Itajuba, agora em voo solo | Distribuidora separa sua operação da...

Edição 354

Uma das primeiras distribuidoras de fundos de investimento voltada ao público institucional, a Itajubá Investimentos passa a concentrar seus esforços neste ano em parcerias com gestoras de fundos dedicados ao mercado local, decisão tomada após uma reestruturação societária que culminou com a separação das operações da Gama Investimentos e da HMC Capital, que continuam dedicadas à oferta de fundos internacionais.
Segundo o sócio fundador da Itajubá, Carlos Garcia, o encerramento da parceria com a Gama se deu de comum acordo entre os principais sócios, que ao longo do ano passado optaram pela segregação dos negócios dedicados ao mercado brasileiro e ao mercado global. “Os quatro sócios que cuidavam da parte internacional deixaram a Itajubá e mantiveram esse foco nas duas marcas que ficaram com eles. Foi uma boa solução para todo mundo”, afirma Garcia.
Os sócios que cuidavam dos negócios offshore e foram para a operação segregada da Gama e da HMC Capital são Bernardo Queima, Leonardo Camozzato, Agnaldo Andrade e Guilherme Souza. Permaneceram na Itajubá, além de Garcia, Pedro de Biase, Rodrigo Soggia, Filipe Carneiro e Mizael Machado. “Vimos que tínhamos na sociedade algumas visões diferentes entre os sócios das áreas local e internacional, o que é natural depois de 15 anos trabalhando juntos”, acrescenta o Garcia.
Pelo acordo firmado entre as partes, a Itajubá não está impedida de distribuir produtos de novos gestores globais, desde que diferentes dos que ficaram com os ex-sócios, assim como eles podem ofertar livremente fundos voltados ao mercado local. Mas segundo Garcia, a Itajubá não tem pressa de voltar a ofertar novos fundos globais, até por conta da baixa demanda que percebe dos investidores por essa classe, na esteira dos resultados negativos do ano passado. Segundo ele, o foco no momento está em identificar e prover os institucionais com as principais alternativas de investimento do mercado brasileiro.
Hoje a Itajubá tem parcerias de exclusividade com 12 gestoras para distribuição no meio institucional: Vista Capital, Ibiuna Investimentos, Absolute Investimentos, RPS Capital, Giant Steps, Bocaina, Brasil Capital, VELT Partners, Núcleo Capital, HIX, CSHG e Spectra. Em termos de estratégias, isso inclui fundos multimercados macro, long biased, long & short e sistemático, ações long only com proposta de valor e foco em small, mid e large caps, crédito high grade e de infraestrutura, private equity e fundos de fundos.
Criada no final de 2007 e lançada no 28º Congresso da Abrapp, realizado em Belo Horizonte, a Itajubá já distribuiu desde então cerca de R$ 40 bilhões e a meta é chegar aos R$ 80 bilhões em cinco anos. “2022 foi um ano muito difícil, a indústria de fundos teve quase R$ 163 bilhões em resgates, mas a postura do institucional é mais resiliente, ele tende a ter um processo mais longo de decisão, mais bem estabelecido internamente”, diz Garcia. Segundo ele, apesar do desempenho negativo da indústria como um todo, a Itajubá fechou 2022 com captação positiva de R$ 2 bilhões. “Em 15 anos, nunca tivemos um ano de captação negativa.”
Garcia conta que, para identificar as demandas dos 300 fundos de pensão, além de mais 100 family offices e 20 seguradoras, com os quais mantém relacionamento, conduz anualmente uma extensa pesquisa por questionário que lhe permite identificar as necessidades desses clientes. Com isso, já sabendo o que cada um planeja dentro de sua política de investimento, é capaz de levar-lhes uma oferta certeira de produtos financeiros.
Ele diz que no cenário atual tem notado uma procura maior das fundações pelos fundos multimercados, que conseguiram se aproveitar bem dos processos de aumento das taxas de juros no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, além de tirar proveito das quedas generalizadas das Bolsas com posições “vendidas”, que ganham em momentos de desvalorização das ações. “Além de agregar retorno, os multimercados contribuem para reduzir a volatilidade das carteiras, e vejo a tendência de maior busca por essas estratégias continuando em 2023.”
Afirma ainda que, após as saídas líquidas de R$ 70 bilhões dos fundos de ações em 2022, não enxerga uma redução maior das alocações das fundações em renda variável daqui para a frente, até pela exposição já bastante reduzida ao segmento – dados mais recentes da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar) apontam para uma alocação média de 13,8% da indústria em renda variável em outubro de 2022. O que tende a ocorrer, acrescenta ele, são trocas de gestores de ações, com fundações eventualmente insatisfeitas com determinados fundos fazendo seleções para iniciar novos mandatos.
Ainda entre as demandas que têm sentido dos fundos de pensão, o sócio da Itajubá diz estar positivamente surpreendido pela procura que voltou a surgir mais recentemente relacionada a fundos de private equity, em especial aqueles que investem em projetos de energia renovável.

Na nova configuração, a Itajubá planeja expandir sua atuação também para a área de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) , passando a atender também os cerca de 2 mil institutos que, segundo o executivo, estão cada vez mais profissionalizados e com demandas por produtos mais sofisticados para atender às suas necessidades.
Além da operação dedicada à distribuição de fundos, Garcia também enxerga perspectivas positivas para as demais verticais que fazem parte do grupo. É o caso da Itajubá Capital Advisors, que atua como uma espécie de consultoria especializada, com mandato para fechar negócios de fusões e aquisições, captações via emissões de dívida e “deals” variados, podendo funcionar também como uma porta de saída para investidores que querem se desfazer de uma posição ilíquida, como um fundo de private equity, por exemplo.
O grupo conta ainda com a Itajubá Administração Previdenciária (IAP), que faz a gestão de passivo dos fundos de pensão multipatrocinados, numa operação que soma cerca de R$ 6 bilhões de 42 planos e 70 mil segurados. A IAP era uma operação do Itaú, comprada pela Itajubá ao final de 2021, e como as duas empresas iniciam pela letra “i” a sigla pode manter-se inalterada após a aquisição.
Essa operação, segundo Garcia, deve ter um acréscimo em torno de R$ 2,5 bilhões nos próximos meses, com a consolidação da posição de novos planos que optaram pela migração para multipatrocinados mas cujas transferências ainda precisam ser oficialmente aprovadas pelos órgãos reguladores.
O executivo afirma que a maior parte das migrações vêm de fundos de pequeno porte, com volume sob gestão abaixo dos R$ 500 milhões, e que fazem a transferência para planos de maior escala em busca de ganhos de eficiência, com redução das despesas. A meta da Itajubá para o braço de fundos multipatrocinados é alcançar a marca de R$ 50 bilhões sob gestão em cinco anos.
Por fim, também compõem o grupo a corretora de seguros Apoena, que oferece seguros relacionados à morte e invalidez, bem como o seguro de D&O (Directors & Officers, na sigla em inglês), que visa a proteção do patrimônio de altos executivos contra processos por conta de decisões de gestão que venham a ser tomadas à frente dos cargos que ocupam.

Opção por parcerias globais, mas locais também estão no radar
Na Gama e na HMC Capital, o foco dos sócios é expandir a grade de fundos internacionais, assim como montar uma prateleira de fundos dedicados ao mercado local em estratégias de renda fixa, renda variável e multimercados. Pelo acordo, a Gama, que tem Bernardo Queima como CEO, passa a ser uma controlada da HMC Capital do Brasil, que detém uma participação de 90% na empresa e é comandada por Leonardo Camozzato.
Juntos, Queima, Camazzato e Agnaldo Andrade detinham uma participação acima de 50% da Itajubá antes do processo de segregação dos negócios. Segundo Bernardo Queima, o motivo da opção por seguir caminhos diferentes decorreu de visões divergentes em relação a como continuar desenvolvendo o negócio nos próximos anos.
Enquanto os sócios da Gama e da HMC Capital têm o objetivo de buscar uma integração maior com o mercado latino-americano, em especial Chile, México, Colômbia e Peru, os que permaneceram na Itajubá tinham uma visão mais voltada ao mercado brasileiro, diz Queima. “Depois de 15 anos juntos, é natural começar a divergir sobre o futuro e seguir caminhos distintos”, afirma.
“As divergências estão mais no campo do como fazer, e não do que fazer. No nosso caso, temos uma visão mais de internacionalizar, de ter musculatura em outros mercados” acrescenta Camozzato.
O CEO da HMC Capital afirma ainda que a intenção é, dentro de um prazo de três a seis meses, fazer os primeiros anúncios das parcerias que a empresa irá estabelecer, provavelmente com cinco a sete gestoras de fundos que operam nos mercados brasileiros de ações, renda fixa, crédito, multimercados, fundos imobiliários e fundos de fundos.
No acordo firmado na segregação com os sócios da Itajubá, a Gama e a HMC também ficaram com os fundos de investimento em participação (FIPs) florestais da Copa Investimentos.
Expandir a grade de fundos dedicados ao mercado global, acrescenta Queima, também está nos planos da Gama e da HMC, que têm hoje entre os principais fundos internacionais gestoras de renome como Bridgewater, Man Group, Oaktree e KKR. O CEO da Gama diz que o cenário de aumento dos juros nos Estados Unidos e na Europa tende a favorecer a busca dos investidores por estratégias globais na renda fixa e pelos fundos multimercados. “Hoje é possível encontrar títulos de renda fixa lá fora pagando 8%, 9%, até 10% em dólar”, diz Queima.
Nos dois primeiros meses deste ano, a Gama e a HMC Capital captaram um volume aproximado de US$ 500 milhões, com a meta de alcançar um montante ao redor de US$ 2,3 bilhões neste ano. “Estamos no caminho de nos consolidar como um hub independente de feeders internacionais, seja com produtos originados pela HMC e pela Gama, como por meio de outras parcerias de grandes bancos e plataformas”, afirma Queima.