Edição 250
A escassez de opções na renda fixa e na renda variável nos primeiros meses do ano capazes de garantir a rentabilidade adequada para os fundos de pensão, levou muitos gestores a analisar os fundos multimercados. Por ser produtos com maior possibilidade de diversificação e arbitragem com juros, moedas, ações e até ativos no exterior, os multimercados receberam maior ingresso de recursos nos primeiros meses do ano. Os investidores institucionais, porém, enfrentaram outro problema ao procurar as melhores opções de fundos: muitos deles estavam fechados para captação ou em processo de fechamento.
Cerca de 15% do número de fundos multimercados classificados como “high vol” (macro de alta volatilidade) não estão abertos para novas aplicações. O número não é tão alto, porém, se for tomado o volume de patrimônio sob gestão de tais fundos, R$ 60 bilhões (até junho), representa aproximadamente metade dos recursos da categoria. Já na categoria long&short, os fundos fechados para captação acumulam patrimônio de R$ 12 bilhões sob gestão. “Houve aumento da procura a partir de meados do ano passado e foi intensificada nos primeiros meses de 2013”, diz o consultor especialista em fundos multimercados da Aditus, Leonardo Bortoloto.
O consultor explica que obviamente alguns dos fundos com melhor desempenho foram os que mais captaram nos últimos meses. Muitos deles optaram por fechar a captação para manter melhor controle da liquidez e preservar a performance positiva. “O fechamento para a captação depois de atingir um patrimônio elevado é uma atitude positiva do gestor, pois melhora o passivo do fundo e posterga os resgates”, diz Bortoloto. O consultor cita os nomes de alguns gestores como GAP Asset Management, Ibiúna Investimentos e JGP Gestão de Recursos, que tiveram alguns fundos fechados para captação.
Alguma assets de menor histórico, como SPX Capital e Pacífico Gestão de Recursos, apesar da forte captação nos últimos meses, ainda mantém produtos multi-estratégias abertos para a captação. Segundo o consultor da Aditus, são assets mais novas que estão chamando a atenção pelo bom desempenho dos fundos nos últimos meses.
Claro que ainda há muitas opções de diversas assets que continuam captando normalmente. O problema porém agora é outro. Com a nova abertura das taxas de juros dos títulos públicos e da renda fixa em geral e a fraca performance da bolsa brasileira, o segmento de multimercados tem sofrido mais para entregar resultados positivos a partir de junho. Do total de fundos com mais de R$ 100 milhões de patrimônio e mais de 100 cotistas, 45% registraram rentabilidade negativa em junho (82 fundos). Em maio foram apenas 45 fundos com perdas e, em abril, somente 24 ficaram negativos. No ano, o resultado ainda é predominantemente positivo, com 82 fundos acima do CDI.
A comparação com o CDI não é muito adequada, ainda mais para os fundos mais arriscados. Justamente os investidores entram em fundos mais ativos para superar o benchmark. Nesta linha, no ano destacam-se alguns fundos da SPX, Vinci Partners, BTG Pactual, Gávea Investimentos, Opportunity, BNY Mellon Arx e Brasil Plural, todos com rentabilidade acima de 7% (de janeiro a junho). Mas também há na outra ponta da tabela, alguns fundos que registram resultados negativos preocupantes. É o caso de alguns fundos da Advis Investimentos. Os fundos Enduro e Delta registraram rentabilidade negativa de 7,24% e 5,66% no primeiro semestre de 2013, respectivamente.
Novata – A Ibiúna Investimentos é considerada uma novata no mercado de assets. Fundada em 2010 por Mário Torós (ex-Santander e ex-Banco Central) e Rodrigo Azevedo (ex-Banco Central), a asset vem se destacando na captação no primeiro semestre de 2013 com um fundo de investimentos multimercado. O patrimônio sob gestão do Ibiúna Hedge saltou de R$ 1,26 bilhão em dezembro de 2012, para R$ 2,6 bilhões em maio de 2013. Com a duplicação do patrimônio, os gestores decidiram fechar a captação do fundo a partir de junho. “Fizemos um pit stop para preservar a boa performance pois crescemos muito nos últimos oito meses”, diz Caio Santos, sócio responsavel pela relação com investidores na Ibiúna.
Ele diz que o fechamento já estava previsto quando se atingisse o patamar de R$ 2,5 bilhões. Cerca de 10% dos recursos do fundo são provenientes de investimentos institucionais, mas a maior parte fica por conta dos family offices e clientes private (pessoa física de alta renda). “Estamos percebendo aumento da procura pelos institucionais”, diz Santos.
Outra asset que poderia ser considerada novata é a Pacífico, não fosse a experiência de sua equipe, a maior parte formada por ex-Opportunity, liderada por Carlos Eduardo Ramos. É uma equipe que já se conhece há mais de 16 anos, por isso, a empresa pode ser nova, mas não é o caso dos gestores e demais executivos. A asset foi fundada em 2011 e abriu os primeiros fundos para captação em setembro daquele ano.
Seu principal fundo multimercado, o Pacífico Hedge, registrou aumento do patrimônio de R$ 594 milhões em dezembro de 2012, para R$ 1,08 bilhão em junho de 2013. Apesar do aumento expressivo, o fundo continua aberto para captação. “Ainda não temos previsão para fechamento da captação, mas estamos atentos a isso. Se em algum momento acharmos necessário, podemos suspender a captação”, diz Carlos Eduardo. A asset tem procurado estreitar o relacionamento com os fundos de pensão e, para isso, contratou recentemente Maurício Gentil, que também teve longa passagem pelo Opportunity, onde era o responsável pelo relacionamento com os institucionais.
Maior interesse – Os fundos de GAP Asset Management também estão enfrentando a questão do fechamento para a captação. Um de seus fundos, o GAP Multiportifólio fechou em junho ao atingir o patrimônio sob gestão de R$ 600 milhões. Já outro fundo bem maior, o GAP Absoluto, está com R$ 1,9 bilhão e seus gestores estão analisando a possibilidade de fechamento. “Ainda continuamos captando, mas é provável que feche nos próximos meses”, diz Gabriel Ramos, gerente comercial da GAP.
O executivo explica que o fechamento ocorre com a objetivo de preservar a eficiência, pois acima de um determinado nível, começa a afetar o desempenho do fundo. Em todo caso, a asset continua com uma postura agressiva no segmento de fundos de pensão e demais institucionais. “A procura das fundações pelos multimercados e fundos de ações mais ativos vem aumentando desde o ano passado”, diz Gabriel Ramos. Ele ressalta porém que os bons produtos tendem a ficar mais escassos no mercado, devido ao fechamento dos fundos que apresentam forte crescimento devido aos bons desempenhos. Uma opção apresentada pelo executivo para contornar a dificuldade é a abertura de fundos exclusivos para as fundações.
Fundação Nucleos abre fundo multimercado exclusivo
A fundação Nucleos (Eletronuclear, Indústrias Nucleares do Brasil e Nuclebrás) está abrindo um novo fundo de investimentos da modalidade multimercado com recursos da ordem de R$ 55 milhões. A asset selecionada para realizar a gestão do fundo, que será exclusivo, foi a Vinci Partners. O veículo utilizado é o de um FIC (Fundo de Investimentos em Cotas) que deve selecionar outros seis fundos multimercados de diversas categorias.
Estão participando do processo de seleção dos fundos outras 12 assets. Alguns fundos já foram escolhidos de gestores como a Gávea Investimentos, Claritas e BNY Mellon Arx. A própria Vinci Partners deverá participar com um fundo próprio, com a limitação de até 20% do patrimônio do fundo exclusivo.
De acordo com o gerente de investimentos da fundação, Ruy Ferreira Costa, o uso desta modalidade de ativos foi definido a partir do último estudo de ALM (Asset Liability Management) feito pela entidade no ano passado.O estudo também resultou na recomendação do aumento da exposição em renda variável com mandatos do tipo de retorno absoluto e dividentos.
“Ficamos receosos com apostas que envolvessem dividendos por conta de recentes ações do governo relacionadas a companhias de energia e banco. No caso dos fundos de valor, ainda estamos estudando a opção para este ano”, afirma Costa. A Fundação Nucleos tem atualmente cerca de R$ 1,5 bilhão de patrimônio.