Executivos deixam a Gradual | Segundo um dos executivos que deixa...

Edição 303

 

A operação Encilhamento, que apura fraudes em fundos de investimento direcionados a Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), está desidratando o quadro de funcionários da Gradual Investimentos, uma das empresas investigadas pela Polícia Federal por suspeitas de participar de um esquema que teria resultado em prejuízos que ultrapassariam R$ 1,3 bilhão à institutos de previdência. Vários nomes de peso deixaram a corretora nas semanas seguintes à prisão de sua CEO, Fernanda de Lima, e de seu marido e sócio, Gabriel Gouvea, em abril último, como parte da operação deflagrada pela Polícia Federal.
Segundo o ex-head de investimentos da Gradual, Pedro Paulo Afonso, que trocou a corretora pela Mirae Asset no início de maio, entre 30% e 40% dos funcionários já teriam deixado a Gradual desde o início da Encilhamento. Além dele, também transferiram-se da Gradual para a Mirae o chefe de tecnologia, Jefferson Macedo, e os operadores Roberto Oslan e Wesley Lima, que devem iniciar os trabalhos na nova empresa até a próxima semana.
A Gradual perdeu também seu economista chefe, André Perfeito, que deixou a asset após dez anos de casa. Em meados de maio Perfeito anunciou sua ida para a Spinelli, onde assumiu o mesmo cargo que ocupava na Gradual. Para compor sua equipe, o executivo levou a analista Camila de Caso, que também era da Gradual. Além da Spinelli, as análises de Perfeito irão beneficiar também a corretora Concórdia, uma vez que as duas empresas estão em processo de unificação.
Em declaração à Investidor Institucional, Perfeito informou que entre suas atribuições estará a cobertura de renda variável, bolsa, ações recomendadas e carteira de dividendos.
Segundo Afonso, as notícias envolvendo a Gradual e seus sócios controladores minaram a confiança dos investidores na corretora. “Muitos investidores ficaram inseguros devido às notícias que saíram nos últimos tempos, e isso acabou dificultando um pouco na hora de fazer negócios”, disse Afonso ao explicar os motivos de sua saída da Gradual. “Muitos não querem mais continuar operando com a corretora”, disse. Segundo ele, que tem a expectativa de levar alguns clientes da Gradual para a Mirae, o processo de recuperação da imagem da corretora será muito difícil.

Títulos podres – A Operação Encilhamento, que resultou na detenção de Fernanda de Lima e Gabriel Gouvea, apontou que fraudes em 13 fundos de investimentos teriam sido responsáveis por prejuízos que ultrapassariam R$ 1,3 bilhão a institutos de previdência municipais (RPPS). Segundo a Polícia Federal, o esquema era articulado com alguns dirigentes de RPPSs que investiam, por meio desses fundos, em debêntures sem lastros. Emitidas por empresas de fachada, essas debêntures não seriam pagas quando vencesse o prazo de resgate, o que resultaria em prejuízos para os regimes próprios.
O relatório da operação aponta que Gabriel Gouvea era o dono da empresa ITS@ Integrated Tecnology, responsável pela emissão de debêntures ITSY11, onde recursos dos RPPSs eram investidos pelos fundos Gradual Firf, Oak Firf, Piatã e Multisetorial II, todos administrados pela Gradual. De acordo com o documento, o valor das emissões da debênture ITSY11 atingria R$ 30 milhões.
Quem fez a denúncia sobre os títulos sem lastro emitidos pela ITS@, ainda de acordo com o documento da Polícia Federal, foi a Incentivo Investimentos, gestora dos fundos Piatã e Multisetorial II. Segundo a PF, um documento de 29 de março de 2017 enviado ao Banco Central do Brasil informa que Gouvea e Wendel de Souza Silva, responsável pelo Departamento Jurídico da Gradual, “estariam intimidando e ameaçando fisicamente, inclusive de morte, os sócios da gestora Incentivo e, especialmente, seus advogados”.
Além dos donos da Gradual, Wendel de Souza Silva também chegou a ser preso pela Polícia Federal, mas foi liberado juntamente com Fernanda de Lima e Gabriel Gouveia após passar pouco mais de dez dias encarcerado. A liberdade foi concedida pelo Tribunal Regional de Justiça da 3ª Região, atendendo o pedido de habeas corpus impetrado pelos advogados de defesa.
A Gradual, procurada por esta reportagem para comentar a saída de seus executivos, não quis se pronunciar até o fechamento desta edição. Em ocasiões anteriores, sobre as acusações feitas pela Incentivo, a empresa havia se pronunciado no sentido de que estaria sendo vítima de acusações falsas.