Gestores esperam colapso do euro

Edição 233

Investidores institucionais trabalham com hipóteses e cenários reais de ruptura parcial ou total da zona do euro

Gestores de recursos estão se preparando para o que era impensável há alguns anos: a fragmentação da zona do euro. As instituições financeiras estão considerando a hipótese, que deixa de ser apenas teórica, de que o mercado europeu seja desmontado total ou parcialmente.
Além de medidas já tomadas para diminuir os riscos de investimentos nos países europeus, os gestores estão avaliando qual o impacto de tal ruptura em seus negócios como um todo. “Eu não tenho certeza se as pessoas estão antecipando uma ruptura total ou mesmo parcial, mas há o reconhecimento de que isso não é mais uma questão teórica”, admite Martin W. Cornish, sócio do escritório de advocacia K & L Gates, de Londres.
De fato, uma dissolução completa dos 17 países da zona do euro seria catastrófica para os mercados ao redor do mundo. “Isso significaria, basicamente, que nossa margem de lucro seria eliminada”, aponta Amin Rajan, diretor do Centro de Pesquisa em Empresas e Tecnologia na Europa, conhecido como Create Research, da Inglaterra. O executivo prevê que os gestores precisariam realizar demissões massivas de pessoal se quiserem sobreviver ao colapso.
A dissolução da zona do euro é “uma questão que todo mundo está levando em consideração”, de acordo com Manuel Arrive, diretor sênior da Fitch Ratings em Londres. No entanto, “em termos práticos, não há muito o que fazer, porque existem inúmeros cenários possíveis, e a maioria depende de decisões políticas”, acrescenta ele.
Uma possível ruptura da zona do euro está na mente dos investidores institucionais há cerca de um ano. Pelo menos dois gestores, um da Schroder Investment Management e outro da State Street Global Advisors (SsgA), montaram comitês para mensurar os riscos da cisão da zona do euro. O comitê de risco da Schroder tornou-se uma comissão permanente que vem se reunindo regularmente nos últimos meses, independente “se há um tema específico ou não”, revela Alan Brown, diretor da gestora em Londres.
Como consequência das discussões do comitê, a Schroder iniciou uma revisão completa de seus contratos em euro para avaliar o impacto de um movimento de retorno ao sistema de moedas nacionais para os países europeus. “Vai virar um campo minado legal se tivermos a reintrodução das moedas nacionais”, alerta ele.
A SSgA é outro gestor que criou uma força-tarefa para analisar os riscos da zona do euro a partir de novembro passado, informa Niall O’Leary, vice-presidente e chefe de engenharia de produto na Europa, Oriente Médio e África da SSgA. “Estamos tentando nos comportar de forma responsável e nos preparando para muito rapidamente resolver os problemas de maior impacto”, diz O’Leary.
Por outro lado, os gestores também trabalham com a hipótese contrária, de continuidade da zona do euro. Em meados de dezembro, os líderes europeus pareciam empenhados em criar condições para o avanço de uma união fiscal mais sólida. Mas especialistas dizem que ainda se está longe da realização de um acordo feito, e as propostas podem ser insuficientes para resolver a crise.
Em uma recente pesquisa da Allianz Global Investors com 140 executivos de fundos de pensão e outros investidores institucionais da Europa (que respondem pela gestão de 909 bilhões de euros em ativos), 20% disseram esperar que o euro não vá sobreviver na sua forma atual. Questionados sobre qual a mudança mais provável que o euro sofreria, um em cada quatro disse projetar uma divisão, enquanto apenas um em cada 10 disse contar com a unificação fiscal europeia.

Fortes impactos – Se a zona do euro entrar em colapso, não se sabe exatamente quais serão os impactos, mas há um certo consenso de que não serão amenos. “As redes de segurança e contenção de riscos não serão suficientes para resguardar todos os gestores de recursos”, aponta Rajan, do Create Research. Como em qualquer crise, “todos estarão lutando na mesma direção para a saída, mas neste momento ninguém saberá qual é a porta”, segundo ele. Rajan afirma que o tema da ruptura da zona do euro foi a principal preocupação dos gestores em uma pesquisa realizada em outubro passado. O levantamento foi feito com cerca de 40 executivos que trabalham com gestão de ativos, e faz parte de um estudo mais amplo sobre os altos níveis de volatilidade do mercado europeu.
“Do ponto de vista do cliente, um rompimento da zona do euro traria consequências profundas”, reforça Andrew Dyson, vice-presidente e chefe de distribuição global da Affiliated Managers Group Inc., em Londres. “É difícil imaginar qualquer mercado de investimento que não seria afetado por ela”, completa.