Muito além da carne | Equipe de peso formada por Henrique Meirell...

Katia Moroni, do Banco OriginalNúmeros do Banco OriginalEdição 251

As imagens de frigoríficos, produtos derivados de leite e outros produtos alimentícios exibidas no painel do hall de entrada do Banco Original, localizado em um predinho de dois andares do bairro paulistano de Alto de Pinheiros, surpreendem o visitante desavisado. Montado pela holding da JBS, empresa líder mundial na produção de proteína animal que é comandada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, o Original funciona no mesmo prédio da holding. Mas dentro dele, para mostrar que veio para ser mais do que uma instituição destinada a servir como ponte para as operações do grupo, está o seu principal estrategista, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Meirelles chegou ao grupo no início de 2012, para comandar o conselho consultivo da J&F e também um plano de expansão do Original. A estratégia foi montada e agora o banco começa a se apresentar ao mercado de institucionais. “Estamos apresentando o banco ao mercado e preparando as bases para um salto nos próximos cinco anos”, diz Kátia Moroni, diretora de tesouraria e captação do Original.
Quem acha que o banco será um mero coadjuvante da J&F, engana-se. Essa ideia ainda é forte, reforçada pela atuação que o antigo Banco JBS tinha no setor agropecuário. Mas o banco cresceu, comprou o Matone em 2011, e a partir de 2012 passou a adotar o nome de Original. Até a mistura da sede da holding com a direção do banco pode também reforçar a ideia que o banco tem um papel menor dentro do grupo. Mas isso também deve mudar em breve, quando a direção da holding for transferida para uma nova sede. A partir de então, o prédio do Alto de Pinheiros será ocupado na totalidade pela equipe do Original.
Meirelles tem uma sala no prédio e costuma usá-la quase que diariamente. O ex-presidente do BC no governo Lula não ocupa formalmente um cargo executivo no grupo J&F. Porém, sua presença no dia a dia da holding e do banco indicam que ele está participando ativamente dos negócios das diversas empresas do grupo – Vigor (derivados de leite), Eldorado (celulose), Flora (cosméticos e limpeza), além de outras empresas do setor agropecuário. A mão e a estratégia de Meirelles é mais nítida na formação da equipe do Original, que já ganhou o apelido de mini-BankBoston.
É que a maior parte da direção do Original é formada por ex-executivos do BankBoston, a começar pela presidente Sandra Boteguim. Com quase 40 anos de experiência no mercado financeiro, a executiva participou da incorporação do BankBoston pelo seu comprador, o Itaú, a partir de 2006. Sandra ainda teve papel importante em outro grande processo de reestruturação do Itaú por ocasião da fusão com o Unibanco. Ela atendeu ao chamado de Meirelles e deixou o Itaú-Unibanco para assumir o comando do novo banco a partir do início de 2013.
Em seguida, chegaram outros executivos do Itaú-Unibanco, como Olívio Mori, que assumiu a diretoria comercial, e Jackson Gomes, novo diretor de risco. Este último é um dos poucos diretores da instituição que não tiveram atuação no BankBoston. Outros três diretores, Alfredo Leite (Tecnologia da Informação), Carlos Oliveira (Operações) e Marcelo Santos (Recursos Humanos), todos foram executivos do BankBoston na época de Meirelles.
Outro nome de peso que deve chegar ao novo banco é Natalísio Almeida Júnior, que vinha ocupando o cargo de diretor do Itaú-Unibanco para a América Latina. O nome do executivo ainda carece de aprovação no conselho da J&F, mas sua chegada é dada como praticamente certa. Ele era um dos vice-presidentes do BankBoston na gestão de Meirelles.

 

Captação com institucionais – Para comandar a tesouraria e a área de captação foi chamada Kátia Moroni, que estava no Indusval, mas que também atuou no BankBoston. A executiva explica que o banco tem um plano de crescimento na área de crédito corporativo voltado para empresas de médio porte. Hoje o Original já possui uma carteira de crédito de aproximadamente R$ 800 milhões e pretende chegar a algo perto de R$ 8 bilhões nos próximos cinco anos. “Por enquanto ainda temos bastante caixa para avançar com a carteira de crédito, mas em algum momento teremos que reforçar a captação de recursos junto ao mercado”, diz a diretora.
O patrimônio atual do banco gira em torno de R$ 2 bilhões. O índice de Basileia encosta em 50 pontos, o que é considerado bastante alto para a média das instituições financeiras de médio porte. “Somos um banco de médio porte diferenciado. Queremos crescer no mercado de crédito, mas não a qualquer custo”, afirma Kátia. A atuação do banco prioriza o crédito a empresas de faturamento anual acima de R$ 300 milhões. O alvo são as empresas com bom fluxo de caixa e de pagamentos.
A previsão é que o banco comece a captar mais fortemente com os institucionais dentro de 3 ou 4 meses. O plano inclui a emissão de CDBs, Letras Financeiras e debêntures para começar a captar funding para as carteiras. “Estamos pensando em uma curva de crescimento nos próximos cinco a oito anos. O ritmo de crescimento vai depender muito da evolução da economia”, diz Kátia. A diretora explica que a prioridade até o final de 2013 é apresentar o banco para o mercado de institucionais. Para isso, foi formada recentemente uma equipe de captação de recursos.
A diretora ainda evita falar sobre os patamares das taxas dos ativos para captação com os institucionais, mas adianta que o banco não deve atuar com muita agressividade. “Não dá pra imaginar taxas para cobrir as metas atuariais. Mas acredito que possamos oferecer ativos com taxas atraentes e principalmente com menos risco”, afirma Kátia. Ela acredita que os investidores devem reconhecer, com o tempo, a solidez do banco e do grupo ao qual pertence. Ela acredita ainda que os ativos terão atratividade para os institucionais devido à tendência de alongamento dos prazos que se verifica com este tipo de cliente.

 

Equipe captação – Dois profissionais experientes e conhecidos do mercado de institucionais foram contratados para a função. Sérgio Angelim (ex-Lloyds e ex-Itaú) fica sediado em São Paulo, enquanto Walter Pestana (ex-Panamericano e ex-Indusval), fica no Rio de Janeiro. Os dois chegaram ao banco no mês de junho passado e respondem para o coordenador de captação, o superintendente Guilherme Ranzani. Ele chegou ao banco em março passado, junto com Kátia Moroni.
A equipe está visitando as principais assets e bancos do mercado. Os fundos de pensão também estão na lista de apresentações que os executivos estão realizando pessoalmente. “Estamos indo com calma, um por um, para nos apresentar. Tem muita gente que ainda não ouviu falar no Original, mas logo que falamos do Meirelles e da equipe, as referências são imediatas”, diz Sérgio Angelim.
Profissional experiente, Angelim sempre atuou junto aos investidores institucionais, desde que passou pelo antigo Lloyds. Antes de chegar ao Original, estava no Banco Pine, também no relacionamento com os fundos de pensão e assets. Ao receber o convite de Kátia Moroni, com quem já trabalhou há vários anos no Multiplic, aceitou na hora. “A equipe é de altíssimo nível e o ambiente é favorável”, diz.