Nova janela de oportunidades | Após reduzirem sua exposição ao me...

Edição 292

 

Exposição do investimento no exterior por país

Após terem reduzido sua exposição ao mercado internacional nos últimos anos para aproveitar as oportunidades na renda fixa local e evitar a volatilidade do câmbio, os fundos de pensão brasileiros começam a considerar novamente a possibilidade de alocar parte de seus recursos em ativos globais. Diante da queda dos juros locais e com as bolsas americanas já bem precificadas, começam a entrar no radar das entidades outras classes de ativos no exterior, como a renda fixa global e os multimercados.
A Funcesp foi uma das primeiras entidades a iniciar a estratégia global, no final de 2013. O fundo de pensão chegou a ter quase 2% de seu PL total, de R$ 27 bilhões, alocado em fundos que investem no exterior, percentual que hoje se encontra na casa dos 0,6% correspondendo a aproximadamente R$ 660 milhões. “Reduzimos a carteira em mais da metade, mas não foi uma decisão influenciada pela taxa de câmbio. Nossa grande preocupação era com os preços das bolsas internacionais já no final de 2015”, afirma Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp. Além disso, ele cita os altos prêmios pagos pelas NTN-Bs entre o final de 2015 e o início de 2016 como outro fator que contribuiu para que o fundo de pensão retirasse parte de seus recursos no exterior.
Segundo Simino, a Funcesp não tem a intenção, no curto prazo, de aumentar sua exposição internacional. “Ainda existem muitas incertezas no exterior, por isso preferimos adotar uma postura mais cautelosa”. No longo prazo, contudo, o diretor acredita que a alocação no exterior, e em ações principalmente, vai ocupar um espaço bem maior do que o atual. “Em um horizonte de cinco anos ou mais a fundação deve ter pelo menos 4% ou 5% do patrimônio investido globalmente”.
Os R$ 660 milhões investidos pela Funcesp no exterior estão em fundos de ações de sete gestores – BlackRock, Schroders, JP Morgan, Claritas, Nordea, Rio Bravo Columbia Threadneedle e Neuberger Berman. “Não temos previsão de mudar essa alocação”. O fato de as bolsas americanas estarem próximas de suas máximas históricas obriga as fundações a terem de tomar mais cuidado na hora de decidir sobre a alocação no exterior, avalia Simino. “Eu particularmente não fico confortável com o atual patamar dos preços nos Estados Unidos, até por isso reduzimos nossas posições, em um processo que começou em fevereiro do ano passado”. A Funcesp tmbém começa a avaliar a possibilidade de investir em fundos globais de renda fixa, mas o processo de análise dos veículos ainda está em fase inicial.

Limite de 25% – Sobre o limite de 25% imposto pela Previc que cada entidade tem de respeitar no fundo local, o dirigente da Funcesp ressalta que, embora a fundação não tenha no momento a intenção de aumentar sua alocação no exterior, se ela quisesse fazê-lo não teria como. “Essa questão é um limitador importante. Nos fundos que estamos investidos temos participação bem relevante, e se quiséssemos fazer um movimento significativo de incremento, em vários deles iriamos romper os 25%”.
Guilherme Leão, diretor executivo da Abrapp responsável pela CTN de investimentos e presidente do fundo de pensão da Federação das Indústrias de Minas Gerais, a Casfam, afirma que a associação já fez propostas à Previc nos últimos anos para derrubar o limite de 25%. “A Previc tem conhecimento da nossa sugestão, que está dentro das discussões sobre a reforma da Resolução 3.792”. Leão avalia, contudo, que as discussões sobre o tema ainda estão em estágio inicial, e que, após ser debatido junto ao órgão regulador, o assunto terá de ser levado ao CNPC. Mas os resgates promovidos por uma série de fundações durante o ano passado diminuiu a pressão das entidades pela alteração na legislação, acredita o dirigente. “À medida que a taxa de juros caía e tenhamos um cenário em que a renda fixa não supere a meta, essa questão deve voltar com mais força”.
Marcus Moreira, diretor de investimentos da Previ, também avalia que o limite de 25% impede uma atuação mais expressiva das fundações no segmento de investimentos no exterior, principalmente das grandes, já que seria necessário um elevado número de fundações menores para completar o patrimônio de cada fundo.
A fundação do BB, que foi uma das organizadoras do grupo de 14 fundações que se reuniu em 2013 para definir a abordagem inicial sobre investimentos no exterior, realizou sua primeira alocação internacional em janeiro de 2014. “Desde então, realizamos investimentos em cinco fundos de ações internacionais, sendo quatro estratégias globais e uma européia, cujo o objetivo é superar o índice MSCI World – focado em ativos estabelecidos nos mercados desenvolvidos”, afirma Moreira, que prefere não abrir os nomes dos fundos que receberam alocação da entidade. O dirigente explica que o investimento no exterior é considerado pela Previ uma alternativa para a diversificação dos investimentos em renda variável, buscando ações de empresas globais que tenham baixa correlação com a bolsa brasileira, reduzindo riscos e ampliando seu retorno. Hoje a Previ possui aproximadamente R$ 120 milhões alocados nesta classe.
Entre os benefícios trazidos pela estratégia internacional nos últimos anos, o diretor da fundação destaca as trocas de informações e interações sobre o segmento com outros players com experiência de atuação neste nicho. “A Previ recebe visitas de grandes gestores de ativos internacionais, que apresentam seus modelos e processos de gestão, suas perspectivas micro e macro econômicas, além de suas percepções institucionais”. Além disso, acrescenta Moreira, o acompanhamento dos investimentos no exterior permite uma melhor compreensão das dinâmicas das moedas e das economias centrais e seus reflexos nas economias em desenvolvimento, que servem como fatores agregadores à gestão em todas as classes de ativos na Previ.
Com a queda das taxas de juros, o diretor do fundo de pensão do BB entende ser razoável esperar pelo lançamento de novos produtos vinculados a classe de investimento no exterior como opção de rentabilização de carteiras. “Produtos associados à renda fixa, private equity, derivativos, entre outros produtos financeiros comercializados no mercado internacional, são exemplos de oportunidades ainda incipientes”.

Resgates – O fundo de pensão da Petrobras, a Petros chegou a realizar em outubro de 2014 uma alocação internacional em um FIC que aplicava seus recursos por meio de gestores selecionados pela BB DTVM. Em abril de 2015, no entanto, a fundação da petroleira optou por resgatar esses recursos no exterior para aproveitar as oportunidades que se apresentavam nas NTN-Bs naquele momento.
No momento a Petros não possui investimentos no exterior, mas a última revisão da política de investimentos introduziu, especificamente para o Plano Petros-2, mais jovem e sem a necessidade imediata de liquidez, o limite de 2% de aplicações neste segmento. “Esse investimento poderá ser feito quando a análise de alocação indicar que essa diversificação é favorável”, aponta a entidade, em nota.
A Fundação Itaú Unibanco, que também fez parte do grupo das 14 fundações que debateram em 2013 os investimentos no exterior, chegou a ter algo próximo a R$ 300 milhões investidos no exterior, mas zerou a posição no ano passado. Em 2016, conforme melhoraram as perspectiva para a bolsa local e com o dólar sem espaço para seguir em sua trajetória de valorização dos anos anteriores, a Fundação Itaú Unibanco optou por zerar sua exposição internacional. “Conforme o câmbio foi caindo nós fomos reduzindo nossa exposição global. Começamos a desmontar a posição com o dólar a R$ 3,80, depois a R$ 3,60, até chegar aos R$ 3,20”, afirma Pedro Boainain, diretor de investimentos da Fundação Itaú. No momento o fundo de pensão não tem posição nos mercados globais, mas o diretor de investimentos destaca que está no radar de curto prazo fazer uma alocação no exterior como forma de diversificação e proteção caso o cenário doméstico positivo que o mercado espera para os próximos meses não se confirme. Mas como ele não está otimista com o desempenho das bolsas no exterior, dado o atual patamar de preços no qual se encontram, um eventual aporte nos mercados globais ocorreria sem o hedge do câmbio para tentar capturar ganhos advindos do comportamento das divisas.
Segundo Boainain, o limite de 25% impede que os fundos de pensão brasileiros diversifiquem suas estratégias globais. “Nem adianta as entidades irem atrás de estratégias muito diferentes pois tem que ter quatro investidores com tamanho para formar o fundo. Isso limita o espectro de fundo que temos para olhar”, diz Boainain. Para evitar eventuais desenquadramentos passivos, ele entende ser melhor ficar fora de fundos cuja estratégia seja até atraente, mas sem patrimônio suficiente para deixar a entidade confortável. Segundo o diretor, a maior parte da demanda das entidades ainda segue concentrada nos fundos mais tradicionais da indústria.
Boainain conta que os fundos de exposição global da fundação geraram bons retornos até o início de 2016, mas essencialmente pela valorização do dólar, ressalta o profissional. “Os fundos nos quais investimos não se diferenciaram contra o benchmark e na verdade nenhum dos fundos globais oferecidos aos institucionais conseguiu fazer isso de forma relevante”, diz. Ele preferiu não divulgar os gestores dos fundos que receberam aportes da entidade.

Iniciantes – A Previbayer iniciou seus investimentos no exterior em janeiro de 2017, após promover uma reestruturação em sua área de investimentos no segundo semestre do ano passado, que mudou seu sistema de perfis de investimento com as tradicionais opções conservador, moderado e arrojado para um modelo ciclo de vida, no qual a carteira de investimento assume mais risco quando o empregado ainda é jovem e reduz a exposição a ativos de maior volatilidade conforme o participante se aproxima da aposentadoria.
A alteração no modelo dos perfis permitiu uma maior flexibilidade na política de investimento da entidade, explica Rafael Uesato, analista sênior de investimento na Previbayer. “Como o investimento no exterior não tem correlação com os investimentos no Brasil, conseguimos reduzir o risco da carteira só pelo fato de diversificar a alocação globalmente”, comenta. A entidade iniciou seus investimentos no exterior pelos feeders da BlackRock e da Nordea lançados pela BB DTVM no Brasil, que são fundos de ações que sofrem o impacto da variação cambial, e no fundo de renda fixa que faz o hedge do câmbio da Pimco. Cada fundo recebeu um aporte de aproximadamente R$ 5 milhões. “A correlação entre os três gestores é muito baixa”, pondera Uesato.
Já a fundação Real Grandeza, que ainda não começou a internacionalização de sua carteira, está promovendo estudos internos para definir como será sua atuação no segmento. “Estamos elaborando um manual de seleção, avaliando quais serão os parâmetros que iremos utilizar para selecionar os fundos no exterior”, afirma Patrícia Queiroz, gerente de investimentos da Real Grandeza. “Temos visto o mercado bastante pró-ativo no sentido de discutir a questão do investimento no exterior, e estamos aproveitando isso para embasar nossos estudos internos”. Por se tratar de um investimento novo da Real Grandeza, após aprontar o manual ele será levado para apreciação do comitê de investimentos e também do conselho deliberativo.