Opções além das fronteiras | Fundações estreiam em fundos de inve...

Edição 254

Em um ano de volatilidade nas taxas de juros de títulos públicos e de performance negativa da bolsa doméstica, os fundos de pensão abriram os olhos para a possibilidade de diversificar suas carteiras para além do mercado doméstico. Na reta final de 2013, o apetite das fundações começa a ser testado, já que os principais produtos de investimento no exterior chegam às prateleiras de gestores de recursos. Os grandes fundos de pensão afirmam continuar com a estratégia de investir no mercado externo, mas os aportes tendem a ser graduais, diante do ineditismo do produto. Outras fundações optaram por esperar mais um pouco e acompanhar o investimento de perto.
“Muitas falam em um investimento de 1% do patrimônio, um volume baixo para trazer diversificação e retorno para a carteira. Mas isso faz parte de um processo de aprendizado sobre o aspecto operacional, legal e de gestão no exterior”, afirma Eduardo Mendes, diretor-presidente da Schroders. Segundo ele, o maior foco do investidor institucional no exterior tem sido em renda variável. “Muitas empresas lucrativas e líderes de mercado em seus segmentos não estão listadas no Brasil, daí a necessidade de investir em setores de fora”, diz.
Nemer Rahal, sócio do Pátria responsável pela área de relações com investidores, entende que o mercado norte-americano tem se revelado mais atraente para o investidor. Em associação com a gestora de produtos estruturados Blackstone, o Pátria estuda lançar um fundo de fundos de renda variável com exposição a ações internacionais, especialmente do mercado americano. “Não tenho produto pronto na prateleira, mas temos conversado com muitos investidores institucionais”, antecipa.
Na segunda quinzena de novembro, o apetite do investidor institucional será testado pela BB DTVM, que começa a captar recursos para os quatro feeders sob sua gestão e administração. Segundo o presidente Carlos Massaru Takahashi, a estrutura escolhida é segregada, com a custódia no Banco do Brasil e quatro gestores dos fundos no exterior – Black Rock, Franklin Templeton, J.P. Morgan e Schroders. “Ao construir os feeders, procuramos proporcionar a melhor governança possível a partir da segregação, para que o gestor local, que conhece a regulação, seja aderente às normas gerais e de distribuição. O gestor no exterior entra com a expertise no mercado internacional. Fizemos a due diligence para verificar o risco. Nosso foco está na segurança do investimento e no melhor retorno”, pontua.
Cada feeder terá 100% das cotas de um fundo de ações globais de cada asset. Os produtos têm ações de empresas americanas e europeias, e o índice MSCI World como benchmark. Os riscos são os de bolsa e de moeda, mas a BB DTVM decidiu não fazer nenhum tipo de hedge ou swap cambial. As taxas de administração serão duas: as definidas por cada um dos quatro fundos externos e mais 0,08% do feeder.
No começo de outubro a BB DTVM aplicou R$ 3 milhões em cada um deles, que têm regime de condomínio aberto. “Fizemos testes do ponto de vista regulatório e operacional para começar a captar. Conversamos com diversas fundações e há ao menos dez prontas para investir”, diz.
Quem já decidiu entrar nessa rodada de captação é a Previ. O fundo de pensão planeja investir em ao menos três dos quatro feeders da BB DTVM. “Os fundos de pensão podem entrar agora ou assim que aprovarem o investimento no exterior em suas políticas de investimento”, diz Antonio Benevides, gerente-executivo de mercado de capitais. A previsão da fundação é investir até 0,2% do patrimônio do plano 1, o equivalente a R$ 340 milhões. “A ideia é investir R$ 100 milhões neste ano e R$ 240 milhões em 2014”, afirma. Além disso, do plano Previ Futuro, o percentual definido é de 1% do patrimônio de R$ 4 bilhões – ou seja, R$ 40 milhões.
Os Estados Unidos podem ter uma reversão da atual fase positiva e a Europa talvez não ande bem. Mas os fundos têm gestão ativa e confiamos que os gestores identificarão os melhores papéis e empresas”, diz Benevides.
Mesmo sem uma tese de investimentos no exterior aprovada, a Funcef definiu um limite de aporte de 0,5% dos recursos garantidores do patrimônio total da fundação, de R$ 52 bilhões. Segundo o gerente de operações financeiras, Adriano Suzarte, a política de investimentos para os próximos cinco anos, que contemplará o investimento no exterior, será aprovada até o fim deste ano. “Estamos procurando players globais que estão no Brasil e grandes instituições com parceiros no exterior. Vamos buscar mandatos de ativos globais em renda variável”, afirma. Provavelmente a fundação analisará três fundos no exterior, cada um com um gestor, e assim como os seus pares, não deverá adotar hedge cambial. “Não usaremos, mas também não vamos vedar a possibilidade de fazer a proteção cambial para um momento de estresse, no qual o gestor precise sair”, observa. O gerente reforça que a diversificação é importante em um período em que a bolsa brasileira está negativa no ano. “A tese de investir no exterior é pertinente, porque o mercado é maior e há mais liquidez”, justifica.

Compasso de espera – Para algumas fundações, o senso de urgência de investir no exterior não é tão grande pelo cenário mais ameno proporcionado pela abertura de taxas, em junho. “Ainda há muita incerteza em relação ao cenário no exterior. As fundações estão aproveitando a abertura de taxas de títulos públicos para atender à necessidade de passivo atuarial. Enquanto tiver essa janela de oportunidade, com taxas ao redor de 5,8%, as fundações vão aproveitar porque conseguem atender uma demanda de rentabilidade por um risco menor do que o de investir fora”, afirma Tiago Martins, gerente financeiro na Mendesprev. A fundação está revisando a política de investimento para o próximo ano e não descarta investir no exterior. “Estamos olhando para a Europa, que parece estar com preços bons de ativos e se recuperando da crise”, completa.
Outro fundo que não tem previsão para investir no exterior no curto prazo é o Desban (Fundação BDMG de Seguridade Social). “O mercado estrangeiro performou demais neste ano e os ativos estão supervalorizados. Vamos voltar a olhar a melhor janela de entrada no ano que vem”, enfatiza Pedro Sternick, gestor de carteiras na Desban. Quando encontrar uma oportunidade, a fundação deve investir o percentual de 1% do patrimônio de R$ 731,72 milhões (segundo dados de setembro).
Mesmo que o senso de urgência para investir no exterior tenha diminuído, Eduardo Castro, superintendente-executivo de fundos de investimentos do Santander Asset Management, acredita que a diversificação para o mercado internacional entrou de vez no radar do investidor institucional. “Aquele susto que os fundos de pensão tomaram com as taxas baixas fez com que eles estudassem os ativos. Estamos preparados para quando o interesse surgir de forma efetiva”, ressalta. Em outubro, o banco lançou o fundo de ações Santander FI Global Equities Multimercado Investimento no Exterior, que tem na carteira cotas de 12 fundos, com ativos dos EUA, Europa, Ásia e emergentes. “Temos grupos de gestores do Santander em Londres e em Madri, especializados em fundos de fundos ativos. É um time que trabalha ao lado da equipe no Brasil para escolher os fundos mais adequados para a carteira, com o objetivo de bater o benchmark, que é o MSCI World”, revela Castro. O fundo também não utiliza hedge cambial.

 

“Todos os testes foram feitos”

Após um ano de estudos, os feeders da BB DTVM receberam todos os testes para atender as regulações legais e para ter o melhor regulamento possível. A afirmação é do presidente Carlos Massaru Takahashi, em resposta ao escritório Bocater, Camargo, Costa e Silva Advogados, que no mês de setembro recomendou mudança no regulamento desses produtos. Na ocasião, o responsável pela análise de regulamentos do escritório, Flávio Martins, recomendou o aperfeiçoamento e garantia de prestação de informações essenciais sobre os fundos de destino no exterior. Takahashi disse que, além de atender a regulação local e internacional, os feeders foram elaborados a dez mãos, junto com os profissionais das gestoras externas e as próprias fundações. “É um modelo muito bom em termos de governança, pois é segregado e proporciona transparência em relação às informações para o regulador e o investidor”, defende.