governança Corporativa Trade; e It Now IFNC, atrelado ao Índice Financeiro – além da “família It Now”, também é de gestão do Itaú o ETF PIBB11, que acompanha o desempenho do IBrX-50.
A intenção da instituição é ocupar um lugar de ainda mais destaque nesse mercado. “Participamos de licitações para gerir ETFs aqui e lá fora”, afirma Nishikawa. Ele lembra que em janeiro o Itaú saiu vencedor em uma licitação feita pela Bolsa de Santiago para três índices. Essa é mais uma iniciativa que vai ao encontro da estratégia do Itaú de se tornar um “provedor global de investimentos na América Latina”. “A ideia que passamos para os investidores estrangeiros é a seguinte: se quer investir na América Latina, venha falar conosco”, diz Nishikawa, acrescentando que já foram traçados os principais mercados em que a instituição quer estar presente no exterior e quais produtos pretende oferecer aos clientes internacionais. O executivo, no entanto, prefere não dar muitos detalhes sobre o assunto.
A asset do Itaú contava, em dezembro do ano passado, com cerca de R$ 271 bilhões sob gestão, dos quais R$ 70 bilhões são recursos de investidores institucionais. Considerando os fundos off-shore, o volume total sob os cuidados da gestora chegava a R$ 300 bilhões.