Edição 274
A Sulamérica Investimentos está entrando no mercado de fundos de ações no exterior com foco em fundos de pensão. Com o lançamento do fundo Sulamérica Franklin Templeton Investimento no Exterior em meados de agosto, a asset marca a estreia neste mercado que, apesar de ainda pequeno, tem perspectivas de forte crescimento nos próximos anos. Por enquanto, o principal player é a BB DTVM que tem ampliado parcerias com assets globais e já alcançou R$ 1,25 bilhão de ativos sob gestão (incluindo recursos de seed money e de fundações) nos fundos no exterior.
A estreia da Sulamerica acontece a partir de uma disputa por um dos gestores que anteriormente mantinha uma parceria com a própria BB DTVM. É que a Franklin Templeton era uma das quatro assets, ao lado de Blackrock, J.P. Morgan e Schroders, que lançaram no Brasil os primeiros fundos no exterior voltados para entidades fechadas no final de 2013. Como o fundo lançado em conjunto com a BB DTVM não decolou, a Franklin Templeton decidiu firmar nova parceria com a Sulamérica e desfazer a antiga (ver box). Para a Sulamérica, é uma maneira de entrar no mercado com uma parceria de peso.
A Franklin Templeton é uma das maiores assets globais com US$ 880,6 bilhões de ativos sob gestão, espalhados em cerca de 150 países. É uma das instituições com maior amplitude global com escritórios em todos os continentes. Um dos times de maior destaque da asset é a equipe de mercados emergentes, liderada por Mark Mobius. No caso do novo fundo, a equipe de gestão é liderada pela gestora Heather Arnold, da unidade Franklin Templeton Equity Group. O fundo é o Templeton Global Fund. O fundo foi lançado nos EUA em 1954 e a partir de 1991 passou a ser oferecido em outros países.
O feeder local começa com R$ 90 milhões de seed money (capital inicial) que foi dividido entre as duas casas – o montante de cada uma não foi revelado. O seed money visa facilitar as primeiras captações para o feeder, já que os fundos de pensão locais não podem ultrapassar o limite de 25% do patrimônio do fundo. “O aporte de seed money demonstra o forte comprometimento das duas assets desde o início do fundo”, diz Marcelo Mello, vice-presidente da Sulamérica, responsável pelas áreas de investimentos, vida e previdência do grupo.
O executivo acredita que o segmento de fundos no exterior abre uma nova frente de atuação da asset da Sulamérica junto aos fundos de pensão. “Já temos uma forte penetração no mercado de institucionais a partir da nossa grade de produtos domésticos. Agora estamos oferecendo uma nova estratégia de diversificação para fundos de pensão”, comenta Mello. Ele explica que uma das principais vantagens do novo fundo é a possibilidade do acesso ao mercado de moeda por parte do investidor, além da própria diversificação na renda variável.
A diversificação da exposição em ações é possível ao acessar os diferentes mercados e setores presentes nas principais bolsas externas. “O fundo adota uma política de investimentos que prevê a aquisição de cotas de um de nossas principais fundos de ações globais, o que permitirá o acesso a mercados em diferentes países e setores ainda pouco desenvolvidos no brasil. Alguns exemplos são os setores de tecnologia, biotecnologia e health care, entre outros”, diz Marcus Vinícius Gonçalves, diretor-presidente da Franklin Templeton no Brasil. O executivo explica que o time de gestores utiliza uma análise fundamentalista, tipo bottom up, para selecionar das ações as companhias. Atualmente o fundo está com maior exposição em ações europeias, em detrimento dos ativos de empresas americanas. Como tem uma estratégia ativa, a proposta é superar o MSCI Global, que é seu benchmark.
Gonçalves ressalta a parceria com a Sulamérica pelo fato de ter sido escolhido pela gestora em um processo de seleção de envolveu a participação de dezenas de outros players.
Seleção de gestores – Para lançar o fundo de ações global, a Sulamérica realizou um amplo processo de seleção de gestores antes de firmar a parceria. O processo começou com a análise de 40 gestores globais, com uma matriz que levou em consideração diversos pontos genéricos de análise, como por exemplo, os ativos sob gestão, a presença em diversos mercados entre outros. Em uma segunda fase, o processo focou em 25 assets globais, com um posterior refinamento dos critérios analisados anteriormente. “Em uma terceira etapa, chegamos a 15 gestores, nos quais procuramos conhecer a fundo as políticas e procedimentos de investimentos e acabamos selecionando seis assets”, explica Marcelo Mello, da Sulamérica. Na etapa final de análise, a equipe da Sulamérica realizou o processo de due dilligence, ou seja, com a visita e conversa in loco. Teoricamente os seis gestores ficaram aptos a realizar parcerias com a Sulamérica, mas a mais bem posicionada em relação ao histórico, a Franklin Templeton foi a escolhida para lançar o primeiro produto. “Na estratégia de ações globais é uma parceria exclusiva que fechamos com a Franklin Templeton. Isso não quer dizer que não possamos lançar mais adiante fundo com outras assets em outras estratégias”, diz o vice-presidente da Sulamérica.
O mesmo vale para a Franklin Templeton que aceitou a exclusividade na estratégia de renda variável global. A asset global, porém, pode lançar fundos em outras estratégias com parcerias com qualquer asset local, inclusive com a própria Sulamérica ou com a BB DTVM.
Private equity – Efetivamente, a Sulamérica já possui uma parceria com outra asset global, com a Pantheon Investments. Neste caso, é uma parceria para a estratégia de private equity global. “Já tínhamos uma parceria com a Pantheon, que está vigente, mas que ainda não resultou no lançamento do produto”, diz Mello. O executivo revela que já existe um fundo registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em fase pré-operacional.
Trata-se de um fundo de fundos de private equity no exterior, que ainda não foi aberto para captação. “Acho que o produto private equity no exterior ainda depende de um avanço no processo educacional do mercado de fundações”, explica o vice-presidente da Sulamérica. O fundo justamente não foi lançado porque ainda não contou com a demanda suficiente das fundações para seu início.
Franklin Templeton desfaz fundo com BB DTVM
A Franklin Templeton está desfazendo a parceria com a BB DTVM em fundo no exterior voltado para fundos de pensão. Criado em outubro de 2013, o fundo BB Multimercado Franklin Templeton Investimento no Exterior será liquidado. Atualmente, o fundo possui R$ 23,14 milhões em ativos sob gestão, que são provenientes 100% de capital próprio da BB DTVM e da Franklin Templeton. “Não houve nenhum problema com a BB DTVM. Continuamos com um ótimo relacionamento com o BB, que é um grande cliente nosso, temos uma entrada em várias divisões com eles, mas essa estratégia específica será desfeita”, diz Marcus Vinícius Gonçalves, presidente da Franklin Templeton no Brasil.
O executivo explica que não houve problema na distribuição do fundo, mas que a captação não ocorreu da forma que se esperava. “Algumas fundações que tinham o compromisso de aplicar naquele fundo acabaram, por motivos diversos, atrasando o processo pelo lado delas. Simplesmente a estratégia não decolou”, diz Gonçalves.
Do lado da BB DTVM, o fim da parceria também é visto como algo normal. “Já fizemos várias parcerias com a Franklin Templeton em fundos multimercados e outras modalidades. Temos uma parceria de longa data, por exemplo, no primeiro fundo 80-20 que lançamos para o investidor private, foi com a Franklin”, diz Takahashi. No futuro, o executivo não descarta o lançamento de outros fundos em parceria com a Franklin Templeton.
Do primeiro grupo de fundos lançados pela BB DTVM no final de 2013, o maior fundo é o da Blackrock, com patrimônio de R$ 380 milhões, seguido pelo fundo com a J.P. Morgan, que tem R$ 242 milhões. O fundo com a Schroders tem R$ 197 milhões. Esta última, lançou um segundo fundo em conjunto com a BB DTVM, desta vez com foco na Zona do Euro (ver matéria).
Mais recentemente, a BB DTVM lançou um segundo grupo de fundos, em parceria com a Nordea, UBS e Aberdeen. Os três fundos já acumulam juntos R$ 425 milhões entre ativos de investidores e seed money.