Frutos colhidos com a crise | Gestores preveem que o mercado de c...

Edição 288

 

O mercado de ativos estressados, também conhecido como Non-Performing Loans (NPLs), deve ser um segmento que estará bastante aquecido ao longo de 2017 segundo profissionais que atuam no setor, seja pela resolução de carteiras problemáticas já sob posse de gestoras especializadas em sua recuperação, ou pela originação de novas operações resultantes dos dois anos de recessão da economia brasileira. E os fundos de pensão também estão no radar das assets que atuam no nicho, interessadas na compra das carteiras inadimplentes das entidades fechadas de previdência.
Humberto Tubinambá, sócio do Brasil Plural, avalia que, pela recessão observada em 2015 e 2016, e pela perspectiva de uma retomada, ainda que tímida, da atividade econômica durante 2017, o ano que vem deve ser um período em que o mercado estará mais voltado para a resolução de problemas já conhecidos do que para a originação de novos casos. “A maior parte dos problemas já ocorreram. Talvez haja alguma coisa represada de alguns institutos de previdência dos servidores públicos que ainda não tomaram a iniciativa de mudar a gestão para trazer uma eficiência maior ao processo de cobrança, mas de modo geral os grandes fundos com problemas já estão devidamente mapeados e sendo trabalhados pelos gestores”, pondera Tupinambá.
O valor de face da carteira de créditos estressados sob gestão do Brasil Plural soma aproximadamente R$ 4,2 bilhões, de cerca de 70 fundos de pensão e institutos de previdência atendidos pelo banco. Tupinambá recorda que a atuação do banco no nicho contribuiu no fornecimento de informações à CPI dos fundos de pensão em Brasília, principalmente no caso envolvendo o FIDC Trendbank, hoje em processo de análise do poder judiciário para responsabilizar os culpados. O fundo Trendbank responde por 10% do total da carteira de créditos estressados do Brasil Plural, e o profissional tem a expectativa de que seja possível recuperar 100% do valor referente a esse veículo, mas ressalta que a decisão cabe agora à Justiça.

Novas originações – Já Rafael Fritsch, responsável pelos NPLs na Canvas Capital, acredita que em 2017 ainda teremos uma leva expressiva de novas originações de carteiras estressadas. Para ele, três variáveis devem gerar oportunidades aos gestores do mercado – a restrição dos bancos na concessão de crédito, que deve continuar no ano que vem; as taxas de juros praticadas tanto para o consumidor quanto para as empresas, que estão em patamares bastante elevados; e o desemprego, que “voltou doze anos em doze meses”, aponta Fritsch. “Nunca vi o mercado de crédito melhorar em um ambiente com menos crédito, e com juros e desemprego altos”, pondera o gestor da Canvas.
O segmento deve seguir bem aquecido em 2017, ressalta Fritsch, com uma diferença importante em relação aos anos anteriores, já que agora empresas de melhor qualidade também devem ter dificuldades. “Era mais difícil uma empresa quebrar em 2012 e 2013 do que em 2016 e 2017, diante do atual cenário macroeconômico”. Por outro lado, com empresas de melhor qualidade tendo dificuldades, a tendência é que a recuperação de créditos relacionadas a elas tenham maior chance de sucesso, ressalta o especialista.

Retomada – De olho nas oportunidades a serem aproveitadas no mercado de NPLs nos próximos meses, o BTG Pactual comprou em meados de novembro 70% de uma empresa de recuperação de créditos e ativos imobiliários estressados, a Ibagué Empreendimentos e Participações. O BTG Pactual havia reduzido sua atuação no segmento de NPLs durante o ano passado, quando vendeu a empresa de recuperação de ativos Recovery ao Itaú, em um período no qual buscava aumentar sua liquidez para suprir os resgates dos investidores após a prisão de seu então CEO, André Esteves. Agora o banco enxerga espaço para voltar a trabalhar no segmento.
Alexandre Câmara, sócio do BTG Pactual responsável pelas áreas de crédito high yield e finanças estruturadas, explica que, embora tenha vendido a Recovery, o banco manteve uma equipe com cerca de 45 profissionais que seguiram prospectando oportunidades no mercado de NPLs. A equipe remanescente do banco vai se juntar aos novos profissionais oriundos da Ibagué, que deve somar um quadro total com 70 pessoas. A nova área permanecerá separada das demais operações dentro do banco, e será rebatizada de Enforce.
Câmara prevê que, até 2018, a Enforce invista R$ 1 bilhão na compra de carteiras estressadas no mercado. Como o valor de face pago nas carteiras estressadas é um pequeno percentual do seu valor de face, o sócio do BTG Pactual prevê que as carteiras a serem adquiridas nos próximos meses devem somar de R$ 4 bilhões a R$ 30 bilhões de valor de face. Além do segmento de créditos corporativos, a área do BTG Pactual também vai atuar no segmento imobiliário, com ativos reais estressados, que é uma das expertises da empresa adquirida.
Além dos bancos e empresas que serão alvo dessa investida, os fundos de pensão com carteiras estressadas também são um cliente em potencial dessa área que está sendo remontada dentro da instituição financeira. “Entendo que o ambiente institucional é bastante premissor para esse negócio”, afirma Câmara. “O desafio é começar a mobilizar os grandes vendedores sobre as oportunidades de venda”, acrescenta o executivo, que recorda que no passado recente algumas grandes fundações já começaram a se movimentar para se desfazer de ativos problemáticos, como Postalis e Petros.

Recuperação de FIP que tem grandes fundos de pensão como cotistas

Além da atuação com carteiras estressadas de crédito, o Brasil Plural desenvolveu nos últimos anos um trabalho para recuperar FIPs de clientes institucionais que também apresentaram problemas. “Esse é um trabalho um pouco mais complexo, porque envolve a gestão de empresas, pois não se trata apenas de uma operação de cobrança”, explica Tupinambá. O especialista prefere não divulgar o volume sob gestão envolvido no caso. “Eram fundos que tinham um volume grande, mas que hoje tem um PL quase negativo”. Um dos FIPs que mais tem demandado esforço do banco atualmente para ser recuperado é o Global Equity Properties (GEP), do segmento imobiliário. Entre seus cotistas estão grandes fundações como Previ, Funcef, Fapes, Petros, Infraprev, Banesprev e Celos.
A Infraprev informa que, até 2014, o FIP tinha uma boa performance, e começou a apresentar dificuldades quando o mercado imobiliário foi afetado pela crise econômica. O Infraprev investiu R$ 56 milhões no FIP GEP, constituído por 29 empreendimentos, a maioria residencial, em uma aplicação que teve início em 2008. “O novo gestor, a Brasil Plural, e os cotistas trabalharam nos últimos meses para buscar soluções que equacionassem os problemas do FIP. Para não provocar mais perdas, o relatório final do novo gestor apontou a necessidade de adoção de um plano de ação ordenado para extinção do FIP, em até dois anos”, aponta a entidade em documento.
A Celos, outra cotista do FIP, em comunicado enviado aos beneficiários, diz que a redução do valor patrimonial líquido do fundo terá impacto relevante na rentabilidade de seus planos. A fundação, que detinha em junho 15% do patrimônio do FIP, explica também que no mês de agosto todos os cotistas foram chamados a realizar um aporte de capital no FIP GEP para honrar com suas obrigações e custear a execução das medidas administrativas e judiciais destinadas à recuperação deste investimento e o ressarcimento de perdas e danos contra os gestores e demais pessoas físicas e jurídicas responsáveis.