Fundos na berlinda | Propostas de prorrogação do prazo dos fundos...

Edição 269

 

Os fundos de ações de governança, que apostam no crescimento das empresas em períodos longos, geralmente entre 5 a 8 anos, estão enfrentando uma prova de fogo. O Expertise I e o Sinergia 4, que são os dois principais produtos do mercado institucional, estão num processo de consultas aos cotistas para decidir se liquidam as posições mesmo numa conjuntura desfavorável, com prejuízos aos cotistas, ou prorrogam os seus prazos originais de encerramento esperando tempos melhores.
Com patrimônio de R$ 505,09 milhões, o Sulamérica Expertise I, que tem duração de 5 anos a se encerrar em fevereiro de 2016, pretendia votar uma prorrogação de mais dois anos numa assembleia de cotistas marcada para o dia 10 de abril, mas acabou adiando a realização do evento para nova data a ser definida. Já o Fator Sinergia 4, que tem patrimônio avaliado em R$ 481,22 milhões e cujo prazo de encerramento é julho de 2015, informou através de nota que nenhuma decisão de prorrogação havia sido tomada ainda e que discussões sobre estratégias, decisões de investimento e de desinvestimento e prazos são feitas diretamente com os investidores e cotistas.
A Fator Administração de Recursos, gestora do Sinergia 4, não informou se já há data de assembléia marcada para deliberar sobre o assunto, mas no encontro anual dos fundos Sinergia 4 e 5, realizado no início de abril em São Paulo, o assunto chegou a ser levantado por cotistas do fundo preocupados com a performance desfavorável do Sinergia 4. No caso da Sulamérica Investimentos, o diretor de renda variável, Fernando Tendolini , diz que “estamos fazendo uma nova rodada de sugestões antes de marcar a nova data”.
Os dirigentes de fundos de pensão estão divididos sobre o tema. Alguns acreditam que é melhor adiar o encerramento para esperar pela recuperação das empresas investidas enquanto outros defendem que é melhor manter os prazos originais. Em todo caso, a situação já tem prejudicado o retorno e as estratégias nas carteiras de renda variável. “Estamos preocupados com a proposta de prorrogação, pois os fundos de governança já representam 44% de nossa carteira de ações. É uma concentração muito alta e tende a ficar pior no caso de prorrogação”, diz Eduardo Alves, diretor de investimentos da Previsc.
Com patrimônio de R$ 850 milhões, cerca de R$ 77 milhões da fundação estão alocados em renda variável. Deste montante, cerca de R$ 34 milhões estão aplicados nos fundos Sinergia 4 e Expertise I. “Tomamos a decisão de reduzir a renda variável, que caiu de 16% para 9% de nosso patrimônio. Nesse processo de redução, tivemos que resgatar dos fundos líquidos, alguns dos quais não queríamos resgatar. Não tivemos opção já que os fundos de governança não têm liquidez”, diz Alves.
Há sete meses como diretor de investimentos da fundação, o gestor demonstra insatisfação com a performance dos fundos fechados de ações. “Ficamos amarrados, é pior que casamento pois neste caso nem podemos pedir o divórcio”, diz o diretor. O caso fica mais sério quando se cogita a prorrogação do encerramento dos fundos. “Ainda não temos uma posição sobre a prorrogação, talvez seja até melhor adiar mesmo, mas dificilmente vamos entrar em fundos sem liquidez no futuro”, diz Alves.
Para Levi Nagano, gerente de investimentos da Previg, a prorrogação é negativa. “Sou contrário, deveriam manter o prazo original”, diz. Segundo ele, “os gestores deveriam prever uma saída alternativa em um cenário ruim como o que estamos enfrentando. Deveriam ter estratégias tanto para conjunturas boas quanto ruins”, opina. As aplicações da Previg nos três fundos de governança (Expertise I, II e Sinergia 4) somam R$ 9 milhões, que representam 30% de uma carteira de R$ 30 milhões. O patrimônio total da Previg é de R$ 911,17 milhões.
De acordo com Nagano, a fundação possui perfil de investimentos e os participantes estão optando por carteiras mais conservadoras. “Somos obrigados a resgatar de fundos líquidos. E o pior é que os fundos de governança estão com resultados muito negativos”, diz (ver tabela).

Favoráveis – Mas não são todas as fundações que são contrárias ao adiamento dos prazos de encerramento. “Somos favoráveis à prorrogação, o Expertise tem empresas boas na carteira com alto potencial de recuperação”, diz Antônio Lídio Tracz, gerente de investimentos da Fusan, que tem patrimônio de R$ 1,02 bilhão. Ele lembra que o fundo já teve um ano excepcional, em 2011, quando teve retorno de 62%. “O gestor tem feito um bom trabalho de seleção e de governança nas empresas. É a situação da economia doméstica que está afetando muito negativamente. Os estrangeiros deram uma debandada da bolsa e jogaram os preços lá embaixo”, analisa Tracz.
O gerente da Fusan acredita que será prejudicial manter o prazo original de encerramento do fundo para o início de 2016. “Acho razoável prorrogar por mais 2 anos, com algumas cláusulas de saída, caso a recuperação ocorra antes disso”, diz. Ele ressalta, porém, que dificilmente entraria novamente em um fundo sem liquidez. “Hoje seria mais difícil, mesmo porque estamos saindo da renda variável em geral”.
Outro fundo de pensão a favor da prorrogação é o Supre. “Somos a favor da prorrogação, mas desde que se comece a liquidar algumas das empresas”, diz Paulo de Souza, diretor presidente do Supre, fundo com patrimônio de R$ 186,89 milhões. A fundação tem participação no Expertise. O dirigente acredita que a situação do fundo deve começar a melhorar a partir do segundo semestre de 2015 e ao longo do próximo ano. Ele defende que dois anos é o prazo máximo de postergação.

Diálogo com fundações – Diante das dificuldades dos cenários, a equipe de investimentos da Sulamerica fez um road show pelo Brasil entre janeiro a março para falar com os cotistas dos fundos Expertise. “Os cotistas são soberanos, são eles que vão decidir em assembleia a prorrogação ou não do encerramento do fundo. Porém, nós temos que cumprir com nosso papel de gestor, apresentando perspectivas e propostas”, diz Tendolini.
Nas conversas com as fundações, a equipe da asset tem feito referência a outros momentos de crise, como em 1999, 2002 e 2008, quando as bolsas sofreram forte depreciação. Porém, em períodos imediatamente posteriores, tiveram forte recuperação. “Não podemos fazer futurologia, mas é normal que ocorra uma recuperação das bolsas em períodos de 12 a 18 meses após uma forte crise”, diz o diretor da Sulamerica. Ele explica que o retorno negativo dos fundos Expertise não tem a ver com os fundamentos da maioria das empresas investidas. “É um momento de mercado, que se encontra contaminado por variáveis macro, no qual os preços não refletem o que as empresas viveram nos últimos anos, várias com grande crescimento no faturamento”, explica.
De acordo com ele, o principal problema foi a saída dos estrangeiros nos últimos meses, por causa do risco da desvalorização cambial, que acabou se confirmando. Além disso, também os fundos abertos foram reduzindo a exposição em bolsa. “Tem um grande contingente de fundos abertos, sem o resguardo de um passivo qualificado como o nosso, que acaba prejudicando o mercado”, diz Tendolini.
Ele reforça que a decisão cabe aos cotistas, mas como gestor, a Sulamerica está apresentando a proposta de prorrogação do fundo. “Se os cotistas decidirem pela manutenção do prazo original vamos nos esforçar para dar o melhor retorno possível”, diz ele explicando a seguir que cerca de 15% das ações já possuem maturação para uma saída imediata e outras 15% estão próximas da maturação. Outras 70% ainda dependem de uma melhoria substancial da bolsa doméstica.
O fundo Expertise I tem 60 cotistas, dos quais a maioria é formada por fundações. A votação na assembleia tem peso proporcional à quantidade de cotas de cada investidor. A questão será decidida por votação, que decidirá por maioria simples a prorrogação do prazo. A decisão é vinculante, ou seja, vale para todos os cotistas.
O Sinergia 4, com prazo de encerramento em julho de 2015, teria segundo informações não confirmadas cerca de 20% do patrimônio em caixa, que poderias ser devolvidos aos cotistas, mas o restante está aplicado em diversas empresas que estão com as ações depreciadas.