Projeção favorável para indústria de gestão | Abertura dos juros ...

Diego Kashiwakura, da Moody’sEdição 259

 

Nem só de pessimismo vive o mercado financeiro em relação ao Brasil. Em meio à redução das projeções do PIB e ao rebaixamento da nota de crédito soberano, realizado em março pela S&P, uma outra agência global de rating, a Moody’s, trouxe uma notícia animadora para a indústria de asset management no Brasil. Segundo recentes relatórios da agência, o mercado doméstico de gestão de recursos deve manter crescimento em 2014 e 2015, sustentado principalmente pela abertura dos juros e pela evolução da previdência privada.

Apesar de enfrentar uma desaceleração do ritmo de crescimento no ano passado, a indústria de gestão de recursos deve se recuperar em 2014, segundo os analistas da Moody’s. “Como a maior parte dos recursos estão alocados em fundos de renda fixa, a subida das taxas de juros está atraindo os investidores de volta para os fundos de investimento”, explica Diego Kashiwakura, analista da Moody’s responsável pelos relatórios “Gestão de recursos no Brasil: perfil do setor” e “Perspectiva da indústria brasileira de gestão de recursos”.
Para o especialista, os anos de 2012 e 2013 foram bastante difíceis para a indústria que sofreu com o ciclo de redução das taxas de juros da Selic e com o fraco desempenho da Bolsa doméstica. “Muitos investidores migraram para a poupança ou para títulos de renda fixa com benefício tributário”, explica o analista da Moody’s, em referência a ativos como os LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola). Em 2013, a indústria de assets fechou o ano com R$ 2,63 trilhões de ativos sob gestão, segundo dados do ranking Top Asset, de Investidor Institucional. O total de recursos teve um aumento positivo de apenas 2,47% nos doze meses anteriores, e uma variação negativa de 0,96% em seis meses. “Houve desvalorização da Bolsa e queda do retorno dos fundos de índices”, diz o analista.
Outro vetor positivo para a indústria é o crescimento dos fundos de previdência aberta. “O crescimento da renda e do emprego tem alavancado os planos de previdência do tipo PGBL e VGBL”, diz o analista. Segundo dados do ranking Top Asset, os recursos alocados em fundos de previdência aberta somavam R$ 379,34 bilhões no encerramento de 2013. “Está aumentando a preocupação com aposentadoria no longo prazo. Além disso, a previdência aberta tem atraído poupadores por causa dos benefícios tributários”, diz.
O estudo não considerou o segmento da previdência fechada, mas segundo o analista da Moody’s, o crescimento do segmento também deve contribuir para a evolução da indústria de assets. “A previdência fechada também contribui com o crescimento da indústria devido à tendência de terceirização na gestão”.
Alívio sobre as taxas – Com o novo ciclo de abertura dos juros, os fundos com títulos pós-fixados começam a apresentar melhor desempenho. Além de atrair os investidores de volta para os fundos, o ciclo de abertura das taxas de juros, traz um alívio para os gestores de recursos na questão da cobrança das taxas de administração. “Com o movimento de queda nas taxas de juros, muitas assets dedicadas à gestão de renda fixa, estavam enfrentando a pressão para a redução das taxas de administração como forma de manter a competitividade do produto em relação a outras modalidades”, diz Kashiwakura.
O próprio crescimento orgânico dos fundos de renda fixa, principalmente daqueles com títulos pós-fixados, deve provocar aumento das receitas por parte dos gestores. O crescimento do volume de recursos de fundos de renda fixa deve provocar também um aumento da concentração do mercado nas mãos das maiores instituições financeiras. É que o investidor tende a procurar as assets ligadas aos grandes bancos na hora de aplicar recursos em fundos mais tradicionais. “Deve ocorrer uma maior concentração do market share no grupo das maiores assets”, prevê Kashiwakura. Segundo relatório da Moody’s, as 10 maiores já concentram 73% do mercado.
O analista, porém, não prevê uma redução do número de assets independentes. “O número de assets independentes, que se dedicam a estratégias mais especializadas, na verdade, está aumentando nos últimos anos. Acredito que a tendência não será revertida”, diz o especialista. Em 2009, eram 263 assets independentes e 53 gestores afiliados a grandes grupos. Em 2013, o número saltou para 426 gestores independentes e 58 afiliados.