Começou um processo silencioso nas administradoras de fundos de investimentos para reduzir as taxas de administração cobradas de seus clientes de fundos de renda fixa. O motivo: adequar essas taxas à rentabilidade prometida aos investidores, que despencou junto com a queda da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 5% ao ano.
Foi nesta toada que a mineira Butiá Investimentos, fundada em 2015, informou aos seus clientes que o fundo Butiá Top CP FIC FIRF teve sua taxa de administração reduzida para 0,70% ao ano a partir de novembro (era 0,80% anteriormente).
Em comunicado divulgado ao seu público, a Butiá informou que a iniciativa “busca manter o retorno do fundo dentro do seu objetivo, entre 106% e 110% do CDI em 12 meses”.“Em nossa visão estratégica, acreditamos que seria mais adequado equalizar a taxa de administração com um cenário de queda da Selic, para que os investidores não perdessem no prêmio de risco em relação ao CDI (indexador)”, afirma Rodrigo Dias, presidente da Butiá Investimentos. Ele acredita, porém, que este movimento deve ficar circunscrito aos fundos de renda fixa. “Não tem sentido falar em taxas de administração menores, por exemplo, em fundos multimercados ou de ações, cujas naturezas são distintas”.
Indagado se a redução nas taxas de administração podem se transformar em uma tendência no mercado, Rodrigo Dias diz que a indústria de fundos deve continuar a observar o cenário macroeconômico do País, particularmente as reformas estruturais em curso no Congresso Nacional e o avanço da atividade econômica. “Acredito que as taxas de administração devem ser coerentes com o crescimento do País, pelo menos é o que fazemos aqui ao gerir um patrimônio de R$ 650 milhões em fundos de crédito privado, multimercado macro e fundo de ações”, afirma.
Mais adeptos – Outra que comunicou aos seus investidores que estava reduzindo as taxas de administração foi a Brasil Plural Asset Management. Ela enviou um comunicado aos seus clientes em novembro, dizendo que estava revisando para baixo a taxa de administração de alguns dos seus fundos, entre eles o Brasil Plural High Yield FIRF Cred Privado (de 0,35% para 0,25% ao ano), o Brasil Plural Yield FI Referenciado DI (de 0,25% para 0,15% ao ano), o Brasil Plural High Five Crédito Corporativo FIC FIRF CP LP (de 0,45% para 0,35% ao ano) e o Brasil Plural Crédito Corporativo II FIC FIRF CP LP (de 0,75% para 0,50% ao ano)
Rafael Zlot, sócio e gestor de renda fixa do Brasil Plural, explica que o movimento de redução das taxas de administração é inevitável. “Com a queda da taxa Selic o administrador tem que ajustar este mecanismo. Ou então terá que aumentar o risco de crédito da carteira que administra ou o prazo médio (duration) dos fundos, o que não é aconselhável”, explica. “O remédio é diminuir a taxa (de administração) para manter a rentabilidade ao cliente”, afirma.
Para Leonardo Magalhães, da área de Inteligência e Gestão de Riscos da Superintendêcia Nacional de Previdência Complementar (Previc), faz sentido o ajuste nas taxas de administração, inclusive nos 296 fundos de pensão monitorados pela entidade. “Os fundos de pensão fechados cobram atualmente em média 0,8% de taxa de administração, embora este valor possa cair pela metade nos grandes fundos por uma questão de escala”, afirma.
Pelas contas do analista sênior da consultoria Mercer, Tiago Calçada, uma taxa de administração acima de 1% ao ano com o atual nível da Selic é impraticável nos fundos de renda fixa. “A indústria vai ter que se adequar a este novo cenário, rever suas taxas para não perder clientes”. A alternativa para os investidores que não quiserem ver a rentabilidade corroída pela taxa de administração elevada nesses fundos, lembra Calçada, será correr mais risco e migrar para opções multimercados ou de ações, algo que já começa a acontecer.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos multimercados registraram maior captação líquida da indústria de fundos em 2019. De janeiro a outubro foram captados R$ 62,7 bilhões nesses fundos, um resultado 37,5% maior na comparação com mesmo período de 2018.
“Os números da indústria continuam respondendo aos cortes da taxa de juros. Com a expectativa de manutenção na Selic em patamares ainda menores até o final do ano, os investidores permanecem em busca de produtos com melhor perspectiva de retorno. Esse movimento trouxe destaque aos fundos multimercados e também de ações, que registraram o segundo melhor resultado no ano”, afirma Carlos André, vice-presidente da Anbima.